quarta-feira, 31 de dezembro de 2008

Isso de outro fim... não temos. Fim é fim. Enfim, é assim.
Podemos é desejar que os anos felizes sejam uma mão cheia deles.
Isso sim, e para todos os amigos.

2009



A todos, onde quer que estejam, um ano 2009 pleno de coisas boas!

terça-feira, 30 de dezembro de 2008

vida, caminho sempre à frente

fffffff No peito das gaivotas pintaram a idade dos teus cabelos
fffffff e a luz dos teus olhos tem o verde disfarçado do mar
fffffff a vida, à frente, sempre segue, desenrolando novelos
fffffff e basta ter asas por dentro para continuar a voar.

segunda-feira, 29 de dezembro de 2008

Relatividade



Em 1971, Joseph Hafele e Richard Keating puseram relógios atómicos muito sofisticados a bordo de um voo num jacto comercial da Pan Am que deu a volta ao mundo. Quando compararam os relógios que voaram no avião com relógios idênticos que tinham sido deixados (estacionários) no solo, descobriram que tinha passado menos tempo nos relógios que se tinham movido. A diferença é minúscula – umas centenas de bilionésimos de segundo –, mas estava exactamente de acordo com as descobertas de Einstein.

Brian Green
O Tecido do Cosmos
Espaço, tempo e textura da realidade
Colecção Ciência Aberta
Gradiva

domingo, 28 de dezembro de 2008

sábado, 27 de dezembro de 2008

sexta-feira, 26 de dezembro de 2008

Harold Pinter



Harold Pinter nasceu em Londres a 10 de Outubro de 1930 e faleceu no passado dia 24 de Dezembro. Foi um dos grandes dramaturgos do século XX, para além de ter sido actor, director, poeta, roteirista, e certamente, um destacado e incómodo activista político britânico. Foi um dos grandes representantes do teatro do absurdo junto com Samuel Beckett e Eugène Ionesco.
Principais obras
Prosa
Kullus (1949)
The Dwarfs (1952-56)
Latest Reports from the Stock Exchange (1953)
The Black and White (1954-55)
The Examination (1955)
Tea Party (1963)
The Coast (1975)
Problem (1976)
Lola (1977)
Short Story (1995)
Girls (1995)
Sorry About This (1999)
God's District (1997)
Tess (2000)
Voices in the Tunnel (2001)
Poesia
War (2003)
Teatro
The room (1957)
The birthday party (1957)
The dumb waiter (1957)
The caretaker (1960)
A slight ache (1961)
The homecoming (1965)
Md Times (1971)
No Maris land (1975)
Fonte: wikipedia
A nossa homenagem

quinta-feira, 25 de dezembro de 2008

(a cantar, com ou sem galo, até 2009...)

nnnnnnnnnnnn Com sobras e acrescentos,
nnnnnnnnnnnn haja Natal a todos os momentos

nnnnnnn(rogando desculpa se o paladar não for postável)

terça-feira, 23 de dezembro de 2008

Crónica do Rei Pasmado



















O corpo de Marfisa tinha ficado meio a descoberto: deixava ver a cabeleira, as costas, a fina cintura, o arranque das nádegas. O Rei fitou-a. Com surpresa, com estupefacção.
- Viste coisa mais bela?
- Há muitas coisas belas no mundo.
- Mais do que o corpo de uma mulher?
- Se é o de Marfisa, dificilmente.
- Até ontem à noite, nunca tinha visto uma mulher nua.
- E então?
- O paraíso tem que ser uma coisa semelhante.
O conde torceu o nariz.
- Não creio que os senhores inquisidores aprovassem essa ideia.
- Que saberão os senhores inquisidores de mulheres nuas?
- Segundo eles, tudo.
O Rei já se encontrava meio vestido. O conde pediu a Lucrécia uma bacia com água fresca. O Rei começou a remexer na escarcela.


EDITORIAL CAMINHO
Gonzalo Torrente Ballester
Título original:
Crónica del Rey Pasmado

Tradução de António Gonçalves
(C) Gonzalo Torrente Ballester, 1989


Klaus Nomi - Total Eclipse (live)

Com um ligeiro atraso, para a amiga Isabel...

Vincent van Gogh



A 23 de Dezembro de 1888, Vincent corta um pedaço da sua orelha esquerda, que embrulha num lenço e leva, como presente, a uma prostituta sua amiga, chamada Rachel.

segunda-feira, 22 de dezembro de 2008

Quando um Homem quiser

Tu que dormes a noite na calçada de relento
Numa cama de chuva com lençóis feitos de vento
Tu que tens o Natal da solidão, do sofrimento
És meu irmão amigo
És meu irmão

E tu que dormes só no pesadelo do ciúme
Numa cama de raiva com lençóis feitos de lume
E sofres o Natal da solidão sem um queixume
És meu irmão amigo
És meu irmão

Natal é em Dezembro
Mas em Maio pode ser
Natal é em Setembro
É quando um homem quiser
Natal é quando nasce uma vida a amanhecer
Natal é sempre o fruto que há no ventre da Mulher

Tu que inventas ternura e brinquedos para dar
Tu que inventas bonecas e comboios de luar
E mentes ao teu filho por não os poderes comprar
És meu irmão amigo
És meu irmão

E tu que vês na montra a tua fome que eu não sei
Fatias de tristeza em cada alegre bolo rei
Pões um sabor amargo em cada doce que eu comprei
És meu irmão amigo
És meu irmão

Natal é em Dezembro
Mas em Maio pode ser
Natal é em Setembro
É quando um homem quiser
Natal é quando nasce uma vida a amanhecer
Natal é sempre o fruto que há no ventre da Mulher


José Carlos Ary dos Santos

sábado, 20 de dezembro de 2008

mar esquecido

Tinhas o rosto engalanado da fé
quando víamos horizonte e mar
Gaivotas volteavam traços, até
perderem voltas de desamarrar

Confirmávamos promessas antigas
ao desfazermos as perdidas brigas

O tempo parava no nosso olhar,
nem canções soavam no silêncio
no efeito da translação estancar,
mundo que não creio nem penso

O que se nos perdeu de eternidade
nesse espaço que nos traz ao hoje?
O que sabemos, se é da realidade,
tão pouco q' entre mãos nos foge?

(20.01.2008)

sexta-feira, 19 de dezembro de 2008

Perfume na escuridão

Que rasto se colou aos teus
passos sem caminho
que oiço a respiração da tua vinda
mas cego o gesto
que te abraçaria

Deixa que o perfume
dos sonhos meeiros
te adivinhem o rosto
esse que os tantos anos
terão amassado
e foram desistindo
em corromper:
tenho a divina certeza
que teu sorriso
mantém o mesmo olhar

(de papoila luminosa
onde guardava os tesouros
imaginados de menino)

segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

Via-a serenamente, a contar as horas que
faltavam para ele chegar.
Mas ele não chegou,
com o seu manto azul,
àquele pátio onde ela o esperava, todos os dias,
ano após ano,
com o rosário de sal das noivas eternas,
esquecido nas mãos.

Ela tinha tempo, era jovem,
e jovem o seu corpo e o seu coração.

A alma, porém,
navegara os oceanos,
perdera-se em cada porto,
em cada lenço de dizer adeus,
nos labirintos onde conheceu o esplendor das
navalhas,
o sangue que deixava o seu rasto num
umbral e numa esquina.
Era uma vida de açucenas desfeitas.
E ela ia e vinha, sonambulamente, apagando as
estrelas.

Tinha,
na boca entreaberta,
o travo amargo das laranjas doentes,
dos licores de ervas muito verdes que colhera na
infância dos países do mal.

Tinha medo.

Mas, serenamente,
continuava a contar as horas que faltavam
para ele chegar,
para que do seu manto azul se soltassem as
flores sem cor
que vivem na secreta transparência dos corais.

José Agostinho Baptista, Via-a Serenamente
Esta Voz É Quase O Vento

sábado, 13 de dezembro de 2008

Parabéns P. A.

Todos os dias se nasce, todos os dias se morre. No dia 13 de Dezembro, corria o ano de 1312, nasce Eduardo III, rei de Inglaterra; cerca de cento e cinquenta anos depois, em 1460, com a idade de 66 anos, morre o grande impulsionador da expansão marítima e criador da Escola Naútica de Sagres. No mesmo dia, mas em 1850, nasce o romancista Robert Stevenson; dezoito anos depois morre Rossini e em 1903, também em França, o pintor Camille Pissaro.
kkkkkkkkkkkkk
Ao caro amigo que no olhar não deixa que se acerte na idade, votos de longas letras, pinturas e vida.
lllllllllllllllllllll
Aos anos que nunca passam.

Antes que a morte te leve, Ó leva tu isto de volta (Dylan Thomas)


Uma operação indolor de quinze minutos e a vida voltava a parecer ilimitada. Eu era um homem que deixava de ser impotente perante uma coisa tão elementar como conseguir urinar para dentro de um pote. Ter o domínio da sua própria bexiga - que homem robusto e saudável pensa alguma vez na liberdade que isso dá ou na vulnerabilidade ansiosa que a sua perda pode impor mesmo ao mais confiante de todos? Eu, que nunca tinha pensado deste modo, que desde os doze anos de idade era cioso da minha individualidade e aceitava de bom grado tudo quanto em mim fosse invulgar - podia agora ser um homem igual aos outros.
hhhhhhhhhhhh
Tinha-me ido embora para fugir de uma ameaça autêntica, acabei por ficar longe para me libertar daquilo que deixara de me interessar e, como seria o sonho de qualquer pessoa, para me libertar das consequências persistentes dos erros de uma vida inteira (no meu caso, repetidos fracassos conjugais, adultério furtuito, o bumerangue emocional da obsessão erótica). Presumivelmente por agir em vez de me limitar a sonhar, tinha acabado por me libertar também de mim próprio.
fffffffffff
«Não ia adiantar», disse-lhe eu.
«O senhor tem mais experiência do que eu: o que é que adianta?»
«A solução dos senis: esquecer.»
«O senhor não é senil», disse kliman.
«Mas esqueci.»
gggggggggg
Mas a morte de George Plimpton não foi humorística nem invulgar. E também não foi nenhuma fantasia. Não morreu envergando o equipamento às riscas no Yankee Stadium mas sim em pijama durante o sono. Morreu como todos nós morremos: como um perfeito amador.
hhhhhhhhhhh
Ele: Você está a atravessar a linha de sombra do Conrad, primeiro da infância para a maturidade, depois da maturidade para outra coisa.
Ela: Para a insanidade. Estou aí daqui a pouco.
gggggggggg
Philip Roth, Exit, O fantasma sai de cena, Dom Quixote

A linha divisória


De facto, quando meditamos na significação do nosso próprio passado temos a impressão que ele enche o mundo inteiro em profundidade e em grandeza...

Só os jovens passam por momentos assim (...)

É neste período da vida que os momentos de que tenho estado a falar têm probabilidades maiores de acontecerem. Mas que momentos? Bem, momentos de tédio, de cansaço, de descontentamento. momentos de precipitação. Quer dizer momentos em que o jovem tende ainda, por força da sua natureza, a praticar actos irreflectidos, como casar de um instante para o outro ou abandonar descuidadamente um lugar que ocupava sem ter motivo algum para o fazer.

Aqui não se trata da história de um casamento. Comigo o caso não foi tão mau. A minha acção precipitada tal como se deu teve mais o aspecto de um divórcio... - quase de um abandono do domicílio conjugal. Sem razão alguma, susceptível de ser detectada por qualquer pessoa minimamente sensata, seixei o meu emprego - lancei borda fora o meu lugar no barco - desembarquei do navio, do qual a maior razão de queixa que eu podia ter seria apenas a de verificar que se tratava de um barco a vapor e que, por consequência, talvez fosse indigno da minha cega fidelidade ... Mas para nada serve tentar dar brilho àquilo que, mesmo nessa altura, bem suspeitei que não passaria de um capricho.

Joseph Conrad, Linha de Sombra, Relógio D'Água

quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Puro Vintage VI


A certa altura do ano, depois do regresso à escola e dos magustos, quando o frio já começava a apertar e a chuva era uma presença constante, Alexandre sabia que estava para breve um tempo mágico. Guiado pela mão da sua Mãe, que frequentemente acompanhava nas compras para a casa, entrava no supermercado de sempre e a mudança estava dada. Logo ali, nas primeiras prateleiras da entrada, expostos em série, os brinquedos acabados de chegar davam um novo ar, muito mais apetecível e acolhedor, ao espaço de sempre.

Com um ar solene e contemplativo, Alexandre procurava devorar com os olhos tudo aquilo em que as suas mãos não podiam tocar. "Não se pode mexer", dizia a sua mãe, sob o olhar atento e aprovador da dona do estabelecimento, vigilante e preocupada com o eventual prejuízo causado por um petiz naturalmente encantado e inquieto com tanto brilho, tanta novidade, que desejava alcançar. Carros a pilhas, construções, soldadinhos de chumbo, aviões, robôs eram para ele como arcas de tesouro, encerrando em si inúmeras estórias de aventura que ia construindo em sonhos despertos. Nuns outros tantos caixotes, ainda por abrir, Alexandre sabia existirem ainda mais pequenas maravilhas destas.

Àquela altura, já tinha trocado algumas impressões com os seus colegas acerca do que pedir no Natal. Agora, essa mesma lista de desejos estava a ser reformulada. Por outro lado, também comparava mentalmente, com acutilante sentido crítico, tudo o que ali via com outros brinquedos, vistos na sua cidade natal, no shopping de uma grande rua, à noite, após sair de casa dos seus avós que lá viviam.

Por fim, chegaria sempre à conclusão de que, entre uns e outros, o importante era conservá-los bem estimados (sim, porque prezava muito a sua fama de coleccionador zeloso e importado), na gaveta que tinha no roupeiro do seu quarto.

Contudo, neste seu alvoroço interior havia sempre espaço para outros desejos, para já bem mais fáceis de satisfazer, sabendo que ainda era cedo para qualquer decisão dos seus pais (eram eles que falavam com o Menino Jesus, segundo a sua mãe), quanto às prendas que apareceriam na chaminé da cozinha ou até mesmo na da sala dos seus avós. Assim, acto contínuo, Alexandre virava-se para a sua mãe e dizia baixinho "Quero um pai-natal" ou "Quero um carro de chocolate". Depois de alguns protestos pedagógicos, que nunca o deixavam de envergonhar porque eram ditos um pouco alto demais, o seu pedido era satisfeito. Em gestos cuidadosos, ia desembrulhando o papel de prata estampado que cobria a figura oca e castanha. Numa dentada, aquele doce sabor quente deixava-o entusiasmado, contente e um pouco mais sôfrego para os pedaços seguintes. Com grande parcimónia, contrária à idade de infante que tinha, procurava não sujar as mãos conforme o chocolate se ia derretendo. "Não te sujes!" - a advertência que mais ouvia.

Mas este era o seu pequeno momento de prazer e ninguém o perturbaria. Ainda a olhar para os brinquedos, crescia nele a esperança de que algum deles, ainda que o mais pequeno, seria seu. Mas o que realmente interessava, algo lho dizia, era viver, respirar aquele tempo, aquela magia.
Chocolate comido, prata cuidadosamente metida no bolso, qual recordação daqueles instantes de genuíno e inocente entusiasmo, Alexandre encaminhava-se para o pé da sua mãe, que já o chamava, e lá ia para casa. Sentia-se Feliz.

Glossário Avulso

Palavra de hoje - Rabanada
o meu Oliveira preferido
(porque hoje é o século)

quarta-feira, 10 de dezembro de 2008

Natal dos Fumadores

No Café da terra...
Será que a ASAE não tem nada a dizer quanto à mensagem que pode estar a ser passada?

terça-feira, 9 de dezembro de 2008

Porto Santo

(...)
Eu queria uma ilha assim, onde tudo se resume à
evidência dos astros,
ao coração sereno.
A areia aquece as mãos abandonadas.
Prevejo o eclipse, o arco-íris e os teus passos.
Sei que vens, algures, pelas veredas onde o ouro
começa.

Não me procures tão perto das estacas do primeiro
cais.
Estou sempre encostado ao mar.
E as vagas que se erguem afastam levemente a minha
boca
e são como as lágrimas do teu amor.
Quem espreita atrás dos barcos?

As velas passam ao largo das tuas cidades.
Apagas-te devagar, fresca açucena desta saudade.
Inúteis são os búzios da minha loucura porque não
me ouves em outubro
quando a ilha não pertence ao mundo.
Em outubro pensei:
podia acabar aqui, encostado ao mar,
para que se saiba onde acabam os sonhos, onde moram
os assassinos,
onde, da vida já esquecido,
olho perdidamente à volta e sou a ave.
Sou a plumagem que arde. Sou a asa golpeada pelos
raios do teu furor
e não me peçam, não me peçam para cantar.
Na Fonte da Areia baixo a cabeça sobre o peito.
Fecho os olhos.
(...)

José Agostinho Baptista, Porto Santo
Canções Da Terra Distante

segunda-feira, 8 de dezembro de 2008

Alçada Baptista


A nossa singela homenagem…

COCTEAU TWINS - THROUGHOUT THE DARK MONTHS OF APRIL AND MAY

carpe diem

Dum loquimur, fugerit invida
Aetas: carpe diem, quam minime credula postero*
mmmmmmmmmmm
Horácio, o poeta nascido a 8 de Dezembro de 65 a. C. e considerado um dos maiores poetas do mundo romano. Morreu em 27 de Novembro de 8 a. C., tendo escrito uns anos antes - não sem razão - que «non omnis moriar» (não morrerei por completo).
lllllllllll
*Enquanto se fala, a idade foge
Goza este dia, não contes com o de amanhã

domingo, 7 de dezembro de 2008

Ainda dentro da estridente nebulosa


No céu, uma ave distraída. A frágil semente que encobriu a ignorância, outorgou-lhe a soberba da árvore, onde foi engravidada a primeira mulher que abraçou a tua delicada origem, e dela nasceste velho, com o monólogo que discute interminavelmente sobre o teu árido olhar.
Vem escutar o rumor do rio antes de começar a tua oração. Alguma vez o fizeste, e foi na noite em que te divorciaste da luz e da escuridão, e o sol era a pupila indestrutível dos que habitavam em círculos perfeitos o aroma da penumbra. Então, era a tua própria esperança, repleto de uma dor doce sobre as tuas palavras como a passagem da névoa perante a intranquilidade das naves. A tua serenidade avançava como um cordão frágil ao qual atavas o teu destino e a incerteza que te ptovocava o som da água ao tocar as margens da terra.
Todos morreram, pensaste, e o pranto surgiu de costas para a vida no tempo em qua ainda não se inventavam as cidades. Sobre o rio onde se criou a espiga, viste aquela barca que nunca chegou ao porto e da qual se ouvia a queda da terra. Não eras tu aquele que desejava descobrir o nome do Peixe, a sinceridade da Rocha? Ainda dentro da estridente nebulosa, o homem é a causa do homem. Aproxima-te das margens desse rio, e poderás tocar o desconhecimento do teu rosto.
kkkkkkkkkkkkk
Oliverio Macías Álvarez, Um Mundo Estranho
(tradução de José Agostinho Baptista, Assírio & Alvim)

Que a palavra continue, escrevendo-se

A tradução de Um Mundo Estranho, o primeiro livro de Oliverio Macías Álvarez (nascido no México em Janeiro de 1971) foi feita pelo poeta José Agostinho Baptista, que introduz o seu trabalho - e, naturalmente, a obra daquele - desta forma tão bela:
lllllllllllllllllllllllllllll
«Quis o destino - ainda creio que é essa a vaga e inacessível entidade o que conduz as nossa pobres vidas - que encontrasse Oliverio à esquina de uma noite nos bairros altos da solidão. Mas não podia imaginar, então, que muito secretamente, no fundo da sua alma nobre e mexicana, se escondiam páginas de uma comovida e delicada beleza que de vez em quando me faz reconciliar com a literatura. Traduzi esta inesperada dádiva que veio de tão longe para tão perto do pensamento e do coração, com todo o meu amor pelo Homem e pela Palavra.
Que esse homem e essa palavra continuem a caminhar generosamente pelo mundo, escrevendo-se.»

ter-te tão breve

vinha de longe e sem certeza de ficar. e
tu surgiste, ao tombar
de uma tarde escura e fria,
a inventares a companhia
ao meu lamento.
por um momento
(só um momento)
imaginei voltar a ver no tempo eternidade,
deixava fingir - e fugir - a idade
no esgar de te ver
tão leve.

de te ter
tão breve.

(15.12.2007)

Ainda pendurada, Coimbra a brincar com bola azul


Coimbra pendurada nos elécticos fios que mal a seguram




sábado, 6 de dezembro de 2008

Afonso, o 1.º



Nascido em Guimarães, talvez em Viseu, vem a morrer em Coimbra, após mais de cinquenta anos de reinado, no dia 6 de Dezembro de 1185. D. Afonso Henriques, fundador e 1.º rei de Portugal, era filho de D. Henrique de Borgonha e de D. Teresa, filha do imperador D. Afonso VI.

sexta-feira, 5 de dezembro de 2008

Espero, mesmo em Dezembro e à chuva


A chuva lavou das línguas as palavras quentes.
Dezembro é mês de melancolia e sem repentes.
Fica difícil soletrar-te sílabas coloridas.
A cor do sol encobre-se com a da terra.
Perdemos luz, mas ganhamos em vidas.
O nosso encanto é só um jogo de espera.

W. A. MOZART

Faltavam cinco minutos para a uma e, como agora mas há 217 anos, estava uma noite fria. Nos últimos meses tinha terminado algumas das suas mais grandiosas obras, como o Concerto para Clarinete, e a Flauta Mágica estreará amanhã. Caíra de cama no final do mês passado, mas continuou a trabalhar no que está mesmo a terminar, o magnífico Requiem. Cantaram-lhe parte dele junto à cama e ele, Wolfgang Amadeus, consciente do seu estado e do fim que se aproximava, terá dito: «Não lhes disse que estava a compor o Requiem para mim mesmo?»

quinta-feira, 4 de dezembro de 2008

Perseguição da beleza

«E a beleza não serve de nada. Atrapalha. Provoca desastres nas famílias, intoxica-nos até ao desmaio, não poupa nada. Devia ser proibida. É um escãndalo no meio do mundo. É a causa do espantoso medo que é perdê-la. Não escolhi ser quem sou, este vício de que sou escravo. O que mais importa ninguém escolhe.
Já tentei ser tantos para escapar de mim, para me desviar desta vida que me deram. e depois vem a beleza. Surpreendente ao virar de uma esquina. Um desejo marcado no ponto de encontro do aeroporto onde ficaremos para sempre abraçados. Envolta em nevoeiro a tomar duche à minha frente. A irromper do nada.
A primeira coisa que uma qualquer tirania sabe que tem a fazer é demolir a beleza. Com todo o dinheiro, de todas as maneiras.
A beleza semeia a desordem nas almas e nos corpos que anima.
Alimenta-se de uma liberdade particularmente virulenta.
É impertinente. Não conhece regras. Vive da vida e de mais nada.»
hhhhhhhhhhhhhhh
Pedro Paixão, O Mundo É Tudo o que Acontece
Foto: Pedro Paixão

Descrição Da Mentira

Que verdade existe no ventre das pombas?
A verdade está na língua ou no ventre dos espelhos?
A verdade é o que responde às perguntas dos príncipes?
Qual é então a resposta à pergunta dos oleiros?
jjjjjjjjjjjjjjjjjjjjj
Se levantares uma túnica encontrarás um corpo mas não uma pergunta:
para quê as palavras enxutas em cíngulos ou as construídas em esquinas imóveis,
as convertidas em lâminas e, em seguida, despojadas e ávidas?
llllllllllllllllllllllllll
Ou melhor: alguma vez fui cínico como asfalto ou pelame?
Não se trata disso, apenas que o asfalto possuía a minha memória e as minhas exclamações relatavam a perdição e a inimizade.
A nossa sorte é difícil reclusa na beladona e nos recipientes que não devem ser abertos.
Sujo, sujo é o mundo, porém respira. E tu entras no quarto como um animal resplandecente.
lllllllllllllllllllllllll
Depois do conhecimento e do esquecimento que paixão me concerne?
Não hei-de responder mas sim reunir-me com tudo o que está oferecido nos átrios e na distribuição dos resíduos,
com tudo o que treme e é amarelo debaixo da noite.
llllllllllllllllllllllll
Antonio Gamoneda, Descrição da Mentira
(Prémio Cervantes, 2006 - tradução Vasco Gato)
Foto da capa do livro (autoria Kenn Kiser)

terça-feira, 2 de dezembro de 2008

"refundação do sistema" financeiro

O Vaticano defende uma verdadeira "refundação do sistema" financeiro que implique o fim dos "paraísos fiscais". Num documento do Conselho Pontifício Justiça e Paz, aprovado pela Secretaria de Estado do Vaticano, aponta-se a existência dos "centros financeiros offshore" - os chamados paraísos fiscais - como uma das causas principais da crise financeira internacional. Citado pela Zenit, agência oficiosa do Vaticano, o longo documento diz que esses mercados "mantiveram uma trama de práticas económicas e financeiras" como "fugas de capitais de proporções gigantescas", fluxos "motivados por objectivos de evasão fiscal", práticas de facturação fraudulenta e reciclagem de "actividades ilegais". O texto, publicado a propósito de uma reunião da conferência de Doha sobre o desenvolvimento, que termina hoje, é muito crítico. Diz que a utilização dos paraísos fiscais produziu um efeito negativo duplo, beneficiando os rendimentos mais elevados, que podem escapar à tributação e ao controlo fiscal nos próprios países, e penalizando os mais baixos rendimentos - trabalhadores e pequenas empresas. Ao mesmo tempo, transferiram a tributação do capital para o trabalho.No documento, ainda de acordo com a mesma fonte, recorda-se que os centros offshore movimentam "cerca de 860 mil milhões de dólares por ano" (mais de 660 mil milhões de euros). Isto equivale a uma fuga fiscal de quase 255 mil milhões de dólares, mais do triplo do montante da ajuda pública ao desenvolvimento por parte dos países da OCDE.
Jornal Público

This Mortal Coil - Another Day