sábado, 13 de dezembro de 2008

Antes que a morte te leve, Ó leva tu isto de volta (Dylan Thomas)


Uma operação indolor de quinze minutos e a vida voltava a parecer ilimitada. Eu era um homem que deixava de ser impotente perante uma coisa tão elementar como conseguir urinar para dentro de um pote. Ter o domínio da sua própria bexiga - que homem robusto e saudável pensa alguma vez na liberdade que isso dá ou na vulnerabilidade ansiosa que a sua perda pode impor mesmo ao mais confiante de todos? Eu, que nunca tinha pensado deste modo, que desde os doze anos de idade era cioso da minha individualidade e aceitava de bom grado tudo quanto em mim fosse invulgar - podia agora ser um homem igual aos outros.
hhhhhhhhhhhh
Tinha-me ido embora para fugir de uma ameaça autêntica, acabei por ficar longe para me libertar daquilo que deixara de me interessar e, como seria o sonho de qualquer pessoa, para me libertar das consequências persistentes dos erros de uma vida inteira (no meu caso, repetidos fracassos conjugais, adultério furtuito, o bumerangue emocional da obsessão erótica). Presumivelmente por agir em vez de me limitar a sonhar, tinha acabado por me libertar também de mim próprio.
fffffffffff
«Não ia adiantar», disse-lhe eu.
«O senhor tem mais experiência do que eu: o que é que adianta?»
«A solução dos senis: esquecer.»
«O senhor não é senil», disse kliman.
«Mas esqueci.»
gggggggggg
Mas a morte de George Plimpton não foi humorística nem invulgar. E também não foi nenhuma fantasia. Não morreu envergando o equipamento às riscas no Yankee Stadium mas sim em pijama durante o sono. Morreu como todos nós morremos: como um perfeito amador.
hhhhhhhhhhh
Ele: Você está a atravessar a linha de sombra do Conrad, primeiro da infância para a maturidade, depois da maturidade para outra coisa.
Ela: Para a insanidade. Estou aí daqui a pouco.
gggggggggg
Philip Roth, Exit, O fantasma sai de cena, Dom Quixote

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