sábado, 31 de maio de 2008
Humanismo
Amy Winehouse - Love Is A Losing Game
Apesar de todos os problemas e de espetáculos menos conseguidos, continua a ser uma grande voz.
deixa-te
Assim que renovas essa tua ameaça:
Os tempos idos de bem-aventurança
São futuros próximos de desgraça.
Só porque teimas no propósito louco
De eu me te dar por inteiro e uno,
Partindo do que é dado ser tão pouco
E eu não ter categoria nem aprumo.
Deixa-te dessas coisas, mulher lilás
Dou o que dou; é só isso que posso
Mais do que isso sei já não ser capaz
E outras exigências nem te as oiço.
Deixa-te...
O Cosmos de Einstein
Agora substituímos a pedra pelo Sol, o berlinde pela Terra e a cama pelo espaço e o tempo. Newton diria que uma força invisível chamada "gravidade" atrai a Terra e a mantém em torno do Sol. Einstein responderia que não há qualquer atracção gravítica; a Terra é deflectida em torno do Sol porque é a curvatura do próprio espaço que está a empurrar. De certo modo, a gravidade não atrai, mas o espaço empurra.
De acordo com esta imagem, Einstein conseguia explicar porque razão qualquer perturbação no Sol levaria oito minutos a chegar à Terra. Por exemplo, se de repente retirássemos a pedra, a cama recuperaria imediatamente a sua forma normal, criando ondas que se deslocariam, a uma velocidade definida, através da cama. Da mesma forma, se o Sol desaparecesse, criaria uma onda de choque de espaço distorcido que se deslocaria à velocidade da luz. Esta imagem era tão simples e elegante que Einstein conseguiu explicar a ideia essencial a Eduard, seu filho mais novo, que lhe perguntou por que é que ele era tão famoso. Einstein respondeu: "Quando um besouro cego rasteja sobre a superfície de um ramo curvo, não repara que o caminho que percorreu é, na realidade, curvo. Eu tive a sorte de reparar naquilo em que o besouro não reparou".
Michio Kaku, O Cosmos de Einstein, Gradiva, 2005 (Michio Kaku é professor de Física Teórica na City University e no City College de Nova Iorque. è autor de programas na Rádio e na Televisão e de vários livros de ensino ao nível do doutoramento que constituem leitura obrigatória nas mais prestigiadas universidades do mundo).
sexta-feira, 30 de maio de 2008
Lobo Antunes
Banksy
Sua obra é carregada de conteúdo social expondo claramente uma total aversão aos conceitos de autoridade e poder. Em telas e murais faz suas críticas, normalmente sociais, mas também comportamentais e políticas, de forma agressiva e sarcástica, provocando nos seus observadores, quase sempre, uma sensação de concordância e de identidade.
Interregno
Nasceu e cresceu na simplicidade das dificuldades que lhe marcaram a vida. Ainda hoje carrega esses traços de personalidade consigo. Por isso mesmo teve de regressar, mas nunca tinha imaginado que a iria reencontrar.
dá-me
com que cantaste o enredo da conquista
e eu enrolei-me em ti e na restante cena
e muito confundi a nobre arte e a artista.
Dizem, olhares verdes são falsos
Ainda assim, não apago a devoção
Iria de novo e em pés descalços
rogar-te um só bafo do coração.
Dá-me...
ri
de teu olhar amigo.
Esse que me é preciso.
Esse que me foge o perigo.
Quando tomba a noite escura
e o negro engole esse vermelho
iludo-me são, mas é loucura
ver-te a ti ao olhar o espelho.
Ri...
deixa
o resto do teu dia.
Como se fizesse Sul
em toda a fantasia.
E fossemos beber do mar
em rebolões de fina areia.
Como se voltar a amar
fosse sempre vez primeira.
Deixa...
O ALFA NUNCA ESPERA
Uma singela homenagem à cidade do Mondego, primeira saudada, e àquela que é a pior estação do mundo, a B.
Jean-Michel Basquiat
Ganhou popularidade a pintar Graffitis na cidade onde nasceu. Em 1977, aos 17 anos, Basquiat e um amigo, Al Diaz, começaram a fazer Graffitis em prédios abandonados. A assinatura era sempre a mesma: "SAMO" ou "SAMO shit" ("same old shit").
No fim da década de 1970, Basquiat formou uma banda chamada Gray, com o então desconhecido músico e actor Vincent Gallo. No entanto, Basquiat só começou a ser mais amplamente reconhecido em Junho de 1980 quando participou do The Times Square Show, uma exposição de vários artistas patrocinada por uma instituição de nome "Colab", onde foi catalogado como Neo-expressionista.
Caril...
Fora de brincadeira, até que se pode dizer ser do melhor em termos de música étnica.
Anoushka Shankar
quinta-feira, 29 de maio de 2008
madrugada
gritou-me a aurora.
Corri e, quando saio,
louco, porta fora...
vinha o azul do dia.
Um pássaro pia alegria.
E eu, ali naquele segundo
troquei o dormir p'lo mundo.
Ah! Todos os dia vem
como se fosse a mãe
do nosso encanto.
Durmo. Após novo olhar d'espanto.
quarta-feira, 28 de maio de 2008
Arvoro
Com vagar e em tempo
As regras costumeiras estavam tão enraizadas, naquela gostosa cumplicidade que mantinha com Pessanha, o empregado de mesa, sempre bem-disposto e de resposta bem lembrada e artilhada - ainda que sem qualquer malícia -, que até as piadas trocadas eram, há muito, as mesmas.
"Ò Senhor Camilo, então hoje não está com pressa?" - perguntava o bom do Pessanha.
"Hoje não, meu rapaz" - respondia Camilo, no suspirar satisfeito de quem se sentia dono do tempo, porque em dia de descanso.
"Olhe, já pelo sim pelo não, eu hoje atrasei o relógio do patrão".
"Ai sim? Como é que o fizeste, meu rapaz?" - inquiria o velho Camilo.
"Então, como? Pus uma rolha no buraco da bacia!" - atirava-lhe Pessanha.
terça-feira, 27 de maio de 2008
Pressa
E por cada pingo, por cada gota de água que via cair para o cristalino recipiente colocado por baixo daquela estranha bacia furada, agitava-se um pouco mais... Cada vez mais impaciente e exasperado.
Da sua pequena mesa quadrada - também em tons de alabastro e com rebordos de madeira escura a condizer com a cadeira em couro tratado -, sorvendo o resto do digestivo brandy, Camilo persistia e aliterava:
"Pssst! Pssst! Ò Pessanha, vamos lá! Faz-me a conta do almoço que já estou atrasado para o trabalho!".
Geek Review, Tour de Blog
segunda-feira, 26 de maio de 2008
Existir
Originalmente publicada em estranhoanjo
Young Marble Giants - ' Brand - New - Life'
30 de Maio, na casa da Música do Porto. Só para os que tiverem a sorte de conseguir bilhete.
Mas continuam a ser maravilhosos...
domingo, 25 de maio de 2008
Portugal, Twelve Points, Le Portugal, Douze Points
Também na esplanada, à beira da Catedral.
Despertar
Olhou pela janela do primeiro andar, onde vive há pouco mais de uma semana e observou a rua em frente. As pedras, sujas de lama e merda de animais, escurecidas pelo tempo, formavam uma calçada disforme, que lhe parecia desprovida de sentido, porque se mostrava incapaz de manter uma continuidade, incapaz de ligar aquela pequena aldeia ao resto do mundo.
Acendeu um cigarro, tentando afastar o tédio. Nesse momento passou lentamente um senhor, já com uma certa idade, tão carregado, que Sisifo se sentiria aliviado a vê-lo. E assim ficou pacientemente encostado à janela, deixando que o cigarro se consumisse lentamente entre os seus dedos…
sábado, 24 de maio de 2008
Desiderata
sexta-feira, 23 de maio de 2008
O som do Big Bang
A tinta que falta
Manhã
Eles encontram-se!
quinta-feira, 22 de maio de 2008
Madrugada
Joga, não joga...
Estrelas
para as distinguir no marasmo azul do céu;
Saber que saltitam na noite longa de breu.
Sim, vamos deixar algumas em branco
para mantermos um brilho mais claro
durante o sono que a noite torna ignaro
e assim continuarmos abertos ao espanto.
Cristina e o fel
O que é a consciência?
quarta-feira, 21 de maio de 2008
Fernando Pessoa
Como gostava de ser europeu e partilhar cultura e saber...
Porque será o tempo tão estranho?
O que sabemos que sabemos
Confissão
MÁRIO DE SÁ-CARNEIRO
Lírio ou Rosa? - Vaidosa
E mais fria e insensível que o granito,
E que eu passo aí por favorito
Vivo louco de dor e de martírio.
Contam que tens um modo altivo e sério,
Que és muito desdenhosa e presumida,
E que o maior prazer da tua vida,
Seria acompanhar-me ao cemitério.
Chamam-te a bela imperatriz das fátuas,
A déspota, a fatal, o figurino,
E afirmam que és um molde alabastrino,
E não tens coração como as estátuas.
E narram o cruel martirológio
Dos que são teus, ó corpo sem defeito,
E julgam que é monótono o teu peito
Como o bater cadente dum relógio.
Porém eu sei que tu, que como um ópio
Me matas, me desvairas e adormeces,
És tão loura e dourada como as messes
E possuis muito amor... muito amor-próprio.
Cesário Verde, Vaidosa (1874)
terça-feira, 20 de maio de 2008
... A Few Good Men
E para os cinéfilos que, de algum modo, sempre se surpreenderam a ver o Tom Cruise - esse menino bonito dos anos oitenta -, a fazer um papel sério.
Claro que o melhor de tudo é este pedaço da interpretação de Jack Nicholson, no papel de Coronel Nathan Jessep, que lhe valeu a nomeação para o Óscar de Melhor Actor Secundário.
segunda-feira, 19 de maio de 2008
Mário Sá-Carneiro
Teus olhos espelhavam vontade de céu
Em disfarce temporário aqui em terra,
Encoberto em sons de poemas como véu
Que todo abre ao sol e abrasando ferra
Um pouco menos luz, eras humano
Um pouco menos azul, só eras Mário
Mas da vida fizeste sudário em pano
Que disfarçava o calor de teu solário
Só a quem lê faltará o golpe de asa
Pequenos ao tamanho de tanto além
Ficámos e ficamos nós aqui aquém
Só memória tem luz da grande brasa
M S-C 19.05.890
- A verdade é esta, não nos criemos mais ilusões -
Fugiu, mas foi apanhada pela antena da T.S.F.
Que a transmitiu pelo infinito em ondas hertezianas...
(Em todo o caso que belo fim para a minha Alma!...)
MÁRIO DE SÁ-CARNEIRO (1890 - 1916)
Os Maias
domingo, 18 de maio de 2008
É. É mesmo ele. De outros tempos...
Foi a referência que motivou a busca.
Os tempos estão outros...
Em edição única e limitada e,
agora, em versão não integral.
Mas é...
Não sei de que fugíamos.
.................
Seja como for, a cidade
predispunha-se, aceitava calmamente
pequenos gestos de ternura,
delírios de morte apenas.
Zé dos Ossos, Trianon - os nomes
que decorei, enquanto fugíamos
da calúnia dos vinte anos.
As tardes no jardim, um pouco lúgubres,
pronunciavam a costumeira subida:
jantávamos os dois por setecentos escudos,
mesmo ao lado da taberna que não tinha mesas.
Saía barato, o amor. Por não sabermos,
ainda, que teríamos de o pagar a vida inteira
com juros aziagos e versos de demora.
Manuel de Freitas, Rua de Montarroio
Juros de Demora, Assírio & Alvim
sábado, 17 de maio de 2008
L'occasione
Com graça tanta o céu te adorna e dota!
Descansa! Porque tens asas nos pés?
- Eu sou a Ocasião que ninguém nota.
A causa deste infindo labutar
É que ando com meus pés sobre uma roda.
Voo algum, meu correr pode igualar,
Mas estas asas nos meus pés mantenho
Pra que se iluda, ao vê-las, vosso olhar.
À frente, esparsos, meus cabelos tenho;
Neles escondo o peito e o rosto belos
Pra não me conhecerem quando eu venho.
Minha cabeça atrás não tem cabelos,
Pois, evitar que os tirem, não consigo,
Os que ultrapasso e em vão tentam prendê-los.
- Dize-me: essa quem é, que vem contigo?
- A Penitência; ouve, porém, se entendes:
Quem me não prende, prende-a por castigo.
E tu, que o tempo a discursares despendes,
Todo ocupado em pensamentos vãos,
Desleixado! não vês e não compreendes
Como é que eu te fugi por entre as mãos!
Niccolò Machiavelli (1469 – 1527)
Versão de A. Herculano de Carvalho, oiro de vário tempo e lugar
sexta-feira, 16 de maio de 2008
"Benefits supervisor sleeping"
dietas
quinta-feira, 15 de maio de 2008
O Rei dos Alnos
quarta-feira, 14 de maio de 2008
Só se for de noite
De te rever numa curva apertada
Àquela hora onde se perde o dia,
Onde a luz se mistura com o nada
Sei assim que os contornos não são teus
A mistura do que recordo e do que sonho
Esse que perde a noite nos fogos só meus
E deixa estrelas no escuro onde me ponho
Se vieres de luz, então tenho receio
De deslumbrar ao facho que me dás
De ficar preso na corrente do enleio
Que obriga o forte julgar-se incapaz
Uma carta para Garcia
terça-feira, 13 de maio de 2008
segunda-feira, 12 de maio de 2008
Lenta despedida
O corpo envolto pelo castanho madeira baixava à terra. As silhuetas negras eram como pequenos recortes maculando a pouca luz que se esvanecia. Um vento suave, mas frio, varria as folhas prostradas sob o chão, encenando um pequeno e estranho bailado…
domingo, 11 de maio de 2008
Transparências I
"Prateada"
A vista de meu cansaço enevoada
Procuro no vazio dos lugares vazios
A dela, minha lembrança esvaziada.
Salpico a memória com a luz de restos
Aflijo-me de não sentir um só recordo
Invento desculpas em jeito de protestos
Como a balir, e sabendo que não mordo
Afinal o esforço não me valeria de nada
Sempre assim é a quem por pouco sofre
A mulher escondeu-se em forma prateada
E anda a incomodar nos cantos do blogue
sexta-feira, 9 de maio de 2008
Michael Nyman Band - Chasing Sheep is Best Left to Shepherds
Para os que nos acusam de sermos demasiado intelectuais, aqui vai a simplicidade do minimalismo...
Longe, Perto: O Horizonte
quinta-feira, 8 de maio de 2008
POEMA do DIA
Nem fez castelos grandiosos
Sobre areias movediças?
Doces imagens que nos olhos
Ficastes pálidas e frias!
Sois como pássaros cativos
E abris em frémitos inúteis
As finas asas coloridas
Peixes no aquário translúcido
Sonhais vogar dentro dum rio.
Crianças doentes, que no quarto
Fazeis projectos de futuro.
Surdas canções de condenados…
Breve paisagem de algum quadro
Presa debaixo da moldura.
Ó flutuantes sombras tímidas,
Que receais o mundo e os homens,
Ficai em nós, mudas e moles:
Recordações indefinidas
De tudo aquilo que não fomos.
CABRAL DO NASCIMENTO
Nostalgia, 33 Poesias (1941) e Cancioneiro (1963, 1976)
(e assim passou um mês de poemas, dia a dia)
quarta-feira, 7 de maio de 2008
O Mestre e o Admirável
Não conta. Se tanto, é instrumental: só se vive o que se pensa e só se pensa o que se recorda.
Então, viveremos mais ou menos, consoante os anos de pensamentos e memórias, não consoante o que chamamos vida.
É certo.
Então, se pensarmos mais depressa, vivemos mais tempo.
Não digo mais tempo, viveremos mais. O tempo atrapalha a questão. Se pensarmos ao dobro da velocidade, viveremos o dobro.
Mas o Admirável diz o contrário: se conseguirmos pensar mais devagar, o tempo torna-se pastoso, em vez de corrido.
Pastoso ou corrido não é velocidade, é profundidade. A resposta não está no tempo mas no viver. Se pensares depressa, verás que o Admirável vive menos, porque se perde no tempo.
O Mestre e o Admirável, O Sétimo Livro
Ryuichi Sakamoto - Merry Christmas Mr. Lawrence (Trio Tour)
Para além do tempo. Simplesmente maravilhoso!
POEMA do DIA
junto da tarde que morre
e renasce por pequenas paixões
de repente estávamos sozinhos
as ilhas muito inacessíveis
agora que escureceu
o menor desejo teria um sentido delicado
os olhos velozes de um gato
viam coisas belas
lado a lado com os homens
pareciam quase não ter sofrido
a mesa estava encostada às janelas do café
e nós de forma desolada
ignorados, aturdidos, de passagem
não muito mais
procuro desse facto uma versão
que me conduz à inconfidência
era uma mesa lisa, branca
uma razão soletrava um acaso
a medida soberana do incerto
olhos velozes de um gato os teus
olhos
JOSÉ TOLENTINO MENDONÇA
Reis Magos, Pequenas Paixões (Baldios)