A utopia é uma subespécie de insolência onde se refugiam os negadores de poderes. São prestidigitadores que avançam com o inédito contra a "ordem do dia" onde abrem uma ferida incurável que é a experiência do excesso. Sob o pretexto de nos proteger da fatalidade, a utopia oscila entre o apocalipse e a esperança, isto é, entre o medo e o medo de ter medo, perpetuando-nos o cativeiro mesmo se ele é, e é sempre, dissonante.
Quando o futuro se preparava para ser um exercício de repetição assente na sua legitimidade tecnológica, a utopia interrompeu-a (sécs. XIX e XX) com a sua verdade abrupta e redentora.
A utopia, é a sua função, instala a incerteza. É na incerteza que reside, ansiosa, a liberdade. Fernando Gandra, O Sossego Como Problema (peregrinatio ad loca utopica), Fenda, 2008.
2 comentários:
E é na liberdade que habitam todas as utopias.Sempre.
Afinal, será a utopia uma fronteira que se dissipa, tal como a linha do horizonte que se não alcança ou é apenas a condição - sempre presente - de liberdade?
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