Em todo o caso quando Lisboa descobriu aquela legenda de sangue e negros, o entusiasmo pela Monforte calmou. Que diabo! Juno tinha sangue de assassino, a belta do Ticiano era filha de negreiro! As senhoras, deliciando-se em vilipendiar uma mulher tão loira, tão linda e com tantas jóias, chamaram-lhe logo a negreira! Quando ela aparecia agora no teatro, D. Maria da Gama afectava esconder a face detrás do leque, porque lhe parecia ver na rapariga (sobretudo quando ela usava os seus belos rubis) o sangue das facadas que dera o papázinho! E tinham-na caluniado abominavelmente. Assim, depois de passarem em Lisboa o primeiro Inverno, os Monfortes sumiram-se: pois dissesse logo, com furor, que estavam arruinados, que a policia perseguia o velho, mil perversidade... O excelente Monforte, que sofre de reumatismos articulares, achava-se tranquilamente, ricamente, tomando as águas dos Pirinéus... Fora lá que o Melo os conhecera...
Eça de Queiroz
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