terça-feira, 3 de junho de 2008

virás

Ah, havia uma mulher de branco esquecida
Tanto minha como as outras, que o não são
E disfarçava a ausência de parecer perdida
Nuns acenos voláteis de cores e de atenção

O Anísio dizia que o branco não debota
E, assim, já aceito, solene, tal franqueza
Vou deixar-te um enorme cartaz à porta,
Tu virás aqui num dia claro, com certeza

Caso não chegues, renovo a paciência
De misturar mais cores no meu pincel
Que na falta de outro saber ou ciência
Tentarei volver açúcar o travo do fel.


Virás...

6 comentários:

Anónimo disse...

Branco é Igualdade

Anónimo disse...

Venho vestida de branco e sou das muitas cores do chocolate.
Hoje, passei por muitos jardins onde vi o teu pincel a misturar cores com água e poesia.
Não sei se era a mim que esperavas, mas vim...
Pareceu-me estar um dia claro!!
Padmé

Anónimo disse...

Retrato de Mulher

Pensou trajar-se de negro, a cor da sua alma-viúva. Mas optou pelo branco e de branco saiu para enfrentar o mundo, (in)vestida da ténue esperança de recuperar alguma da candura que perdera ao longo do Tempo, esse ser inexorável que tanto a esbofeteara, desiludira, cansara, empurrado pelos braços invisíveis de quantos (e quantas) lhe quiseram fazer mal, conseguindo-o.
Lá fora enfrentou a luz na tentativa de renascer. O vento deu-lhe a mão e transportou pelas ruas o cheiro dela - o da terra molhada após chover num quente dia de Verão. Deixou os olhos demorarem-se em todas as cores para com todas tatuar a sua alma.
Mas eis que a noite se fechou. Regressada a casa, esperava-a o jantar frio e agora individual. Porém, tinha uma arma poderosa - o telefone. E então usou-o para ligar à família e aos verdadeiros amigos.
Atenderam-na...

Anónimo disse...

Da mais alta janela da minha casa
Com um lenço branco digo adeus
Aos meus versos que partem para a Humanidade.

E não estou alegre nem triste.
Esse é o destino dos versos.
Escrevi-os e devo mostrá-los a todos
Porque não posso fazer o contrário
Como a flor não pode esconder a cor,
Nem o rio esconder que corre,
Nem a árvore esconder que dá fruto.

Ei-los que vão já longe como que na diligência
E eu sem querer sinto pena
Como uma dor no corpo.

Quem sabe quem os terá?
Quem sabe a que mãos irão?

Flor, colheu-me o meu destino para os olhos.
Árvore, arrancaram-me os frutos para as bocas.
Rio, o destino da minha água era não ficar em mim.
Submeto-me e sinto-me quase alegre,
Quase alegre como quem se cansa de estar triste.

Ide, ide de mim!
Passa a árvore e fica dispersa pela Natureza.
Murcha a flor e o seu pó dura sempre.
Corre o rio e entra no mar e a sua água é sempre a que foi sua.

Passo e fico, como o Universo.

"Mulher de Branco"
Alberto Caeiro

AugustoMaio disse...

T S: muito good.

Anónimo disse...

Para T.S.

As palavras trocadas não a rejuvenesceram nem desfizeram o breu-de-alma que tentara disfarçar.
Mas, pouco a pouco, palavra a palavra, um ligeiro brilho aflorava-lhe o olhar mostrando que a alma tatuada de dia continuava a colorir-se de noite.
Passaram-se horas, pareceram minutos, e quando, por fim desligou, já Morfeu lhe toldava o corpo e uma certeza lhe enchia o coração...Tinha um amigo.