terça-feira, 17 de junho de 2008

Fábula



António Franco Alexandre nasceu em Viseu a 17 de Junho de 1944. Matemático e filósofo, é tido como um dos melhores poetas da actualidade. Inovador.


Nesta última tarde em que respiro / A justa luz que nasce das palavras / E no largo horizonte se dissipa / Quantos segredos únicos, precisos, / na ausência interminável do teu rosto. / Pois não posso dizer sequer que te amei nunca /Senão em cada gesto e pensamento / E dentro destes vagos vãos poemas; / E já todos me ensinam em linguagem simples / Que somos mera fábula, obscuramente / Inventada na rima de um qualquer / Cantor sem voz batendo no teclado; / Desta falta de tempo, sorte, e jeito / Se faz noutro futuro o nosso encontro.

Uma fábula, Assírio & Alvim


5 comentários:

de.puta.madre disse...

Não! É mesmo o MELHOR!

Anónimo disse...

Também gosto muito. Melhor ou não é quase ousadia poética. Cada qual... mas tem poemas maravilhosos. Boa lembrança de aniversário.

Unknown disse...

Um poeta inovador e limpo. De uma integridade literária deslumbrante.

"outra vez volto
a olhar. O paraíso
é assim: à semelhança do inferno,
mas em tudo diferente.
Por exemplo: aqui trocamos os nomes todos,
cada dia é uma nova
constelação. Do outro lado
dos teus olhos,
quando o retrovisor espreita
por cima dos teus ombros,
fica um mundo suspenso,
o manso amor, o vento."

corto viaggio sentimentale, capriccio italiano, n.º 39

Quatro Caprichos, Assírio e Alvim

Anónimo disse...

as coisas justamente dilaceram
o verniz da violência, o sebo
prematuro das coxas, junto
ao resistente pêlo das mulheres.
em direcções diversas (ocultando
no íntimo dedo a marca
dos anéis) vão perfurando
o céu que por palavras se faz boca.
abrindo a melancia, retirando
a semente queimada, o nervo
eréctil,
batem no mundo com suor inútil.
de branca espádua, cálamo, se inventam.
folha de erva, valquíria
mendicante. e as folhas justamente
nascem do eterno imóvel (o primeiro)
quando os deuses impuros sacrificam
ao semáforo tese, anti& sin.

(passo a passo, retórica, nos vamos)
as coisas como nascem assim cobrem
a face prematura, o olho
eréctil da manhã.
inútil o suor com que ocultamos
o pêlo dos arbustos, o nervo
virulento das pedras.
arrastando no dorso a luz da boca
as coisas justamente nos contemplam
& sorriem.

As Coisas Justamente, 1

A. Franco Alexandre, Poemas

AugustoMaio disse...

Uma saudação especial à amiga Ana, atenta a proximidade, desde logo geogréfica, a este nobre poeta.