terça-feira, 1 de abril de 2008

El-Rei

Quando chego - o piano estala agoiro,
E medem-se os convivas logo inquietos-
Recuam as paredes, sobem tectos-
Paira um luxo de Adaga em mão de Moiro.

Meu intento, porém, é todo loiro
E a cor de rosa, insinuando afectos.
Mas ninguém se me expande... Os meus dilectos
Frenesis ninguém brilha! Excesso de Oiro.

Meu Dislate a conventos longos orça.
Pra correr minha Zoina, aquém e além,
Só mítica, de alada, esguia corça...

-Quem me convida mesmo não faz bem:
Intruso ainda - quando, à viva força,
A sua casa me levasse alguém...

Mário de Sá-Carneiro

4 comentários:

Anónimo disse...

"Escuta, escuta: tenho ainda
uma coisa a dizer.
Não é importante, eu sei, não vai
salvar o mundo, não mudará
a vida de ninguém — mas quem
é hoje capaz de salvar o mundo
ou apenas mudar o sentido
da vida de alguém?
Escuta-me, não te demoro.
É coisa pouca, como a chuvinha
que vem vindo devagar.
São três, quatro palavras, pouco
mais. Palavras que te quero confiar.
Para que não se extinga o seu lume,
o seu lume breve.
Palavras que muito amei,
que talvez ame ainda.
Elas são a casa, o sal da língua."
Eugénio de Andrade

Anónimo disse...

"Não tenhas medo, ouve:
É um poema
Um misto de oração e de feitiço...
Sem qualquer compromisso,
Ouve-o atentamente,
De coração lavado.
Poderás decorá-lo
E rezá-lo
Ao deitar
Ao levantar,
Ou nas restantes horas de tristeza.
Na segura certeza
De que mal não te faz.
E pode acontecer que te dê paz.."

Miguel Torga

Anónimo disse...

Assim como falham as palavras quando querem exprimir qualquer pensamento,
Assim falham os pensamentos quando querem exprimir qualquer realidade,
Mas, como a realidade pensada não é a dita mas a pensada.
Assim a mesma dita realidade existe, não o ser pensada.
Assim tudo o que existe, simplesmente existe.
O resto é uma espécie de sono que temos, infância da doença.
Uma velhice que nos acompanha desde a infância da doença.

Albeto Caeiro

Anónimo disse...

Convite à glória

Juntos na poeira das encruzilhadas conquistaremos a glória.
E de que me serve?

Nossos nomes ressoarão
nos sinos de bronze da História.
E de que me serve?

Jamais alguém, nas cinco partidas do mundo,será tão grande.
E de que me serve?

As mais inacessíveis princesas se curvarão
à nossa passagem.
E de que me serve?

Pelo teu valor e pelo teu fervor
terás uma ilha de ouro e esmeralda.

Isto me serve.

Carlos Drummond de Andrade(Quixote e Sancho, de Portinari)