Quando Borges chegou a Genebra para morrer, vinha acompanhado por María Kodama. No início dos anos 60 ela fora sua aluna de Literatura Anglo-saxónica e Nórdica. Tinha metade da idade dele. Quando se casaram, oito semanas antes de ele morrer, mudaram-se de um hotel numa rua-arquivo chamada Rue de la Tour-Maîtresse, para um apartamento que ela encontrara.
Este livro, escreveu ele numa dedicatória, é teu, Maria Kodama. Deverei dizer-te que esta inscrição inclui crepúsculos, os veados de Nara, noite solitária e manhãs povoadas, ilhas, mares, desertos e jardins partilhados, aquilo que o esquecimento perde e a memória transforma, a voz aguda do muezzin, a morte de Hawkwood, alguns livros e gravuras?... Só podemos dar o que demos. Só podemos dar o que já pertence ao outro!
John Berger, Aqui Nos Encontramos
(trad. Isabel Leite da Silva)
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