sexta-feira, 5 de fevereiro de 2010

Tempo que não chega a tempo

Se o tempo recuperasse a prece
Se a glória do mundo eu pudesse
deixar cair o medo de mingar
e, perdida a voz, fosse falar
de como se perde a aurora sem
ganhar a noite, essa que tem
a sorte de libertar o gesto e o fado,
essa que me iludia choro e pecado
E assim pedir-te de volta, que o castigo
não me solta, que nem o perigo
m'alenta: nos dedos rotos de rezar
escondo contas de passarinho; os mimos do mar
não chegam a acreditar nos anos. Vou
dizer-te (baixinho) o que sou: enganos
com que se colora a primavera. Terra,
só terra e poeira, que sem maneira
já me não molda a alma. Já nem acalma.

Sem comentários: