terça-feira, 9 de fevereiro de 2010

Dedicoratória I

Esta história dou-ta, porque é tua, Maria, nome redescoberto de um acto por nascer. São tuas as colinas do Borges (Kodama...) e a dedicatória do Herberto. Também eu sei histórias terríveis, e assombros que guardei nos fundos puídos da memória. Sem um estilo, sequer, podia derrubar todas as esperanças com um gesto de língua e rir-me, sulfúricos, dos cacos do mundo. Mas a história é tua, alegre até ao partir dos dentes nos tremeliques da vergonha diluída. Era uma vez uma guitarra de sexo, onde esfregávamos mãos de contentamento; tardes de um verão tão a sul que desnorteamos os dias, violação de relógios impenitentes, e nos teimamos numa entrega de rojo, suplício de vãs vontades.
Esta história é tua porque o merecimento não existe, só a ânsia. Tua porque ainda me lembro: se perguntarem por mim, diz que voei com os pássaros entre as janelas daquele palácio em ruínas. Tua porque o Cesariny avisou que a fala do olhar, no soletrar da mão, só do teu olhar se lê, e guardo o gosto dum reflexo descaído no seio imóvel do entardecer. E se falasse do mar, deuses!, donde os lábios salgados amassaram estes, hoje condoídos de espera, oxidados no silêncio dos ventos. Era capaz de gritar essa mudez com que abismamos cada retoque da onda, espuma de cristal a burilar projectos.
Não! Esta história é apenas a do teu regaço florido, vivaz da rega de lágrimas que o fim da luz choveu. Foi em setembro de um ano prestes a chegar, mas podia ter sido em qualquer mês, mesmo no passado. Esta história é tua porque assim deve ser. Dedico-ta.

6 comentários:

Anónimo disse...

sortuda destinatária ( ainda que virtualmente futura)

maria disse...

Simplesmente...maria,
obrigada

AugustoMaio disse...

ah!ah! Não vai com as outras?

Maria disse...

Quem não conhece aquele clássico do Jorge Palma?:

"Deixa-me rir
Essa história não e tua
Falas da festa, do sol e do prazer
Mas nunca aceitaste o convite
Tens medo de te dar
E não e teu o que queres vender

Deixa-me rir
Tu nunca lambeste uma lágrima
Desconheces os cambiantes do seu sabor
Nunca seguiste a sua pista
Do regaço à nascente
Não me venhas falar de amor

Pois é, pois é
Há quem viva escondido a vida inteira
Domingo sabe de cor, o que vai dizer
Segunda feira

Deixa-me rir
Tu nunca auscultaste esse engenho
De que falas com tanto apreço
Esse curioso alambique
Onde são destilados
Noite e dia o choro e o riso

..........."


Maria

Anónimo disse...

BOA.

AugustoMaio disse...

Mesmo ótima (ex-óptima)