segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Mulher. Mãe. Saudade.

Sentas-te ao sol
no silêncio seco dum granito
como se o pensamento houvesse fugido
e só a carícia da brisa te recorda o mundo.

Há uma imagem de filhos
quando, de fora, olhamos o círculo dos teus olhos
aí, onde, de vez, passeiam andorinhas
e bicam restos daquelas tardes antigas,
eles a correrem atrás de nada,
braços espalmados nas palavras por aprender
só essas que seriam liberdade.

Aos anos que as nuvens rumaram a Sul
e eles fugiram num atropelo de ânsia,
uma manhã sem vento, como outras,
só a teimosia a empurrar revolta.

E tu, mulher que o calor não abrasa
que o sol não queima
que o Sul não chama
resguardas-te da morte
no hábito lento de deixar passar os dias.

A noite chega ao ritmo das manhãs;
partirão as duas
em troca dos ossos que devolverás à terra.

Até lá, a espera. Só a tua espera
confunde a dança dos astros.

Tu que nem crês no baloiço
moves a eternidade,
o passo a passo de cada segundo
que te liberta. Imóvel.

1 comentário:

Petra Maré disse...

Muito belo. Muito dorido.Muito tocante.