quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Sento-me aqui nesta sala vazia e relembro.

... Mas dizer isto é tão absurdo! Sinto, sinto nas vísceras a aparição fantástica das coisas, das ideias, de mim, e uma palavra que o diga coalha-me logo em pedra. Nada mais há na vida do que o sentir original, aí onde mal se instalam as palavras, como cinturões de ferro, aonde não chega o comércio das ideias cunhadas que circulam, se guardam nas algibeiras. Eu te odeio, meu irmão das palavras que já sabes um vocábulo para este alarme de vísceras e dormes depois tranquilo e me apontas a cartilha onde tudo já vinha escrito... E eu te digo que nada estava ainda escrito, porque é novo e fugaz e invenção de cada hora o que nos vibra nos ossos e nos escorre de suor quando se ergue à nossa face.

VERGÍLIO FERREIRA, aparição

2 comentários:

Petra Maré disse...

Muito bem escolhido, caro Augusto, aliás, como já nos habituou.
Passe bem, talvez, quem sabe, até amanhã.

p. coimbra disse...

Não o sabia leitor do existencialismo de Vergílio, no entanto gostava de saber a sua opinião sobre a qualidade do texto/obra.
P.S. Anda muito en"cavac"ado. Penso que esta palavra ganhou semanticamente. Dê notícias.