sexta-feira, 14 de novembro de 2008

A Inutilidade da Lide

Sou um processo de divórcio e a minha história simples conta-se em meia dúzia de articulados.
Nasci no longínquo ano de 1990, era então uma frágil ,petição inicial de 66 artigos, nos quais a minha autora acusava o marido de coisas terríveis, como maus tratos e adultério.
Sofri uma violenta contestação de 132 artigos e, a partir daí, a minha vida tornou-se um inferno.
Engordei com incidentes processuais, reclamações e recursos, e tornei-me caro e pesado com custas e multas que têm recaído em idênticas proporções sobre os meus dois litigantes.
Já depois da contestação, criei uma vasta prole a que me ligam estranhos atilhos umbilicais: primeiro foi o arrolamento intentado pela minha autora, a que se seguiu o processo de embargos - e vão dois; depois veio o arrolamento intentado pelo meu réu, a que se seguiu outro processo de embargos - e vão quatro; a seguir veio a providência cautelar de alimentos provisórios e mais tarde a acção de alimentos - e vão seis; nasceu depois o incidente de atribuição da casa de morada de família e, decorrido algum tempo, a execução de alimentos - e vão oito; finalmente a minha autora zangou-se com o advogado que me subscreveu a petição inicial e pronto, lá nasceu a acção de honorários - e vão nove apensos, já todos felizmente bem nutridos com certidões, documentos vários, incidentes, recursos, custas e multas.
Mas, voltando à minha história simples...
kkkkkkkk
Carlos Querido, A inutilidade da lide, A Fazer de Contos

3 comentários:

Anónimo disse...

Até o próprio se queixa. muito interessante.

Unknown disse...

Muito interessante, sem dúvida. Deixo a homenagem ao autor que transmitiu maravilhosamente a ideia profunda em formato simples, coisa que é tudo menos simples.

Anónimo disse...

Muito curiosa a ideia de um processo falar das suas próprias amarguras. Há que ler tudo (util e oportunamente).