domingo, 6 de abril de 2008

Pastelaria Catita (resumo dos capítulos anteriores)

Tinha o coração desarrumado, logo naquela hora do dia em que o Sol se habituou a mandar beijos. As acácias já não filtram as venturas luminosas e, com o tempo em que se perdera, receava perder o troco dos olhos, que marcara na agenda rosa. Foi com a Pastelaria Catita ao alcance da vista que viu o vulto fugidio do senhor Calisto. Não era menina de arremessar um grito. Susteve a lágrima e o passo.

O Senhor Calisto regressou tombado de desânimo. Carregava uma sombra pesada que lhe fazia de vulto, mas a noite respeitosamente escondia. Antes de recuperar o Amarelo, resolveu abeirar-se do rio, olvidando por instantes o cacimbo. Ali lavou os olhos, a estender a vista na corrente.

A noite ia já escurinha quando volveu a casa. Pensou frigir um ovo, a burlar o estômago. Mas atormentava-o o desencontro. Tinha que deixar nas letras o desgosto que o atravessava. No papel rosado, redigiu
Menina Rosarinha. Predilecta.
Daqui lhe entoa, suplicante, o Calisto que seus olhos apartaram, deixando os dele turvados de pranto.

O pai balouçava-se na cadeira de castanho, escondido nas folhas do Notícias. Rosarinha fez por disfarçar o desencanto, mas a um pai que filha engana? Rosarinha foi esquentar uma verbena para melhor acolher os lençóis saudosos.

Os lençóis contornavam-lhe o corpo, a enrugar as mesmas desgraças. A luz do candeeiro trôpego escrevia sombras na cal da parede. Em vão tentou conciliar o repouso. Do quarto ao lado, ouviu o pingar de um choro miudinho. Virou-se de encontro à almofada e chorou pelos dois.

1 comentário:

Anónimo disse...

..."Boa noite. Eu vou com as aves."

Eugénio de Andrade

"E nem há melhor. Mas nem uma verbeninha, para sossegar o ir (voo)?"
Dixit