O pai balouçava-se na cadeira de castanho, escondido nas folhas do Notícias que puxaram às centrais o escândalo da primeira página. Uma nora descabelada, desalmada de instintos, diluíra remédio dos ratos na gasosa da sogra e foram escassos instantes até que a santa se esticou. Rosarinha subiu os degraus a acautelar-se, silente como quem pisa neve, e rodou a chave com o cuidado de gatuno de cofre. O pai, mesmo assim, agitou-se e, depois de piscar os olhos de sete décadas, olhou os dela. Rosarinha fez por disfarçar o desencanto, mas a um pai que filha engana? Apercebendo-se, logo cogitou não acrescentar o drama. Desejou-lhe as boas noites e desculpou-se com o cansaço de um dia longo. Rosarinha foi esquentar uma verbena para melhor acolher os lençóis saudosos.
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2 comentários:
..."Boa noite. Eu vou com as aves."
Eugénio de Andrade
E nem há melhor. Mas nem uma verbeninha, para sossegar o ir (voo)?
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