sábado, 22 de março de 2008

O Senhor do Olá


Preenche as páginas 90 e 91 da revista Única do último Expresso.
Chamam-lhe o Senhor do Adeus, mas ele é o Senhor do Olá.
A identidade oficial, no entanto, revela-o como o Sr. João Manuel Serra.
Tem 78 anos. Usa óculos de moda antiga, que não o impedem de ver todos os que o saúdam e a quem ele saúda.
Acena no Saldanha (Lisboa) a partir da meia-noite.

O texto (entre o depoimento, a criação e a entrevista) tal como a fotografia (em que se multiplica num único aceno) é de Ana Sofia Fonseca.
Está muito além do belo.
A solidão é a senhora malvada que persegue o Senhor do Olá.
Ele avisa da fantástica mudança do mundo, que até no cinema trocou a pieguice pela tecnologia.
E diz assim, na palavra de quem o canta:
A vida dá estranhas voltas, o meu destino é acenar a quem me cumprimenta. ESTOU SUJEITO A QUE ME CHAMEM MALUCO, MAS NÃO ME IMPORTO. DA MINHA SOLIDÃO, SEI EU.

13 comentários:

Anónimo disse...

Passear pelos receios do conformismo. Rasgar os medos da vergonha. Acenar um olá. Talvez se possa fazer mais numa vida, mas habitualmente faz-se muito menos.

Soberbo. Maravilhoso.

Anónimo disse...

Dizer um olá, o outro lado anverso de dizer que estou só...

Anónimo disse...

Sim... o outro lado da mão! Mas ainda é mão. Mão do próprio e também - até por isso - mão do Mundo.

Anónimo disse...

Mão do MUNDO,sim,que o mundo de cada um...é pequeno demais para a grandeza daquela Mão que teima em não se sentir só!Serviu para as pág. 90 e 91....para deleite dos leitores...que vão permitir que a MÃO lá permaneça,à chuva,ao frio,OLÁ!!!!!!

Anónimo disse...

A mão que embala a saudade
A mão que distrai a solidão
É mesmo mão, de verdade
E ligada ao coração....

Anónimo disse...

A mão de todos que em espaços de vida precisam de acenar a quem passa; precisam de largar um pouco de si mesmos e tomar os outros ... na palma da mão.

Anónimo disse...

É um texto magnífico, sem qualquer dúvida. Belo e muito belo.
Um hino à transformação da solidão na liberdade.
Como solidão vai havendo todos os dias, não deveria passar a haver um dia da mão? melhor dito, um "dia do olá"? Ou uma noite, talvez, que a noite será mais apropriada á solidão. E um dia (de noite) a durar pelo ano fora.

Anónimo disse...

'O que me preocupa não é o grito dos maus. É o silêncio dos bons...'

Martin Luther King

Anónimo disse...

E não há nada mais preconceituoso que o silencio...
Tocante. De certeza que não pensa alargar o horizonte da sua escrita?!

Anónimo disse...

Solidão...
Hoje já não acenamos a quem nos "estende" a mão, já não sorrimos a quem nos "mostra" os dentes, não retribuimos um olá ou um bom dia!
Coitados...tontos... solitários... pensamos, na nossa condescendência, sem percebermos que tão ou mais solitários estamos nós.

Anónimo disse...

É... acho que dá saudade lembrar o aceno das aldeias e o bem-haja, o Bom dia e o Vá com Deus. Vá com Deus não era, precisamente, uma forma de desejar que se vá apartado da solidão? Mesmo a um não crente, Deus sempre há-de ser companhia.

Anónimo disse...

A caminho de Emaús: fica connosco, porque anoitece.

Anónimo disse...

... o único vizinho que cumprimento e retribui o meu cumprimento, o único empregado da lavandaria ao lado. O único habitante da minha aldeia com o qual mantenho uma relação de simpatia.

Pedro Paixão, saudades de N.I.