Quando fores velhinha e de cabelo branco
Continuarás a sentar-te junto do mar
Naquele banco onde sempre te olho em espanto
E ver-te é um exercício completo de sonhar
Olhamos o mar aberto de olhos trocados
Indiferentes à visão sozinha de cada qual
Mas ao olhá-lo e sentindo os mesmos bocados
Eu sei que nos teus olhos o quadro é integral
Mais tarde os dedos falharão os traços d’artista
Com que me pintaste o tempo toda a vida
Ao areal e ao verde não chegará a mesma vista
Porque foi comprida a tua missão cumprida
Mas ensinarás lembrança mesmo em gestos lentos
Colorindo em sépia os recortes fugidos
Como quem enlaça da vida todos os momentos
E certifica a memória como foram vividos
Temo a saudade de olhar o banco, apenas
E ver-te igual, mas sem te ouvir a voz
Mesmo que no olhar me escrevas poemas
A rimar que os dois nunca seremos sós
Cem anos que vivesse te sentiria
Em cada instante que fecho os olhos
É impossível não respirar a maresia
Que contigo se mistura em meus sonhos
(2.ª edição, revista)
sexta-feira, 7 de março de 2008
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