Ainda A Estrada. Ou percorrendo A Estrada. Vendo e revendo.
“A fragilidade de todas as coisas enfim revelada. Velhos dilemas inquietantes esvaziados de sentido, dando lugar ao nada e à noite. O derradeiro exemplo de uma coisa leva consigo toda a categoria. Apaga a luz e desaparece. Olha à tua volta. Nunca é imenso tempo. Mas uma coisa o rapaz sabia. Que nunca é apenas um breve instante.
Sentou-se junto a uma janela cinzenta à luz do final da tarde, numa casa abandonada, e leu velhos jornais enquanto o rapaz dormia. As curiosas notícias. As bizarras preocupações.
(…)
Ele dormitava no calor maravilhoso. A sombra do rapaz passou-lhe sobre o corpo, a transportar uma braçada de lenha. Ficou a vê-lo atiçar as chamas. O meteoro chamejante de Deus.
(…)
Que mal teriam eles feito? Parecia-lhe bem possível que, na história do mundo, houvesse mais castigo do que crime, mas isso não lhe proporcionava grande consolo.”
Na tradução de Paulo Faria, CORMAC McCARTHY (Relógio d’água)
“A fragilidade de todas as coisas enfim revelada. Velhos dilemas inquietantes esvaziados de sentido, dando lugar ao nada e à noite. O derradeiro exemplo de uma coisa leva consigo toda a categoria. Apaga a luz e desaparece. Olha à tua volta. Nunca é imenso tempo. Mas uma coisa o rapaz sabia. Que nunca é apenas um breve instante.
Sentou-se junto a uma janela cinzenta à luz do final da tarde, numa casa abandonada, e leu velhos jornais enquanto o rapaz dormia. As curiosas notícias. As bizarras preocupações.
(…)
Ele dormitava no calor maravilhoso. A sombra do rapaz passou-lhe sobre o corpo, a transportar uma braçada de lenha. Ficou a vê-lo atiçar as chamas. O meteoro chamejante de Deus.
(…)
Que mal teriam eles feito? Parecia-lhe bem possível que, na história do mundo, houvesse mais castigo do que crime, mas isso não lhe proporcionava grande consolo.”
Na tradução de Paulo Faria, CORMAC McCARTHY (Relógio d’água)
3 comentários:
A propósito do escrito, veio-me ao pensamento uma ideia que já me acompanha há algum tempo e que se traduz mais ou menos no seguinte:
Atrapalhados que andamos com o futuro e com a sua definição (o seu acautelar) pelo presente, esquecemos de preservar o presente inocente, para que no futuro haja passado sem sombra de futuro.
Bem. Talvez me pudesse ter deixado ficar por aqui: o futuro é tão difícil de prever como o passado.
Um anónimo chamado D.
A cada instante nos sobra um pingo de futuro, já que existe tanto como o presente. A bem dizer, existe enquanto se sente.
Também devia ficar por aqui!
A sério, acho interessante essa realidade: de facto, o passado esconde-se da previsão.
Anónimo de letra E (é verdade).
De facto, o passado é a melhor face de um futuro que se quer presente.
Baralhem-se os tempos também, os relógios que parem e nós que percamos todos os comboios da vida.
Sabemos aos nossos pés, ninguém viaja por nós, todos ansiamos, afinal, por um apeadeiro chamado futuro, perto de um presente que, tantas vezes, quer romper com o passado.
Na realidade, o tempo não espera por ninguém. Ontem é história, o amanhã é mistério e o hoje é um dádiva - daí lhe chamarmos presente!
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