Vens agora reclamar-me um poema de lembrar,
Mas há tantos anos que não te vejo na escuridão
Quando te desenhava só por respirar o mesmo ar
Melhor do que se a Miguel Ângelo pedisse a mão
Sabia de cor os gestos dos teus contornos
E a cor com que te desfazias da penumbra
Despindo em correria os vistosos adornos
Que apartavam ânsias tuas das da sombra
O que tenho agora é a intermitência da ilusão
Rasgos soltos que rememoro incerto e a custo
Sem saber se reconstruo ou são restos de paixão
Se és apenas o traço com que à noite me assusto
Desenhar, pintar-te assim um poema não consigo
Confundo o que penso, quero, sinto, com o que és
Misturar na mesma tela desejos de ambos é perigo
Tão grande como pôr a cabeça onde tu usas os pés
Digo pés de propósito, porque a lembrança zangada
Dá a esta escrita um estilo piroso ou até abandalhado
Em vez de um poema irá sair uma grande trapalhada
Porque escreve o desgosto e não o poeta abandonado
Devia deixar ficar, para sentires a dor do castigo
Como eu senti, assim que me mandaste às urtigas
Dizendo que me entendia era sozinho, eu e comigo
Sem que pudesse enfeitar quaisquer outras raparigas
Mas para que te não fiques a rir, eu te minto
Tenho a desculpa de assim serem os poemas
Em vez de consentir o que te choro que sinto
Roubo aos mais hábeis o risco destes fonemas
E se não mais usarei do meu servil talento
Ouso usar um verso obstinado e lento
Para te lembrar ter tentado o que podia
Mas foi o teu augúrio que não quis poesia
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3 comentários:
Nunca mais faças poemas a pedido.
Limitam. Magoam.
foi só uma questão de educação
mas,enfim,devia ter mais cuidado
porque elas não prestam atenção
e nunca olham a cavalo dado...
Isto mais parece uma Troca de...
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