sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

futuro...

Seguíamos uma condução prudente, distraída com a suavidade da paisagem. Tu segredaste-me ao ouvido esquerdo, numa manobra que só o sonho consente, que tinhas tido ciúmes e muito medo, porque – dizias – como já estou velhinho podia ter-me esquecido do teu número de telefone. Querias dizer que, não fora o acaso, talvez sucedesse nunca mais nos encontrarmos. Não te lembro a cara, mas a voz que ficou é impossível de esquecer. Não guardo o número de telefone na memória, embora não esteja velhinho (que ideia foi essa? Talvez o sonho tenha antecipado décadas…). Já ninguém decora o número, apenas o aponta no telemóvel. Daqui a anos já ninguém lembra nada, porque guarda tudo na Net. Os homens vão perder a memória e, logo a seguir, haverá chips que substituem o pensamento. Mas, a ser assim, porque estavas tu preocupada? Será que o mundo vai regressar ao passado? Ora era só porque os ciúmes, mesmo no futuro, nunca têm razões de compreender?

2 comentários:

Anónimo disse...

será quer perdemos a memória só porque deixamos de a usar? quem sabe... Mas se estamos no futuro, como poderemos sonhar sem memória? talvez haja um chip para a noite!

Anónimo disse...

Memória é mais que sombra...
Esta só existe no lado contrário à luz, enquanto a memória pode ser um espesso quebra-luz.
Memória é a vida...daqui para a frente não sabemos se é luz se é breu.

Anónimo...o mesmo ou outro, já não me lembro