sábado, 19 de junho de 2010

De uma Nobel mais recente

A felicidade é uma coisa repentina.
(...)
A felicidade da boca quer estar só, é muda e com raízes por dentro. Mas a felicidade da cabeça é sociável, exige a presença dos outros. É uma felicidade que vagueia errante e também corre atrás, coxeando. Dura mais do que aquilo que consegue aguentar. A felicidade da cabeça é fragmentada e de difícil selecção, mitura-se a seu bel-prazer e transforma-se rapidamente de
felicidade clara
em felicidade
escura
apagada
cega
frustrada
clandestina
volúvel
hesitante
impetuosa
impositiva
tremida
desmoronada
renunciada
acumulada
conspirada
burlada
gasta
esboroada
confusa
emboscada
espinhosa
podre
reincidente
atrevida
roubada
desperdiçada
residual
falhada por um fio
Herta Muller, Atemschaukel
Tudo o que eu tenho trago comigo, D. Quixote

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