quarta-feira, 24 de junho de 2009

Uma Flor (cor, aroma e forma...)

Com que alvoroço
Eu me debruço para ti, simples botão,
Em cada dia, à hora do almoço,
E à tarde, e ao serão,
A ver, a adivinhar como é que assoma
A tua forma, a tua cor, o teu aroma!
llllllllllllllllll
A adivinhar... o quê? Se a conheço tão bem,
Se é tudo para mim
Essa que há-de nascer... Mas é o anseio, enfim,
Em que sempre nos põe uma vida que vem
Ao nosso lar, seja criança ou flor:
O seu aroma, a sua forma, a sua cor.
llllllllllllllllllll
Aberta, ao sol! Deus a conserve bela
E a não creste o calor e o vento a não remova.
Durasse uma existência... e eu ficaria a vê-la;
durasse mais ainda... e eu a levasse à cova.
Como enche o mundo todo e de todo o transforma!
A sua cor, o seu aroma, a sua forma...
lllllllllllllllllllllllllllllllllllllllll
Cabral do Nascimento, Uma Flor, Cancioneiro 1963 (In Cancioneiro, 1976)

1 comentário:

Evelyn L. disse...

Sempre um gosto (delicioso, por sinal), sentir as 'penas' daqui.
Absor(vendo), Observ(ando), Abstra(indo).

Um beijo pelo Atlântico.
Evelyn.