quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Das artes do mundo escolho a de ver cometas

xxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxxx Herberto Helder
Das artes do mundo escolho a de ver cometas
A cair no meu tempo.
Longos bordados de luz: histéricos, por não serem mortais
Como o meu corpo,
Baptismais,
Por não serem mais cruéis que o meu ofício.

Eles devem repetir-se, explodir mais demoradamente
Nos meus olhos,
Na vista rebentada até ao caos.
Rastos de sangue, gigantes pensamentos de crianças breves,
Cargas tremendas de alegria pura.

Cometas
Eu quero-os a cair sobre o teu tejadilho a céu aberto.
E em simultâneo
Em camas, templos, hospitais,
Como massas justas, como segredos virgens,
Derrames consagrados ao amor
Da primeira costela à última lágrima.
Como pingos de deus sobre
O meu nome.

Armando Silva Carvalho
O Amante Japonês, Assírio & Alvim, 2008

2 comentários:

Passiflora Maré disse...

Belíssima escolha, aliás!
Quer a sua, Augusto, quer a dele.

Anónimo disse...

Muito bonito.