domingo, 25 de janeiro de 2009

Retrato



uuuuuuuuuu

hhhhhhhhhh

kkkkkkkkkk

çççççççççç

É uma respiração contida
que recolho do retrato,
e colho o verde
que te fingia os olhos de esperança.

Amareleceram os cantos
da composição,
junto ao níquel pardacento
que esborratou
de imitação do tempo,
junto à tua mão a revoltar-me
os cabelos ainda loiros,
junto ao meu sorriso
que agora
se documenta amarelo.

Tinhas uns calções
em tom de tâmara,
ridículos,
agora,
nos ciclos da moda.

E, afinal,
ridículo é eu continuar
a ver-te azul
como o céu que se espraia
nesta tarde de maio,
espreitado de uma janela
excessivamente só minha,
quando me distraio do teu retrato.

Tão raro. Mas é
quando me distraio do teu retrato.

2 comentários:

Anónimo disse...

muito bem. está lá tudo.

Passiflora Maré disse...

Gostei da imagem de "continuar a ver-te azul", por "uma janela excessivamente só minha" quando se distrai.
A memória prega-nos partidas, belas e boas, abre-nos janelas de odores perdidos, gestos mortos e cores esborratadas...
Muito belo!