sábado, 29 de novembro de 2008

Males de Dirceu

A lua ia-se erguendo para os lados da Fortaleza de São Sebastião e a Ilha de Moçambique libertava-se, a pouco e pouco, do negrume que a envolvia. sá a sua tristeza, que se confundia com a pestilência que, não raro, devassava a ilha, teimava em não se deixar alumiar por uma réstia de luz.
Correra o ano de 1809, um ano em que fora presenteado com a nomeação para o cargo de Juiz da Alfândega de Moçambique. Após a sua chegada, em 1792, fora secretário de José da Costa Dias Barros, ouvidor geral, que o recebeu em sua casa, a ele que, então, não passava de um naúfrago, um despojo arremessado contra as rochas, condenado ao degredo, ao esquecimento, amputado, afastado, para todo o sempre, de quem amava, obrigado a percorrer milhas e milhas, mar e céu, céu e mar, do Brasil até àquele recanto do Império. Fora, depois, nomeado procurador da Coroa e da Fazenda e vinha exercendo a advocacia, sendo o único habilitado para tal naquelas paragens. Entrava, agora, em 1810 como Juiz da Alfândega.
Cansaço, desolação, vontade de desistir. se ao menos pudesse singrar sobre as águas como os dugongos que por ali passavam, qual Tritões, impantes, plenos de vida, e partir, talvez em busca de Letes, para que o esquecimento o dominasse e lhe varesse da mente a recordação da insídia, a insolente calúnia depravada, a venenosa espada da traição.
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Tibério Nunes da Silva, Males de Dirceu, A Contos Com A Justiça

1 comentário:

Anónimo disse...

Muito belo.