sábado, 6 de setembro de 2008

O sábio

28 de fimdo se"O sábio basta-se a si mesmo." Amigo Lucílio, muita gente interpreta incorrectamente esta máxima, afastando o sábio do mundo que o rodeia e reduzindo-o aos limites do seu corpo. Por conseguinte é imprescindível distinguir bem o que significa, e qual o alcance desta frase: o sábio basta-se a si mesmo para viver uma vida feliz, não simplesmente para viver,na medida em que para viver carece de muita coisa, mas para ter uma vida feliz basta-lhe ter um espírito são, elevado e indiferente à fortuna. Vou citar-te também uma análise apresentada por Crisipo. Diz ele que o sábio não carece de nada, conquanto precise de muitas coisas: "o insensato, pelo contrário, não precisa de nada (precisamente porque não sabe o uso correcto de nada), no entanto carece de tudo". O sábio precisa das mãos, dos olhos, de muita coisa necessária à vida quotidiana, mas não carece de coisa alguma: carecer implica ter necessidade, ser sábio implica não ter necessidade de nada. Por isso mesmo, embora se baste a si próprio, precisa de ter amigos; deseja mesmo tê-los no maior número possível, mas não para viver uma vida feliz, pois é capaz de ter uma vida feliz mesmo sem amigos. O bem supremo não vai buscar instrumentos auxiliares fora de si mesmo; está concentrado em si, reside inteiramente em si, se for buscar ao exterior alguma parte de si, principiará a submeter-se à sorte.
6 de setembro do ano de 20008
Lúcio Aneu Séneca, Cartas a Lucílio (Epistulae morales as Lucilium)
trad, pref. e notas de J. A. Segurado e Campos (F. Calouste Gulbenkian)

1 comentário:

mareiro disse...

devidamente aplicado.
quão actual é o texto...