quarta-feira, 27 de agosto de 2008

A tarde

As tardes que serão e têm sido
são uma só, inconcebivelmente.
São um claro cristal, só e dolente,
inacessível ao tempo e seu olvido.
São os espelhos dessa tarde eterna
que num céu se entesoura.
Naquele céu estão o peixe, a aurora,
a balança, a espada e a cisterna.
Um e todos os arquétipos. Assim Plotino
nos ensina nos seus livros, que são nove;
pode bem ser que a nossa vida breve
seja um reflexo fugaz do divino.
A tarde elementar ronda a casa.
A de ontem, a de hoje, a que não passa.

Jorge Luís Borges, Os Conjurados
(trad. Maria Piedade Ferreira e Salvato Teles de Meneses)

1 comentário:

Passiflora Maré disse...

Belo Princípio!
O Princípio Tarde.
Nesse caso, haverá também um para Manhã, Noite, Madrugada, Tardinhade???
Haverá sempre o que formos capazes de imaginar!