sexta-feira, 6 de junho de 2008

Cantando na noite

A noite caía, de uma teimosia imberbe
Obrigando-nos a aceitar o destino dado
A tua resistência, disse-o, de nada serve
Embora eu prometa continuar a teu lado

Com o escuro vieram essas formas invisíveis
Que nos assustam só pelo seu lado de existir:
Aquelas que gritam as promessas impossíveis
As que entretêm verdades, apenas para mentir

Acordámos os dois um pacto de silêncio
Fartos de tantas vozes roucas das ilusões
Das que teimam ensinar o que não penso
Pensando transformar carne em corações

Mas somos fracos, sós, contra este mundo
Que a todos quer ensinar todos os verbos
Que nos não larga da vista um só segundo
A pensar que nos sentimos os seus servos

Ainda assim, vamos, lado a lado
Que o escuro recue: iluminamos
No tempo que o braço não é dado
Fingimos ouvir, mas só cantamos

Esta cantiga fútil, mas toda inteira
De dizer não aos medos ou aos ais
Cantada assim, nesta fraca maneira
Ouve-se longe, como hinos siderais

2 comentários:

Anónimo disse...

Mas...ainda há bocadinho disse "até logo"...

Anónimo disse...

Às vezes é preciso gritar contra o escuro e contra as promessas desmedidas. Gritar até doer. cantar hinos como esses, que encham o universo.