domingo, 1 de junho de 2008

Big Apple 1

Estás a confundir os passos, a cada passo. Três minutos certos ultrapassaram a uma da noite em Nova Iorque. Contas dez para o lado Norte, contas mais dez para Sul, e só aí tiras as mãos dos bolsos. Dizes cem, duzentos, trezentos, quatrocentos, em vez de um, dois, três, quatro. Ensinaram-te que, assim, há mais precisão na correspondência com os segundos. Respirar fundo na contagem sul e voltas a recolher as mãos. Notas que estão suadas. Trinta segundos. Tens um relógio TAG de 21 quilates. Quando o pensas, pensas em 21 gramas. É um relógio precioso e preciso. Só que não contar ia ferver-te mais os pensamentos.
A meio da rua, no passeio do teu lado direito, está um andrajoso que cobre a noite com plásticos e atenua o frio da laje nos cartões que já enrolaram um frigorífico.
Neste momento, olha-te. Parece-te a ti que faz um subtil sinal de empatia, mas não faz. No engano, és tu quem o olha. Pensas uma certeza, Aquele homem não tem mulher. E apressas o passo, perdendo-te no quatrocentos.
A entrada do 315 continua hermeticamente fechada. É um prédio luxuoso de doze andares. O teu, com uma vista soberba, é o último, o mais alto. O quarto é do outro lado.
A tua mulher é loura, tem um metro e setenta e um e olhos esmeralda. Vale o peso em ouro. Tu tens a certeza – embora te repitas que é impossível ter certezas absolutas – que ela está na cama. E que está na cama com quem bem sabes. Irremediavelmente.
Voltas a olhar a porta e desvias o olhar para o mendigo. Passaram sessenta segundos, se tanto.

2 comentários:

Passiflora Maré disse...

Sessenta segundos em que um homem rico pode perder o lado "TAG" da vida.
E pode perigosamente aproximar-se do lado "asfalto frio" da mesma.

Anónimo disse...

A coisa irá aquecer mais que a menina da Pastelaria Catita?