sábado, 31 de maio de 2008

O Cosmos de Einstein

Assim que nos apercebemos que o espaço pode ser curvo, emerge uma nova imagem, desconcertante. Pensemos numa pedra pesada em cima de uma cama. A pedra afunda-se um pouco. Agora atiremos um pequeno berlinde para cima da cama. O berlinde não vai mover-se numa linha recta, mas numa linha curva, em redor da pedra. Há duas maneiras de analisar este efeito. À distãncia, um newtoniano poderia dizer que há uma "força" misteriosa que emana da pedra para o berlinde, obrigando-o a alterar o seu percurso. Esta força, mesmo que invisível, alcança e atrai o berlinde. No entanto, um relativista vê uma imagem completamente diferente. Para este, olhando a cama de perto, não há nenhuma força a atrair o berlinde, há apenas a depressão da cama, que dita o movimento do berlinde. À medida que se vai movendo, a superfície da cama "empurra" o berlinde até que este passa a deslocar-se num movimento circular.

Agora substituímos a pedra pelo Sol, o berlinde pela Terra e a cama pelo espaço e o tempo. Newton diria que uma força invisível chamada "gravidade" atrai a Terra e a mantém em torno do Sol. Einstein responderia que não há qualquer atracção gravítica; a Terra é deflectida em torno do Sol porque é a curvatura do próprio espaço que está a empurrar. De certo modo, a gravidade não atrai, mas o espaço empurra.

De acordo com esta imagem, Einstein conseguia explicar porque razão qualquer perturbação no Sol levaria oito minutos a chegar à Terra. Por exemplo, se de repente retirássemos a pedra, a cama recuperaria imediatamente a sua forma normal, criando ondas que se deslocariam, a uma velocidade definida, através da cama. Da mesma forma, se o Sol desaparecesse, criaria uma onda de choque de espaço distorcido que se deslocaria à velocidade da luz. Esta imagem era tão simples e elegante que Einstein conseguiu explicar a ideia essencial a Eduard, seu filho mais novo, que lhe perguntou por que é que ele era tão famoso. Einstein respondeu: "Quando um besouro cego rasteja sobre a superfície de um ramo curvo, não repara que o caminho que percorreu é, na realidade, curvo. Eu tive a sorte de reparar naquilo em que o besouro não reparou".

Michio Kaku, O Cosmos de Einstein, Gradiva, 2005 (Michio Kaku é professor de Física Teórica na City University e no City College de Nova Iorque. è autor de programas na Rádio e na Televisão e de vários livros de ensino ao nível do doutoramento que constituem leitura obrigatória nas mais prestigiadas universidades do mundo).

1 comentário:

Anónimo disse...

Verdade se diga que o pessoal, em geral e com respeito pelo contrário, é besouro e, como se tal não bastasse, é besouro cego.