domingo, 25 de maio de 2008

Despertar

O tempo parecia estagnado, irreal. Nem o frio, que entrava no quarto pelas frinchas das janelas, lhe parecia real; parecia-lhe apenas o continuar de um Inverno já muito antigo, do qual ele não se lembrava do início e que ininterruptamente continuava ano após ano, dia após dia.
Olhou pela janela do primeiro andar, onde vive há pouco mais de uma semana e observou a rua em frente. As pedras, sujas de lama e merda de animais, escurecidas pelo tempo, formavam uma calçada disforme, que lhe parecia desprovida de sentido, porque se mostrava incapaz de manter uma continuidade, incapaz de ligar aquela pequena aldeia ao resto do mundo.
Acendeu um cigarro, tentando afastar o tédio. Nesse momento passou lentamente um senhor, já com uma certa idade, tão carregado, que Sisifo se sentiria aliviado a vê-lo. E assim ficou pacientemente encostado à janela, deixando que o cigarro se consumisse lentamente entre os seus dedos…

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