Leonardo via a noite desfazer-se, num ritmo apressado, através das vidraças livres de cortinas. O dia poluía o repouso da noite e começava a opor sombra e luz à escuridão uniforme. Pairava sobre a sua cabeça apoiada no colchão, sem travesseiro que a elevasse, um presságio de repouso acabado. Um movimento latente crescia nas calças e na sua camisa, estiradas na cómoda gelada por um tampo de mármore, ao lado do prato com o pão partido. Maria Gabriela Llansol, Os pregos na erva.
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2 comentários:
A beleza desta escrita dá-me tristeza de a não ter conhecido antes, especialmente em vida da autora.
Comungo da mesma decepção pessoal de não ter visto antes a beleza desta escrita. O post é um elogio precário para grandeza tão intensa. O "Os pregos na erva" será um dos contos mais belos. É daqueles que se lê repetidamente e, em cada leitura, se descobrem mensagens e imagens renovadas. O texto deixado é do seu início. è especialmente belo, para mim, a maneira como se consegue dizer que o dia vence a noite, a oposição entre a primeira luz e a escuridão completa... a poluição da escuridão com a luz!
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