sábado, 2 de fevereiro de 2008

Setembro, junto à avó

Em Setembro na altura das vindimas ias
À tarde recolher-te à sombra da ramada
Olhando céu, os bichos, as cestas vazias
Enquanto o bulício mexia a brisa parada

Enchias os olhos da labuta saudosa
Com que recordavas o teu ido tempo
Vendo cada gesto na forma vagarosa
Que confunde saudade e movimento

Se um catraio te reclamava uma atenção
De te ausentares da observação do outro
Arranjavas-lhe gesto de emprestar a mão
Sem que da paisagem vacilasses o gosto

E ganhavas a tarde no tempo perdido
Despreocupada com qualquer desafio
Sem pensares no teu netinho fugido
Que deveria andar a saltitar no rio

Alheio aos deveres de fingir-se capataz
A cuidar dos mostos e do vinho fino
Perdido nalgum verso que não era capaz
De prender ao gosto de continuar menino

E assim o ensinavas sem nada lhe dizer
Que o bom da vida é sentir-se a idade
Interessa é brincar, correr, crescer e ver
Que cada poema tem a sua liberdade.

2 comentários:

Anónimo disse...

gosto muito da "lembrança do mar" (acho que é assim) quando as gaivotas desenham mantos de arraiolos em forma de cruzetas, mas este da avó, da vindima e do netinho poeta é capaz de me alegrar ainda mais. O verso "one", que me parece o mais gostoso (conseguido) é o empréstimo da mão da avó a outro menino: "arranjavas-lhe gesto de emprestar a mão". Nada a acrescentar...

Anónimo disse...

perdido nalgum verso que não era capaz de prender ao gosto de ser menino!
é uma espécie de louvor aos poetas meninos ...