Se numa fria noite de Outono um viajante
Entrasse desabrido nas palavras, em rompante
As dilacerasse em cacos e cacos de sentidos
Dos antigos e breves aos novos e compridos
As puxasse insistente, letra a letra, som a som
Desfazendo-lhe nesse dissecar cada seu tom
Como quem separa pétala e espinho ao lado
Como quem aparta o som do riso do som do fado
E, depois de tudo, mesmo exausto, fosse inventar
Sentidos novos, já perdidos, como se fosse acabar
Por descobrir o último sentido, o sem-sentido
Deus e diabo em verso de prosa desmedido
Nesse verso procurando, acho eu encontraria
Santo Graal, pedra filosofal, enfim, toda a poesia.
Se revirando o poema, carnal – reprocurasse
E hipótese avara, infernal, não o encontrasse
Perdia eu na esperança do lance o selo sétimo
(ele define quem no após mundo resta préstimo)
E lhe diria, de nó no joelho, pintado em pranto
Que por muito que sem resultado fizesse espanto
O que interessa é a labuta, a empresa a que se deu
Pois só no gesto da demanda (só) se alcança o céu.
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4 comentários:
gostava também de desfazer as palavras, especialmente as mais usadas (essas, as menos ousadas...)e reconstruir um dicionário solto ao vento, deixando que cada uma pousasse no resguardo de um colo que a enfeitásse de encantos novos, com o carinho de quem as ama.
Bom se quizer... o meu colo?
terei todo o gosto
a colo dado não se olha ao dente!!!
Um lindo poema sobre a palavra e o sentido.
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