sábado, 1 de dezembro de 2007

P D















Delgada Ponta que me dá saudade
Imagem fugidia a par d' idade
Veria essa luz na inteira noite
Sem perder este olhar d' assombro
(o mar revolto, a água, o monte)
Se pudesse sonhar-te só metade
E dormiria aconchegado no teu ombro

3 comentários:

Anónimo disse...

Também os heróis caem em combate com um grito.
Ao longo do quarto, unidos num abraço, num passo
tão lento, inerte se possível, ofereciam-se
em estatuária. A luz era somente a da igreja
defronte, trespassava o quarto
envolvia os corpos
o mínimo nervo, os músculos - o anti-teatro do
amor enegrecia o metal, o valor passivo
do olhar
o domínio dos lábios permanece por detrás da sua
natureza
a fábula dos que ocasionalmente se querem, a sua
arte
neste quarto de hotel em Ponta Delgada - quem
quererá amar
se recebe a frialdade da pedra?

(...)

João M. Fernandes Jorge, quarto de hotel em Ponta Delgada.

Anónimo disse...

"Não era a questão dos olhos cinzentos e do plúmbeo cabelo
e a pele de quem sempre viveu na parte mais sombria da
ilha. Nada disso. A jarra do seu corpo é um ramo de tamujo
e louro de cheiro, suave prisão na qual a divindade o encerrou.

E se a beleza é outra coisa,
então viu o erro que fizera em se deter tanto no caminho e
em fazer tamanho gasto, como fez, com o prazer;
....
Julga-se bibliotecário de Alexandria recopiando as leis que Platão escreveu em tabuinhas de cera.
Procura expressões sinónimas para se perder. E,
em Ponta Delgada, entende a longínqua corrupção de legislador
ideal.

João Miguel Fernandes Jorge, café em frente à Matriz, Bellis Azorica

Anónimo disse...

"Às vezes chove de repente sobre a ilha. É quando
te deixo em casa, numa rua de Ponta Delgada. Lembro-me
depois dos teus olhos de animal triste, quando é de noite
e apetece não te ter deixado em casa nessa noite
e levar-te para o faial, onde se pode ser feliz e ignorado.

Temos a cabeça na lua, mudamos de lugar
sem nos fixarmos senão eu no voo das garças
se ele existir.

Digo levo-te comigo, mas não é assim,
levas-me tu pelas ruas de Ponta Delgada.
Quando fico sozinho, depois, chove de repente sobre a ilha
como se ficasse triste por chover, abandonado,
entregue ao sono, á noite, ao mar."

Francisco José Viegas, Ponta Delgada