domingo, 30 de novembro de 2008
entre as gargalhas e o choro
Por Amor
“No dia a que se reportam os autos, estando a arguida na cozinha e o filho no quarto, preparou um chá, no qual deitou o conteúdo do frasco de Paratião, dizendo-lhe que bebesse porque lhe iria fazer bem”.
A ideia surgiu-lhe naquele instante. Preparou o chá e açucarou-o bem, como sabia que Pedro gostava. Depois, pegou no frasco do veneno e verteu-o na chávena. Misturou tudo e deu-lhe sabor com um cálice de Porto.
- Bebe, meu filho, bebe que te vai fazer bem! – disse-lhe, os olhos rasos de água.
“A arguida agiu com intenção de matar o filho”.
- Levante-se a ré – disse o juiz do meio. Maria do Rosário nem o ouviu.
Foi preciso o seu advogado chegar junto dela e abaná-la para que o espírito voltasse de novo à sala.
- Quer dizer mais alguma coisa em sua defesa? – tornou o juiz.
- Tanto se me dá ir para a cadeia como ficar cá fora. A vida para mim acabou. Faça de mim o que quiser, senhor doutor juiz. Gerei o meu filho por amor. E foi por amor que o matei.
(In)justiça
Os disfarces de Arlequim
- Escusas de me estar sempre a lembrar isso! - notava-se que Scarlett não estava nada à vontade - Já vivi essa maldita cena mais do que mil vezes! A Maggie sempre podia ter-me dado um fim melhor!
- É isso, Scarlett. Nenhuma de nós é perfeita. Se temos uma ideia, se representamos uma ideia, outras nos hão-de faltar. Não somos criaturas completas, completamo-nos umas às outras. Por isso, concordei com Maria quando disse que estávamos todas de acordo. Eu luto pela condição feminina, a Florbela pela condição apaixonada, a Isadora pela condição corporal e a Scarlett pela condição patriótica.
- Sem terem uma pátria, não sentem o corpo, sem sentirem amor, não se sentirão femininas, sem serem femininas, não darão valor ao corpo, sem gostarmos de nós próprios, de que nos vale a paixão? Tudo se completa... - Era Florbela que rematara.
Maria estava confusa. Muita coisa ainda não percebera.
- Mas porquê eu?
Foi Isadora na sua precoce infantilidade que lhe respondeu.
- Porque tu, Maria Sklodowska, vais-nos suplantar a todas. Embora todas nós sejamos portadoras de ideias universais, todas nós somos, no fundo, umas egoístas, só pensamos em nós próprias ou naqueles que nos estão muito próximos. Eu cultivo o meu corpo, a Florbela inventa príncipes encantados para a sua desdita, a Simone combate pela causa feminina, excluindo portanto, os homens e a Scarlett luta pelo seu castelo de terra ali para o Sul do Novo Continente. Tu, não, Maria, tu vais construir uma obra verdadeiramente universal em proveito de um progresso tecnológico que, fatalmente, terá de acompanhar o fulgor das ideias e das emoções. Vai para o laboratório mas não te esqueças das lágrimas apaixonadas da pobre da Florbela, da garra e sentido patriótico da Scarlett, da força da militância da Simone que luta pelo que quer alcançar e da minha sensualidade improvisada, dos meus sentidos, dos meus saltos, do amor próprio, do orgulho em seres quem és. A Ciência sem isso, nada será, apenas fará perigar a nossa vida...
jjjjjjjjjjjjjjj
sábado, 29 de novembro de 2008
A justiça por um conto
Um ciclo da água
Males de Dirceu
A Luísa, o Marco e um pequeno apartamento
O Senhor Fortunato
A caminho de Santiago
Processo Tutelar n.º 37/01. Mariana
sexta-feira, 28 de novembro de 2008
W. B.
William Blake, pintor e poeta inglês, nascido em Londres a 28 de Novembro de 1757
No tempo da semeadura, aprende; na colheita, ensina; no inverno, desfruta. Conduz teu carro e teu arado por sobre os ossos dos mortos. A estrada do excesso leva ao palácio da sabedoria. A Prudência é uma solteirona rica e feia, cortejada pela Impotência. Quem deseja, mas não age, gera a pestilência. O verme partido perdoa ao arado. Mergulha no rio quem gosta de água. O tolo não vê a mesma árvore que o sábio. Aquele, cujo rosto não se ilumina, jamais há de ser uma estrela. A Eternidade anda apaixonada pelas produções do tempo. A abelha atarefada não tem tempo para tristezas. As horas de loucura são medidas pelo relógio; mas nenhum relógio mede as de sabedoria (…)
William Blake, Provérbios do Inferno
memória refeita nas folhas tombadas (variação I)
(além da idade... -
envoltos nos trapos de
um coração ausente)
e, de repente,
cirzo as lembranças
esfiapadas
dos retalhos de um sorriso antigo
- é contigo;
ele que me faz das memórias
um arco-íris.
Foi quinta-feira e
choveu oiro
nas cores sobrantes do verão indiano
(não é assim, contigo, todo o ano?)
que te espelha o brilho no da terra.
Gosto é dos amarelos.
Só para não ter que sonhar
os teus cabelos.
quinta-feira, 27 de novembro de 2008
quarta-feira, 26 de novembro de 2008
Mário Cesariny
terça-feira, 25 de novembro de 2008
segunda-feira, 24 de novembro de 2008
102 (24.11.1906)
Abro os olhos novamente.
Neste abrir e fechar de olhos
já todo o mundo é diferente.
Já outro ar me rodeia;
outros lábios o respiram;
outros aléns se tingiram
de outro Sol que os incendeia.
Outras árvores se floriram;
outro vento as despenteia;
outras ondas invadiram
outros recantos de areia.
Momento, tempo esgotado,
fluidez sem transparência.
Presente, espectro da ausência,
cadáver desenterrado.
Combustão perene e fria.
Corpo que a arder arrefece.
Incandescência sombria.
Tudo é foi. Nada acontece.
ANTÓNIO GEDEÃO, Tudo é foi
domingo, 23 de novembro de 2008
Dá cá uma raiva...
Estás deitado na tua cama; luz apagada, olhos bem fechados e perguntam:
- Estás a dormir?
- Não! Estou a treinar para morto.
2.
Levas um electrodoméstico para reparar e o técnico pergunta:
- Está avariado?
- Não! Ele estava aborrecido de estar por casa e eu trouxe-o para passear.
3.
Está a chover e percebem que vais sair à chuva. Perguntam:
- Vais sair com esta chuva?!
- Não! Vou sair com a próxima.
4.
Acabas de tomar banho e alguém pergunta:
- Tomaste banho?
- Não! Está a chover no WC.
(com agradecimento a j.f.p.)
sábado, 22 de novembro de 2008
Máquina
desenham a palavra
sua parente desumanidade
Como metáfora porém a utilizas
nomeando a teia desse mundo
que os deuses amam e odeiam
João Pedro Mésseder, Ordem alfabética
sexta-feira, 21 de novembro de 2008
a raiz do teu gesto
a raiz do teu gesto
encontrei-a naquela barca à vela
mas foi a nau catrineta
que me disse onde não estavas
por isso fui
sempre
levado pela maresia
quando sabia
que tu eras menos do que gesto
francisco d'eulália, A raiz do teu gesto, poemas
quinta-feira, 20 de novembro de 2008
Com estados de alma
quarta-feira, 19 de novembro de 2008
Carta
Não, comecei mal. É absurdo usar contigo o mesmo tratamento a que recorro quando quero assinar uma revista, escrever aos clientes ou mesmo reclamar de um serviço.
Tu, cujo nascimento significou para mim um mundo de novas possibilidades – saberias jogar à bola e brincar aos polícias e ladrões? Conseguirias, ainda que daí a mais tempo do que eu gostaria de admitir, ler os livros que eu começava a espreitar, ou fazer pistas de carros no nosso infinito corredor, cheias de pontes e túneis?
Nesse momento, tudo me pareceu muito confuso (e tu, muito vermelho e enrugado…). Mas sei, ainda, com que bonecos brincava quando o Pai me veio dar a notícia, e não me poderia nunca esquecer que foi na minha direcção que andaste sem ajuda pela primeira vez.
Por isso, e muito mais que não conseguiria dizer, tenho de recomeçar, desta vez com o único vocativo digno de ti.
Meu irmão:
Preciso de desabafar. Confissão rara num primogénito, que mais se assemelha a uma fortaleza inexpugnável: preocupado com o crescimento dos seus irmãos, pronto a resolver os sarilhos deles, quase se sentindo responsável se algo corre mal, acaba por não ter sequer tempo para admitir os seus próprios problemas, quanto mais para os resolver.
Só que, tendo os outros irmãos muito mais perto, porquê logo tu? É simples.
Manhã de Júbilo
Convivi mal com a minha infidelidade. Faltava-me a destreza, que só com o hábito se adquire, para relegar o remorso para as rápidas orações do fim do dia. Por outro lado, o meu casamento, ao contrário dos das grandes fortunas, não tinha por pressuposto essas curvas do caminho, que se aceitam até com alívio, por significarem que a ordem natural das coisas continua a funcionar. Nesses grandes contratos, regados a champanhe francês nos jardins dos solares da família, sabe-se que o prazer não faz parte do dote, pelo que se aceita com a dignidade do cumprimento de uma cláusula, que cada um se governe como muito bem entende. Quem se vincula por uma dessas festas sabe que um valor vale se prosseguir um fim, sendo que a manutenção dos casamentos, como forma de sobrevivência das castas, é, sem dúvida, um fim indiscutível. Mas a fidelidade, nessas esferas, não é estritamente essencial à manutenção dos casamentos, que sobrevivem à custa de outros esforços e expedientes.
Renascer
Ana tentou descontrair um pouco. Não era fácil. Ainda sentia a euforia póstuma dos momentos vividos com intensidade.
Revia mentalmente os acontecimentos da última semana. A conferência Ibero-Americana, sobre violência doméstica, na qual participara, superou as suas melhores expectativas. Havia sido magnificamente acolhida pelos colegas brasileiros. Nada que devesse constituir factor de surpresa, porquanto, em todas as viagens de férias que fizera aquele país, sempre se havia sentido em casa.
Agora, apenas oito horas de travessia atlântica a separavam do marido e filhos, que a esperariam em Lisboa.
Havia que voltar à rotina diária: lidar com os conflitos simbolizados e corporizados pelos processos que, inapelavelmente, se amontoavam no seu gabinete de trabalho.
Enfim, retomar as responsabilidades adiadas, por uma semana que primara pelo contraste com o frenesim do seu quotidiano pessoal e profissional.
Apesar de tudo, considerava-se afortunada e nem por um momento punha em causa a escolha profissional que havia feito, ainda era uma criança.
Veio-lhe à memória essa época.
Em especial, o dia em que a pretexto de um trabalho escolar, pediu aos pais fotografias da sua infância.
Já por diversas vezes havia estranhado o facto de aqueles nunca terem relatado o seu nascimento, nem terem feito referência aos seus primeiros passos.
E foi nesse dia, que os pais, emocionados, lhe revelaram não ter acompanhado o período em relação ao qual não havia registo fotográfico na sua casa.
A Senhora Sem Nome e a Outra Senhora
Os olhos do juiz mais novo esbugalhavam uma surpresa que emparelhava com a admiração de uma prematura ruga, a franzir-lhe na testa: o atrevimento do delegado! O juiz-presidente arrastou ninguém até ao silêncio. Mas logo alteou o tom, de peito cheio:
- Foi magia, doutor Almeida: a senhora, era assim que se chamava e tinham-se esquecido, disse que às vezes deixava a identidade na mesinha de cabeceira, não fosse perdê-la no ruedo, e a autoridade não lhe permitira ir à sua cata. Claro que eu interrompi o julgamento, doutor Almeida... deixei as teorias lá onde devem ficar e, passado nem cinco minutos, a senhora tinha nome, tinha os demais adereços e até tinha cartão de identidade... e tudo se resolveu. Sei lá se contra a lei!
- Sei lá! – mal se ouviu ao mais novo.
- Sei lá... – nem se ouviu ao doutor Fernandes.
- Como vê, doutor Almeida, a surpresa atacou-me na ocasião mais frágil, mas a solução -... e aí é que quero chegar – reforçou-me o entendimento: cada dia é um caso, cada caso é um olhar; depois, há sempre gente... atrás das teorias.
kkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
terça-feira, 18 de novembro de 2008
Trilogia Breve
Testemunho
Mishima
“A 25 de Novembro de 1970, o mundo era surpreendido com a notícia e as imagens do suicídio ritual do escritor Yukio Mishima (nascido em 1925 como o nome de Hiraoka Kimitake). Mishima, um dos mais notáveis escritores japoneses do pós-guerra, desenvolvera durante um quarto de século uma prolífica actividade como romancista, dramaturgo, actor e realizador de cinema, e assumira-se como uma das vozes mais críticas da modernização acelerada do Japão, que se tornara particularmente notória durante os anos sessenta. O seu suicídio foi uma forma de protestar contra aquilo que ele considerava a descaracterização da milenar civilização nipónica. Com o Ciclo Mishima, Um Esboço do Nada, o CCB evoca a figura e a obra de Yukio Mishima nas suas diversas vertentes: como dramaturgo, como romancista e como actor/personagem de cinema. Uma exposição construída pelo desenhador Tiago Manuel visita três obras fundamentais do autor de Confissões de Uma Máscara e Ko Murobushi, expoente da dança butô, apresenta-se no Pequeno Auditório.”
http://www.ccb.pt/sites/ccb/pt-PT/Programacao/Ciclos/Pages/CICLO%20MISHIMA.aspx
Um Tiro na Nuca, Porque Sim
António Sampaio Gomes, Um tiro na nuca, porque sim, A Contos Com A Justiça
segunda-feira, 17 de novembro de 2008
Os Pássaros e as Penas
O Ladrão das Penas
E os outros não?
(anúncio visível em maços de cigarros, mesmo hoje, dia dos não fumadores)
Um Inverno em Lisboa
Antonio Muñoz Molina
Un invierno en Lisboa (fragmento)
www.epdlp.com
Estudo em Vermelho
The Science of Deduction
We met next day as he had arranged, and inspected the rooms at No. 221B, Baker Street, of which he had spoken at our meeting. They consisted of a couple of comfortable bedrooms and a single large airy sitting-room, cheerfully furnished, and illuminated by two broad windows. So desirable in every way were the apartments, and so moderate did the terms seem when divided between us, that the bargain was concluded upon the spot, and we at once entered into possession. That very evening I moved my things round from the hotel, and on the following morning Sherlock Holmes followed me with several boxes and portmanteaus. For a day or two we were busily employed in unpacking and laying out our property to the best advantage. That done, we gradually began to settle down and to accommodate ourselves to our new surroundings.
Holmes was certainly not a difficult man to live with. He was quiet in his ways, and his habits were regular. It was rare for him to be up after ten at night, and he had invariably breakfasted and gone out before I rose in the morning. Sometimes he spent his day at the chemical laboratory, sometimes in the dissecting-rooms, and occasionally in long walks, which appeared to take him into the lowest portions of the city. Nothing could exceed his energy when the working fit was upon him; but now and again a reaction would seize him, and for days on end he would lie upon the sofa in the sitting-room, hardly uttering a word or moving a muscle from morning to night. On these occasions I have noticed such a dreamy, vacant expression in his eyes, that I might have suspected him of being addicted to the use of some narcotic, had not the temperance and cleanliness of his whole life forbidden such a notion.
As the weeks went by, my interest in him and my curiosity as to his aims in life gradually deepened and increased. His very person and appearance were such as to strike the attention of the most casual observer. In height he was rather over six feet, and so excessively lean that he seemed to be considerably taller. His eyes were sharp and piercing, save during those intervals of torpor to which I have alluded; and his thin, hawk-like nose gave his whole expression an air of alertness and decision. His chin, too, had the prominence and squareness which mark the man of determination. His hands were invariably blotted with ink and stained with chemicals, yet he was possessed of extraordinary delicacy of touch, as I frequently had occasion to observe when I watched him manipulating his fragile philosophical instruments.
A Study in Scarlet
sábado, 15 de novembro de 2008
Sob Escuta
O Passo do Anjo
E por isso a Maria Eugénia tomou a decisão de ir falar com o padre, nos seus momentos de aflição virou-se sempre para a Igreja e este não seria excepção.
O padre era um indivíduo curioso, que tinha conseguido naquela pequena paróquia perdida no meio das frágas mobilizar os jovens com uma postura muito alegre e comunicativa, e após alguma desconfiança inicial venceu todas as resistências dos mais velhos, que acabaram por acolhê-lo.
Deus, dizia ele, tem um projecto de felicidade para cada um de nós.
Sónia Alexandra Moura, O passo do anjo, A Fazer De Contos
Cavalos Árabes
2.
é constante
(querendo assim dizer que
a persistência te justifica o som)
só porque,
na idade que tens por tua,
te dá o esporádico medo da noite fria;
só porque,
se não adormeces no instante do desejo,
o devaneio apodera-se do escuro
que te envolve
(e é ele que decide - acrescentas)
- ...
quando o perguntas
(quanto o perguntas!)
queres uma resposta que não tenho.
sexta-feira, 14 de novembro de 2008
O Lugar do Vivo
A Inutilidade da Lide
O Tempo das Promessas
O Gato Borralheiro
A sala era, ainda assim, pequena de mais para conter tantos odores. O corpo e a roupa do Miguel, cheiravam-se, já não viam sabão há um bom par de semanas.
Ainda bem que me lembrara de trazer aquelas bandas desenhadas que o meu "puto" tinha em duplicado (demasiadas festas de aniversário é no que dá).
O Miguel contava então com oito anos de idade, feitos dias antes.
Se, além da idade e da descrição do rosto, lhes disser que o Miguel vivia num barracão, de tábuas negras encortiçadas, com o chão térreo coberto por um oleado que as águas barrentas de Inverno iam tingindo de "laranja", fica mais fácil imaginar o Miguel?
Paulo Correia, O Gato Borralheiro, A Fazer De Contos
quinta-feira, 13 de novembro de 2008
Bunnyranch
Depois da edição de "Teach Us Lord" , primeira parte do registo, os Bunnyranch vão mostrar "How To Wait" com a co-produção de Boz Boorer, o fundador dos Polecats, que tocou com Adam Ant e é, desde 1992, guitarrista e director musical de Morrisey (The Smiths).
Concertos agendados para este Mês:
13 Ar d´Rato (Coimbra) - 23h30
15 Fnac Mar Shopping (Matosinhos) - 17h00
16 Fnac Norte Shopping (Matosinhos) - 17h00
21 Music Box (Lisboa) - 23h00
1.
a ALMA
com os escombros de um poema
- perguntas porque divisas luz
entre a poeira do asfalto (o ritmo
solene do indizível
que permite baixar o infinito
às nossas pequenas coisas)
Grato-te,
comovido de choros pretéritos,
gritante de alegrias vindoiras:
porque o perguntas.
quarta-feira, 12 de novembro de 2008
Nocturnas Portas
Mário Rui de Oliveira, O vento da noite
terça-feira, 11 de novembro de 2008
Fiódor Mikhailovich
Peças de Música
De qualquer modo sempre direi - "eu é mais naves e legos do espaço, não é?"
segunda-feira, 10 de novembro de 2008
Quando tudo arde
SÁ DE MIRANDA
mmmmmo olhar que ao ir-mos embora nos segue até à porta e desiste, e escurece, e fica para ali
mmmmmum objecto sem lugar
António Lobo Antunes, Que farei quando tudo arde
Que farei no outono quando ardem
as aves e as folhas e se chove
é sobre o corpo descoberto que arde
a água do outono
Que faremos do corpo e da vontade
de o submeter ao fogo do outono
quando o corpo se queima e quando o sono
sob o rumor da chuva se desfaz
Tudo desaparece sob o fogo
tudo se queima tudo prende a sua
secura ao fogo e cada corpo vai-se
prendendo ao fogo raso
pois só pode
arder imerso quando tudo arde
Gastão Cruz, As Aves, Transe (antologia 1960 - 1990)
domingo, 9 de novembro de 2008
O poema e o desejo
sábado, 8 de novembro de 2008
Coliseu dos Recreios, 2004
essa arte de tornar presente
a mais pura e inesperada ausência.
Não sei explicar melhor.
Horas depois, na penumbra
de um bar fechado, alguém
me obrigou a escrever o seguinte:
"os nossos filósofos e historiadores
(raiz quadrada) são os
nossos compositores e intérpretes".
talvez seja isso - a pior manhã
que nos encontrou vivos,
a morte que não se diz
quando apenas o cavaquinho sabe
que nenhuma voz regressa.
Manuel de Freitas, Cretcheu Futebol Clube