sábado, 29 de novembro de 2008

Processo Tutelar n.º 37/01. Mariana

Mas, outra vez porquê
Será porque lêem tantos livros? Mas afinal de que lhes serve isso se não sabem o que vale um simples gesto de apertar quem se gosta, assim, juntinho ao coração...
Enquanto assim pensava, deu por si a apertar com muita força as suas mãos e os seus braços franzinos, sentindo o calor que vinha do peluche que encostava ao peito, para não deixar que este, com o seu poder mágico, transformasse aqueles intrusos em pó, ou mesmo em sapos, mas sem príncipes e fadas. E, por se não querer denunciar, Mariana percorreu com os seus olhos os cantos da casa, procurando em vão os trapos que em tempos se amontoavam naquele chão, mas que agora estava limpo pelas mãos renovadas da sua mãe. E sentiu-se repentinamente tão injusta, mesmo em pecado de crucifixo, por estar a pensar nela assi,m, sim, apenas assim, como se tivesse sido algum dia apenas mais que um trapo.
lllllllllllll
Nelson Fernandes, Processo tutelar nº 37/01. Mariana, A Fazer De Contos

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