sábado, 29 de novembro de 2008

A caminho de Santiago

O que realmente o angustiava, como agudo ferrete, era saber-se, ele próprio, perdido perante tantas proclamadas verdades, num labirinto infindável e sem saída, bússula inútil, descrente de si e da avaliação que dos outros já não alcançava fazer. e cada dia encontrava no cru olhar do cinismo um sedutor amparo.
Talvez por isso pusera pés à estrada, palmilhando o caminho de Santiago de Compostela, escolhendo, entre outros percursos, o mais árduo; alguém lhe falara em "lavar a alma", retornar às coisas simples e absolutas, recomeçar de um desejado zero para descobrir um destino.
Assim mesmo: um passo, depois outro, devagar. Ao longe, um dia, havia de vislumbrar Santiago. E depois, regressado ao Tribunal, confrontado ainda outra vez com o denso corrupio daquelas vozes plurais, passo a passo, com desejada lentidão, e, entre outras, escolheria a que falaria mais alto, perdurando para além do ruído e da incerteza. Talvez que o testemunho mais autêntico se refugiasse, afinal, na mais altiva das mentiras.
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José Igreja Matos, A caminho de Santiago, A Fazer De Contos

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