Há também, nestes contos, auto-ironia e humor: "De qualquer forma, não sou como alguns juristas, pois o que mais me desagrada após aqueles infindáveis e frequentes julgamentos, é a companhia dos que se apressam a permanecer nos corredores. (...) E depois de decidir um conflito, julgar uma prostituta, um deputado, um ministro, um chulo, um administrador de empresa ou director de hospital, nada mais tem sentido nesta direcção, desde logo porque se é trabalho, fatiga, e se é conversa, é inútil."
Gosto desta lista e da sua sequência sarcástica. Acho saudável a atitude discreta e profissional do juiz-narrador. Mas do que eu gostava mesmo era desse dia em que deputados e ministros e grandes empresários chegassem a tribunal. Lugar comum: a certeza de que um dos principais problemas de Portugal, talvez o pior, é a demora e, por arrastamento (literal), a ineficácia da justiça. Mas um lugar-comum é também o sítio em que todos nos revemos.
É possível julgar sem estados de alma? Talvez. Escrever é que não.
gggggggggggggggg
Rui Cardoso Martins, do Prefácio, A Contos Com A Justiça
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