segunda-feira, 17 de novembro de 2008

O Ladrão das Penas

A falésia entrava-lhe pelos olhos dentro, sem piedade.
A maré daquela água mais do que azul tocava-lhe, como réstia de seda, no coração, amaciado pela ventania anónima que, naquele fim de dia, se fez indiscretamente convidada.
Sempre venerara as tempestades, sempre olhava as fúrias da Mãe Natureza com extrema indulgência e com uma vontade indómita de as seguir e com elas desfazer-se em ar e ruído, voando para outros continentes de olhos bem vendados e com apenas o poder de estremecer as folhas mais altaneiras das árvores.
Oito horas de uma noite desusadamente estival, em Cascais.
Era um pedaço de dia cheiroso, pleno de buganvílias, recheado de passageiros sem rosto e sem passado, espalhados pelas esplanadas da prais, pelos bares de estrangeirados, pelas complacentes praças...
Como preces, Tomás ouvia, junto à Boca do Inferno, os sussurros das gaivotas e entendia-os, decifrava-os.
rrrrrrrrrrrrrrrrrr
Paulo Guerra, O ladrão das penas, A Contos Com A Justiça

2 comentários:

Anónimo disse...

Lindo de morrer... por amor...

Anónimo disse...

bem lindo, sim senhor