No Inverno passado, quando o vento e a chuva teimavam em entrar pelo respiradouro do tejadilho da Ford, munidas de papel em triplicado, duas senhoras da Segurança Social, acompanhadas de outros tantos polícias, vieram buscá-lo e levaram-no com elas.
Recorda-se ainda do choro da mãe e da raiva do pai.
Depois disso, voltou a vê-los apenas numa ocasião, duas semanas depois, quando já se encontrava naquela outra casa grande, cheia de senhoras e crianças.
De então para cá, o Marco já mudou novamente de casa, mas ainda não teve tempo para estudar química e os opiáceos.
Quando crescer, mesmo que não chegue a ser um bom aluno a química, vai acabar por perceber a razão da memória da imagem dos pais a queimarem pelo fundo a sua colher de papa, enchendo-a de uma água com que depois enchiam os seus braços.
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Paulo Correia, A Luísa, o Marco e um pequeno apartamento, A Contos Com A Justiça
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