terça-feira, 30 de setembro de 2008
O tempo da exausta quietude
Super Trouper
No meu currículo cinéfilo, contam-se pelos dedos de uma mão os musicais que vi. Na verdade, não é um género que me fascine muito, uma vez que a maior parte do tempo é passado a dançar e a cantar, não havendo grande trama dramática, mas apenas muitas carinhas estupidamente bem dispostas.
Contudo, este é o filme que, segundo os meus cânones estéticos, constitui essa sublime excepção. Mama Mia relata uma aventura de descoberta, reencontro e amores perdidos em anos já passados, quando a distância não se media por mensagens de telemóvel ou até mesmo correios electrónicos. Amores de Verão que realmente possuíam esse toque de lenda e nostalgia, traduzidos em vagas promessas de regresso. Um regresso que, no caso do filme, acaba por ser imposto por quem não se contenta em viver como "filha de pai incógnito"!
De facto, é nas vésperas do seu casamento com um garboso grego - não muito ao estilo de Zorba, é certo - que Sophie (Amanda Seyfried) decide vasculhar o passado da sua mãe Donna (Meryl Streep), para descobrir quem, afinal de contas, será o seu pai. Como termo final das investigações, a jovem decide convidar os três candidatos mais prováveis para o seu casamento. E aqui as peripécias mais divertidas começam a acontecer.
Com música dos ABBA, helénicos cenários e interpretações geniais de Pierce Brosnan e Colin Firth - pois descobrimos os seus talentos para as cantigas -, Mamma Mia nunca poderia deixar de me agradar. Uma pérola do revivalismo, cheia de clichés, mas que, mesmo assim, mais do que distrair, refresca - tal e qual como no fim do filme.
Post originalmente publicado aqui.
Gata em Telhado de Zinco Quente
REALIZADOR Richard Brooks
INTÉRPRETES Elizabeth Taylor, Paul Newman, Burl Ives, Jack Carson, Judith Anderson, Madeleine Sherwood, Larry Gates, Vaughn Taylor.
Paul Newman ganhou a sua primeira nomeação para um Oscar, pela sua interpretação de Brick, o perturbado antigo herói de desporto.
Love Will Tear Us Apart - Joy Division
Acabado de ver o Documentário, com o mesmo nome, aqui fica a homenagem aos Joy Division
segunda-feira, 29 de setembro de 2008
esse mês perdido nas rugas do tempo...
wwwwwwwwwwww que está entre Diciembre y Enero?
wwwwwww Con qué derecho numeraron
wwwwwww las doce uvas del racimo?
wwwwwwwwwwwwwwww Por qué no nos dieron extensos
wwwwwwwwwwwwwwww meses que duren todo el año?
wwwwwwwww No te engañó la primavera
wwwwwwwww con besos que no florecieron?
Pablo Neruda, Libro de las preguntas, XLVI
túnel das memórias e da gratidão
nnnnnnnnnn entre dos vagos claridades?
nnnnnnn O no será una claridad
nnnnnnn entre dos triángulos oscuros?
nnnnnnnnnnn O no será la vida un pez
nnnnnnnnnnn preparado para ser pájaro?
nnnnnnnn La muerte será de no ser
nnnnnnnn o de sustancias peligrosas?
Plablo Neruda, Livro de las preguntas, xxxv
domingo, 28 de setembro de 2008
O tempo (no) futuro
wwww Estão ambos talvez presentes no tempo futuro
wwww E o tempo futuro contido no tempo passado.
wwww Se todo o tempo é presente eternamente,
wwww Todo o tempo é irredimível.
wwww O que podia ter sido é uma abstracção
wwww Que fica em perpétua possibilidade
wwww Apenas num mundo de especulação.
wwww O que podia ter sido e o que foi
wwww Apontam para um só fim, sempre presente.
wwww Passadas ecoam na memória,
wwww Descendo o caminho que não tomámos
wwww Em direcção à porta que nunca abrimos
wwww Do jardim das rosas. Assim ecoam
wwww As minhas palavras na tua mente.
khkljdhnnnnnnkljffhflfdffdsffdasdasd Mas qual o desígnio,
wwww Turbando o pó de um vaso com folhas de roseira,
wwww Não sei.
wwww (...)
wwwwT. S. Eliot, nascido a 26 de Setembro de 1888
wwwwn The Four Quartets
wwwww trad. João Ferreira Duarte
Como o poeta...
Como se, a uma vez, aspirassem o mundo;
Aborrece-me o riso dos que vendem lotaria
Como se, em sortes, comprássemos alegria.
É tentador imaginar ser outro o mundo:
Aquecer a Islândia de um simples aceno
E por magia, com o condão dum segundo
Regar o Saara inteiro c'as águas do Reno.
E fazer com que os homens fossem bons
E as mulheres, tal qual, e muito amigas;
Cada um pintando a vida nos seus tons
Como o poeta gosta d'enfeitar as raparigas.
(30.01.2008)
..... OTOÑO
hh como si en cielo se fueram marchitando jardines muy lejanos;
hh caen y dicen con sus gestos: no.
hhh Y en la noche cae, pesada, la tierra.
hhh Desde todos los astros cae la soledad.
hh Caemos todos. Esa mano cae.
hh Mira las otras: pasa en todas lo miesmo.
hhh Y hay alguien sim embargo que sostiene la caída
hhh con dulzura infinita entre sus manos.
hh Rilke, El libro de las imágenes, 1906
hhh (traduccíon de Antonio Pau)
A Oração do Ateu
hhhh e em teu nada recolhe minhas queixas,
hhhh Tu que aos pobres homens nunca deixas
hhhh sem consolo de engano. Não resistes
hhhhhhhh a nosso rogo e nosso anelo vistes.
hhhh quando de minha mente mais te aleixas,
hhhh mais recordo as histárias, as endeixas,
hhhh com que minha ama me adoçou noites tristes.
hhhhhhhh Que grande és Tu, meu Deus! tu és tão grande
hhhh que és só Ideia; escassa é a realidade,
hhhh se o mais que pode ela se expande
hhhhhhhh para abranger-te. Por ti sofro, é verdade,
hhhh pois se existisses, Deus não existente,
hhhh também eu existiria veramente.
hhhh Miguel de Unamuno (1869 - 1936),
hhhh Antologia Poética (selec. e tradução de José Bento)
sábado, 27 de setembro de 2008
sexta-feira, 26 de setembro de 2008
EM SILÊNCIO DESCOBRI ESSA CIDADE NO MAPA
a toda a velocidade: gota
sombria. Descobri as poeiras que batiam
como peixes no sangue.
A toda a velocidade, em silêncio, no mapa -
como se descobre uma letra
de outra cor no meio das folhas,
estremecendo nos olmos, em silêncio. Gota
sombria num girassol. -
essa letra, essa cidade em silêncio,
batendo como sangue.
Era a minha cidade ao norte do mapa,
numa velocidade chamada
mundo sombrio. Seus peixes estremeciam
como letras no alto das folhas,
poeiras de outra cor: girassol que se descobre
como uma gota no mundo.
Descobri essa cidade, aplainando tábuas
lentas como rosas vigiadas
pelas letras dos espinhos. Era em silêncio
como uma gotade seiva lenta numa tábua aplainada.
Descobri que tinha asas como uma pêra
que desce. E a essa velocidade
voava para mim aquela cidade do mapa.
Eu batia como os peixes batendo
dentro do sangue - peixe
sem silêncio, cheios de folhas. Eu escrevia,
aplainando na tábua
todo o meu silêncio. E a seiva
sombria vinha escorrendo do mapa
desse girassol, no mapado mundo. Na sombra do sangue, estremecendo
como as letras nas folhas
de outra cor.
Cidade que aperto, batendo as asas - ela -
no ar do mapa. E que aperto
contra quanto, estremecendo em mim com folhas,
escrevo no mundo.
Que aperto com o amor sombrio contra
mim: peixes de grande velocidade,
letra monumental descoberta entre poeiras.
E que eu amo lentamente até ao fim
da tábua por onde escorreem silêncio aplainado noutra cor:
como uma pêra voando,
um girassol do mundo.
Herberto Helder
Como um direito
sem que os ramos desnudados
do Inverno se queiram aperceber.
vou deitar-me sobre o tempo
e não me deixar dormir.
e sofregamente sonhar
sonhar, na mesma
como se fora um direito próprio.
(21.01.2008)
Mãos roubadas
e que trocaste, sem cautela, num repente
como quem esgalha da cerejeira a haste,
quando disseras serem tuas para sempre.
se as querias e não cuidas, porque insistes
que uns deuses teus te dão esse direito
de roubares as mãos de a quem fingiste
que darias as que tens dentro do peito.
(12.01.2008)
Fora eu poeta
Sem ter que te sentir a mão.
Prender-te do olhar, o resto
Sem te pedir, sequer perdão.
Cantar-te como Pessoa cantava.
Abrir, tal como Camões abria
Numa rima de glória elevada
Os corações apartados da poesia.
Ah! fora eu poeta e tu o meu poema
Ou fora cesteiro que te adoba o vime
Não podia, nem assim, ter lesta a pena
D'imaginar os sons que te fazem sublime.
(11.01.2008)
O que tens
quando enfeitas a noite em reflexos de cristal vidrado
eu olho-te, fingindo-me destemido, mas a medo,
quando sorris de leve e te sinto respirar a meu lado
fica-te bem, muito bem, o ...... que dá ar de liberdade,
fica-te tudo bem no corpo que respira perfeito, inteiro
estar aqui, por muito que não fora, já cheira a saudade
e ao sonho que, se parte, não esquece o feiticeiro
como podes ser tão subtil no cada gesto que inventas...
como podes desacalmar o meu mar de tormentas?
não insinuas; e é isso que me teme a separação,
me angustia
como, sem seres minha, já me fosses traição
os teus olhos têm a cor dos lábios quando se humedecem
e apetece pintá-los com a língua,
fingindo que se beijam, suavemente
os teus lábios têm o brilho dos olhos quando desvanecem
e queremos cantá-los, olhando, à míngua,
possuindo (como tê-los permanentemente)
confundo-te com uma estátua de modelo;
com um poema heróico, incompleto no prelo.
(29.12.2007)
Cumpridos...
sentavas-te no vime pachorrento
da verde latada
a olhar o silvo do vento
a rogar a todo o tempo
a atenção que não te dava.
Passaram os outonos, sem querer
trocando o olhar, perdidos
no não saber em que nos tínhamos:
sentir, não o sentíamos;
apenas compungidos
de ser diferente não poder.
(14.12.2007)
quinta-feira, 25 de setembro de 2008
Som e Fúria
Narrou o declínio do Sul dos Estados Unidos, interiorizado nas suas personagens que, na sua maioria, viviam no condado imaginado de Yoknapatawpha. Descreve, muitas vezes em simultâneo, pontos de vista diversos e utiliza mudanças do tempo de narrativa, bem como diálogos interiores complexos, que transformam a sua escrita numa construção, pelo menos, desafiante.hhhjdhjkhdkhjdkakskadjkFaulkner em Paris. Foto de W. C. Odiorne
Foi galardoado com o Nobel em 1949 e com o National Book Award nos anos de 1951 (Collected Stories) e 1955 (Uma Fábula). Foi-lhe atribuído o Pulitzer em 1955 e novamente em 1962.
Faleceu em Byhalia, Mississipi, a 6 de Julho de 1962.
Entre outros títulos, Faulkner é conhecido por O Som e a Fúria, Na Minha Morte, Santuário, Luz de Agosto, Palmeiras Bravas, Absalão! Absalão! e Sol Poente.
Decisões, Decisões
De quatro em quatro anos é assim.
Em tempos de campanha para a Sala Oval, a genial Comedy Central lança a sua rubrica especial - Indecision, neste caso, 2008. É neste contexto que um sem número de jogos, relacionados com certos aspectos da política norte-americana, fica à disposição de todos aqueles que, numa vertente mais descontraída, gostam de analisar os rumos possíveis da política nas terras do Tio Sam. Ainda que preferencialmente virada para o "lado doméstico", como afinal não podia deixar de ser, esta abordagem pretende combinar a sátira acerca da hipocrisia dos políticos com momentos de pura descontracção (os jogos de flash na web são para isso mesmo, certo?). Deste modo, temos preocupações ambientais e ambições de crescimento sustentado, aumento de riqueza, bem-estar e conforto a dar o mote para simples jogos de estratégia que proporcionam momentos em que podemos, como eles dizem, "have fun".
Por vezes, parece mesmo que a política, para eles do lado de lá do Atlântico, é um jogo.
quarta-feira, 24 de setembro de 2008
Pedro Almodóvar
Almodóvar nunca pôde estudar cinema, pois nem ele nem sua família tinham dinheiro para pagar seus estudos. Antes de dirigir filmes foi funcionário da companhia telefónica estatal, fez Banda Desenhada, foi actor de teatro “avant-garde” e cantor de uma banda de rock, da qual participava travestido.
Foi o primeiro espanhol a ser indicado ao Óscar de melhor Realizador. Homossexual assumido, os seus filmes trazem a temática da sexualidade abordada de maneira sublime.
Como director/realizador
2006 - Volver (Volver, Esp.)
2004 - A Má Educação (La Mala Educación, Esp.)
2002 - Fale com Ela (Hable con Ella, Esp., Fra.)
1999 - Tudo Sobre Minha Mãe (Todo sobre mi madre, Esp., Fra.)
1997 - Carne Trêmula (Carne trémula, Esp., Fra.)
1995 - A Flor do Meu Segredo (La flor de mi secreto, Esp., Fra.)
1993 - Kika (Kika, Esp., Fra.)
1991 - De Salto Alto (Tacones lejanos, Esp., Fra.)
1990 - Ata-me! (¡Átame!, Esp.)
1988 - Mulheres à Beira de um Ataque de Nervos (Mujeres al borde de un ataque de nervios, Esp.)
1987 - A Lei do Desejo (La Ley del deseo, Esp.)
1986 - Matador (Matador, Esp.)
1985 - Tráiler para amantes de lo prohibido (media metragem para o programa da TVE c)
1984 - ¿Qué he hecho yo para merecer esto?
1983 - Maus Hábitos (Entre tinieblas, Esp.)
1982 - Labirinto de Paixões (Laberinto de pasiones, Esp.)
1980 - Pepi, Luci, Bom y otras chicas del montón
1978 - Folle... folle... fólleme Tim!
1977 - Sexo va, sexo viene
1976 - Muerte en la carretera
1976 - Sea caritativo
1975 - Blancor
1975 - La Caída de Sódoma
1975 - Homenaje
1975 - El Sueño, o la estrella
1974 - Dos putas, o historia de amor que termina en boda
1974 - Film político
Fonte: wikipedia
Dor e felicidade
Eva, de certa forma impedindo a minha passagem, disse: “finalmente encontrei a minha alma gémea. Eu merecia, fogo!” Por momentos esqueci que queria ir para o outro canto da sala e disse: “nem sempre as pessoas têm aquilo que merecem.” É uma característica minha utilizar estas frases aparentemente carregadas de conhecimento e de inocuidade para dar forma a uma ironia cínica. Eva sorriu, mostrando-se incapaz (a inteligência nunca foi o seu forte) de perceber que aquilo que eu disse não era, de forma alguma, abonatório à sua situação ou à vida que a conduziu aquele momento. Porque, na verdade, ela espalhou uma imensidão de dor ao tentar ser feliz…
the name was writ in water
This Grave
contains all that was Mortal,
of a
YOUNG ENGLISH POET,
Who,
on his Death Bed,
in the Bitterness of his Heart
at the Malicious Power of his Enemies,
Desired
these words to be engraven
on his Tomb Stone
"Here lies One
Whose Name was writ in Water"
Keats! If thy cherished name be "writ in water"
Each drops has fallen from some mourner's cheek.
terça-feira, 23 de setembro de 2008
O primeiro Augusto
Sobrinho-neto por parte da mãe, Ácia (Átia), nascido em Roma a 23 de Setembro, dezoito anos antes, de nome de Gaius Octavius Thurinus, o futuro Augusto, neto de um banqueiro e filho de Caio Octávio, edil e pretor em Roma e, mais tarde, procônsul na Macedónia, tinha sido levado a Espanha pelo tio-avô e tinha recebido a melhor formação de retóricos e filósofos. No início de 44 a. C., o jovem Octávio foi enviado para Apolónia (ponto de partida da rota que conduzia aos Estreitos e, daí, à Ásia). Eis senão quando, depois dos idos de Março, aquando da tomada de conhecimento do testemanto de César por António, se soube que aquele, em acto póstumo, adoptara Octávio e lhe legara inúmeros bens.
Octávio foi aconselhado a aceitar apenas a herança material, permitindo o restabelecimento da República, mas veio a seguir caminho diferente. Começa então a sua busca do poder, decidido a vingar o pai adoptivo e a assegurar sua mais alta posição. Em Brundísio, a Décima Segunda Legião jura-lhe lealdade e, em discurso às tropas, Octávio declara-se filho adoptivo de Júlio César. Em Roma, António pede o controle das tropas de Octávio em troca de protecção e privilégios políticos, mas este recusa; pagou do próprio bolso os legados do testamento e presidiu aos jogos em memória de César; alia-se a Cícero, que o começa a elogiar no Senado, atacando o adversário directo.
Depois do triunvirato e de várias escaramuças a guerra do Áccio colocou frente a frente António e Octávio, quando as forças do primeiro eram, oficialmente, as da rainha Cleópatra, com quem se havia casado, depois de devolver a Roma a irmã de Octávio, Octávia. A guerra durou pouco, com a vitória clara de táctica marítima de Agripa, o comandante da frota de Octávio.
Apesar de assumir o poder, Octávio não aceitou a ditadura, temendo ser vítima da mesma sorte de César. Abdicou solenemente de todos os poderes extraordinários (excepto o consulado) e propôs um regime de compromisso, o principado, que centralizava o poder em torno de si, mas mantinha as formas tradicionais da República romana. Longe de destruir as antigas magistraturas, assumiu-as quase todas e fez-se reeleger cônsul, sem interrupção, até o ano 23 a. C. Na aparência, não passava de um magistrado como os demais, mas era (apenas) o primeiro, ou seja, Princeps. O Senado concedeu-lhe inúmeros títulos e poderes, como o de veto nas assembleias. Em 29 a. C. recebeu o título de Imperator (comandante-em-chefe das forças armadas) e no ano seguinte de Princeps Senatus. A partir de 27 a. C. passou a ser Augusto, que mais tarde se converteu em sinónimo de Imperador. O título passou desde então a identificar seu próprio nome e como Augusto tem sido reconhecido pela história.
Nem a política externa de Augusto, com sucessos vários, nem a reorganização administrativa foram o bastante para assegurar a glória do príncipe. O seu nome ficou ligado ao século em que viveu (ainda hoje se fala do “século de Augusto”) porque esse foi o tempo de Vergílio, de Horácio, de Tito Lívio e de outros e, por eles, considerado o tempo em que o espírito humano atingiu um dos seus pontos mais elevados.
Nietzsche
Ao contrário do que hoje se crê, a humanidade não representa uma evolução para algo de melhor, de mais forte ou de mais elevado. O «progresso» é simplesmente uma ideia moderna, ou seja, uma ideia falsa. O europeu de hoje vale bem menos do que o europeu do Renascimento; desenvolvimento contínuo não é forçosamente elevar-se, aperfeiçoar-se, fortalecer-se.
O Anticristo
Los muertos
tanto daño y dolor
como si me golpearan hueso a hueso
las muetes personales
en que tú también mueres.
Porque allí a Federico y Miguel
los amarraron a la cruz de España,
les clavaron los ojos y la lengua,
los blasfemaron y los insultaron,
los hicieron rodar por los barrancos
aniquilados
porque sí, porque no, porque así fue.
Así fueron heridos,
crucificados
hasta en el recuerdo
con la muerte española,
con las moscas rondando
las sotanas,
carcajada y escupo entre las lanzas,
mínimos esqueletos
de ruiseñor
para el aciago osario,
gotas de miel sangrienta
perdida
entre los muertos.
Pablo Neruda, Los muertos, Memorial de Isla Negra (1964)
El Crimen fue en Granada
1. EL CRIMEN
Se le vio, caminando entre fusiles,/por una calle larga,/ salir al campo frío,/ aún con estrellas, de la madrudaga./ Mataron a Federico/quando la luz assomava. /El pelóton de verdugos /no osó mirarle la cara. / Todos cerraron los ojos; /; rezaron: ni Dios te salva!/ Muerto cayó Federico/ - sangre en la frente y plomo en las entrañas - /... Que fue en Granada el crimen / sabed - pobre Granada! -, en su Granada...
2. EL POETA Y LA MUERTE
Se le vio caminar solo con ella, / sin miedo a su guadaña./ - Ya sol en torre y torre; los martillos/ en yunque - yunque y yunque de las fraguas. / Hablaba federico, / requebrando a la muerte. Ella escuchaba. / "Porque ayer en mi verso, compañera, / sonaba el golpe de tus secas palmas, / y diste el hielo a mi cantar, y el filo / a mi tragedia tu voz de plata, / te cantaré la carne que no tienes,/ los ojos que te faltan,/ tus cabellos que el viento sacudía,/ los labios rojos donde te besaban.../ Hoy como ayer, gitana, muerte mía, / qué bien contigo a solas,/ por estos aires de Granada, mi Granada!"
3.
Se le vio caminar... /mmmmmmmmmmLabrad amigos,/ de piedra y sueño, en el Alhambra,/ um túmulo al poeta,/ sobre una fuente donde llore el agua,/ y eternamente diga: / el crimen fue en Granada, en su Granada!
Poema de Antonio Machado. Ideia da lembrança surgida de um Blog perto daqui (Mareirices)
segunda-feira, 22 de setembro de 2008
No Castelo, tachos e panelas
Mais de duzentos pratos que foram preparados nas Cozinhas Reais, encontram-se à disposição de qualquer um de nós, meros plebeus, para dar uma nota temática a um qualquer jantar de bom convívio e puro desfrute gourmet. Uma coisa, no entanto, fica garantida: não serão refeições "levezinhas".
Mais pormenores aqui.
No vento
que te desperta o piscado olhar de teimosia
As minhas saudades, mistura-las tu ao tempo
e mas devolves sem ânimo, sons de fantasia
Não faltasse a mim fé de certeza, dito alento
rimava-te na mesma com a verdade… poesia
domingo, 21 de setembro de 2008
Weltinnenraum
Maratona
Em 21 de Setembro – precisamente 2048 anos antes da morte do imperador Carlos V, Carlos I de Espanha – o comandante dos gregos, Milcíades, apercebeu-se que a cavalaria persa voltara a embarcar (certamente para atacar Atenas) e que os reforços vinham a caminho. Decidiu então atacar. A infantaria grega atacou e retrocedeu, criando nos persas a ideia de um recuo. Nessa altura, o comandante fez avançar duas alas reforçadas, num duplo envolvimento, e esmagou os flancos persas, daí resultando um autêntico massacre: enquanto os gregos perderam 192 homens, os persas deixaram 6.400 mortos na planície de Maratona e, recolhendo aos navios, regressaram à pátria. Afastada a ameaça persa e sabendo que a revolta dos Alcmeónidas em Atenas dependia do apoio persa, os gregos enviaram de imediato um mensageiro (diz-se que terá sido de novo Fidípides) a anunciar a grande vitória. Sem qualquer paragem no trajecto, o soldado grego correu os 42 quilómetros que separam Maratona de Atenas e anunciou o triunfo, antes de cair morto de exaustão.
Nos Jogos Olímpicos de 1986, quase dois milénios e meio mais tarde, a prova que ficou conhecida por maratona foi ganha pelo grego Spiridon Louis, no tempo (hoje muito lento) de 2 horas, 58 minutos e 50 segundos.
sábado, 20 de setembro de 2008
quinta-feira, 18 de setembro de 2008
A ideia
Hegel
Propedêutica Filosófica
Secção terceira
Doutrina das Ideias
Constituição dos Estados Unidos da América.
quarta-feira, 17 de setembro de 2008
terça-feira, 16 de setembro de 2008
segunda-feira, 15 de setembro de 2008
gggggNasceste nas tardes de setembro
gggggquando a luz é perfeita e mais doirada,
ggggghá uma fonte crescendo no silêncio
gggggda boca mais sombria e mais fechada.
wwwwwwwwwwPara ti criei palavras sem sentido,
wwwwwwwwwwinventei brumas, lagos densos,
wwwwwwwwwwe deixei no ar braços suspensos
wwwwwwwwwwao encontro da luz que anda contigo.
eeeeeTu és a esperança onde deponho
eeeeemeus versos que não podem ser mais nada.
eeeeeEsperança minha, onde meus olhos bebem,
eeeeefundo, como quem bebe a madrugada.
Eugénio de Andrade
2. MM + 2. BB - Poeta
Bem servido de pés, meão na altura
Triste de facha, o mesmo de figura
Nariz alto no meio, e não pequeno.
(15.09.1765 - 21.12.1805)
sábado, 13 de setembro de 2008
O Mestre
1915 - Jardim das Tormentas (contos).
1918 - A Via Sinuosa (romance).
1919 - Terras do Demo (romance).
1920 - Filhas de Babilónia (novelas).
1922 - Estrada de Santiago (novelas).
1924 - Romance da Raposa (romancinho infantil).
1926 - Andam Faunos pelos Bosques (romance).
1930 - O Homem que Matou o Diabo (romance).
1931 - Batalha sem Fim (romance).
1932 - As Três Mulheres de Sansão (novelas).
1933 - Maria Benigna (romance).
1934 - É a Guerra (diário).
1935 - Quando ao Gavião Cai a Pena (contos).
1936 - Aventura Maravilhosa de D. Sebastião (romance).
1937 - S. Banaboião Anacoreta e Mártir (romance).
1939 - Mónica (romance).
1940 - Oeiras (monografia).
1940 - O Servo de Deus e a Casa Roubada (novelas).
1942 - Os Avós dos Nossos Avós (história).
1943 - Volfrâmio (romance).
1945 - Lápides Partidas (romance).
1947 - O Arcanjo Negro (romance).
1947 - Caminhos Errados (novelas).
1948 - Cinco Réis de Gente (romance).
1948 - Uma Luz ao Longe (romance).
1949 - O Malhadinhas (edição autónoma).
1951 - Geografia Sentimental (história, paisagem, folclore).
1953 - Arcas Encoiradas (estudos, opiniões, fantasias).
1954 - O Homem da Nave (serranos, caçadores e fauna vária).
1954 - Humildade Gloriosa (romance).
1955 - Abóboras no Telhado (crónica e polémica).
1957 - A Casa Grande de Romarigães (crónica romanceada).
1957 - O Romance de Camilo (biografia e crítica).
1958 - Quando os Lobos Uivam (romance).
1963 - Tombo no Inferno. O Manto de Nossa Senhora (teatro).
1963 - Casa do Escorpião (novelas).
1974 - Um Escritor Confessa-se (memórias).
sexta-feira, 12 de setembro de 2008
Puro Vintage V
Antero de Quental
Antero Tarquínio de Quental nasceu em Ponta Delgada a 18 de Abril de 1842 e faleceu a 11 de Setembro de 1891. Desde jovem que se destacou pelas suas opiniões revolucionárias e pela forma de estar na vida. Lutador e muito congruente com os seus ideais socialistas.
Antero espalhou saber pela poesia, filosofia e política. Estudou direito em Coimbra, onde brilhou como líder estudantil. Foi o guia espiritual da geração de 70, um agitador político a "tempo inteiro", que se afirmou pelo desejo de intervenção e renovação da vida política e cultural portuguesa.
Obras
Sonetos de Antero, 1861
Beatrice e Fiat Lux 1863
Odes Modernas 1865 (na origem da polémica Questão Coimbrã)
Bom Senso e Bom Gosto 1865 (opúsculos)
A Dignidade das Letras e as Literaturas Oficiais 1865 (na origem da polémica Questão Coimbrã)
Defesa da Carta Encíclica de Sua Santidade Pio IX 1865Portugal perante a Revolução de Espanha 1868
Primaveras Românticas 1872
Considerações sobre a Filosofia da História Literária Portuguesa 1872
A Poesia na Actualidade 1881
Sonetos Completos 1886
A Filosofia da Natureza dos Naturistas 1886
Tendências Gerais da filosofia na Segunda Metade do Século XIX 1890
Raios de extinta luz 1892
Prosas
Fonte wikipedia
quinta-feira, 11 de setembro de 2008
Centenário (e dois dias)
Memória
Esperando melhores dias, em que a estupidez de uns não se encontre com a arrogância grotesca de outros.
À memória de outros tempos, em que o Mundo era um lugar mais sensato.
Dos Dias Monótonos
Agostinho da Silva, Considerações, Dos Dias Monótonos
Trigo
Aquele Natal manifestou-se da forma mais completa que lhe era possível, como se nos quisesse mostrar que ainda havia espaço para o sonho. Trouxe consigo lentas e suaves folhas de trigo maduro.
quarta-feira, 10 de setembro de 2008
terça-feira, 9 de setembro de 2008
Só porque não se revela fácil apartar sonhos de devaneios e, bem menos, agrilhoá-los com a pontuação oficial
Quando a lembrança se fez dia, teimei que não havia de lhe prender qualquer pontuação.
segunda-feira, 8 de setembro de 2008
... Mais que mil palavras. Ou não!
A experiência proporcionada por todos os meios telemáticos disponíveis nos dias de hoje deveria, certamente, possuir determinados pressupostos bem assentes, a que poderíamos chamar, como chamamos, as "regras do jogo". Contudo, com o surgimento de alguns recursos pertencentes àquela mesma categoria, damo-nos conta de que "fazer batota" também é possível (provavelmente dada a nossa eterna condição humana).
E de facto, é do que esta imagem trata. A burla foi protagonizada por dois jovens veraneantes e amantes dessa actividade que se resume, como alguém me disse há pouco tempo na Ilha Terceira (o paternalismo sai caro...), a "ver peixinhos". E, na verdade, penso que nem Spielberg conseguiu tanto realismo com o seu velho "Jaws", que sempre me pareceu um boneco insuflável ou colchão de praia gigante com a forma de tubarão assassino.
Mas se esta manipulação não comporta em si qualquer mal de maior, outras existem que dão realmente em que pensar. É que, no imediatismo dos nossos tempos contemporâneos, as imagens valem por si e assumem-se como o produto com a maior quota do mercado das ideias. São fáceis de absorver e satisfazem qualquer S. Tomé, já conformado com o facto de muitas vezes não poder encontrar-se em condições de "tocar" o objecto das suas dúvidas.
E se os motivos que presidem à sua recolha - ou em qualquer caso, criação - não forem os melhores, isso reflectir-se-á em tudo aquilo que se quer dar a conhecer (ainda estou para saber o que se passou concretamente no Estádio Olímpico de Pequim, aquando das cerimónias de abertura dos Jogos).
Qual prospecto de ajuda para aferir de eventuais intrujices futuras que se nos apresentem, ou simples curiosidade mediática, o Telegraph publicou as vinte melhores fotografias manipuladas, onde esta mesma se inclui. Vale a pena dar uma vista de olhos.
Brasil
domingo, 7 de setembro de 2008
Até tu, gaulês!
Big Apple 3
- Eu não fumo, ó periquito.
Ora glória!
O poder caiu na rua!
Não sei
Não sei se isto é amor. Procuro o teu olhar,
Se alguma dor me fere, em busca de um abrigo;
E apesar disso, crê! nunca pensei num lar
Onde fosses feliz, e eu feliz contigo.
Por ti nunca chorei nenhum ideal desfeito.
E nunca te escrevi nenhuns versos românticos.
Nem depois de acordar te procurei no leito
Como a esposa sensual do Cântico dos cânticos.
Camilo Pessanha (nasc. em Coimbra, 7.09.1867)
sábado, 6 de setembro de 2008
O sangue dos César
Max Gallo, Os Romanos (II), Nero - O Reinado do Anticristo
(trad. Isabel St. Aubyn, Edições ASA)
Vida
Choveu! E logo da terra humosa
Irrompe o campo das liláceas.
Foi bem fecunda, a estação pluviosa!
Que vigor no campo das liláceas!
Calquem, recalquem, não o afogam.
Deixem. Não calquem. que tudo invadam.
Não as extinguem. Porque as degradam?
Para que as calcam? Não as afogam.
Camilo Pessanha, (1867 - 1926)
Clepsydra
Séneca
Filósofo e escritor nascido em Córdova no início da Era, foi levado para Roma muito jovem e aí recebeu o ensinamento dos Estoícos, fonte da sua reflexão filosófica e da austeridade da sua vida. Foi advogado e político. Esteve oito anos deportado na Córsega, sob a acusação de ter mantido relações com uma irmã de Calígula e só a intervenção de Agripina, depois de casada com Cláudio, lhe permitiu o regresso a Roma e o vir a ser preceptor de Nero. Nos primeiros anos de governo deste imperador foi notória a benéfica influência de Séneca, mas esta foi-se progressivamente perdendo, ao mesmo tempo que cresciam as tontarias do governante. Abandonou então a vida política (depois da morte de Burrus, certamente assassinado) e dedicoui-se por inteiro à Filosofia.
A filosofia de Séneca tem sido objecto das mais variadas interpretações, mas é reconhecido como o autor de maior renome do Estoicismo. É tido como um escritor assistemático, às vezes contraditório, a variar entre o péssimismo e o optimismo, ainda que sempre se apresente ecléctico, a aceitar aquilo que de outras doutrinas lhe parece verdadeiro. Valoriza o aspecto prático nos seus pontos de vista, como era tradição dos cínicos e estóicos, agregando ao directo ensinamento de Posídio elementos da doutrina platónica e peripatética. É, entre os estóicos, quem dá mais atenção à ideia de Deus (enquanto princípio consciente da unidade do universo), tendendo a abandonar o panteísmo. Veio a morrer no ano de 65, suicidando-se por imposição imperial.
(a partir de J. M. da Cruz Pontes, Logos)