Atravessas a rua como um peregrino desesperado. Se a salvação não for consolo imediato – advertes-te – será eternamente inglória. Tanto que sabes que é suficiente o que temes: um mero gesto, mesmo um gesto mudo que se confunda a um trejeito do olhar, é o bastante para te mudar o mundo. Por inteiro. Se for dela, é claro. É-te claro, mesmo que só isso o seja. Os pés descompassam em ordens antagónicas, mas avanças. Num relâmpago confias num regresso à serena doçura de antes; tens a glória almofadada em euros e usd’s. Mas sabe que não é nada disso: o relâmpago passou. Sacas do bolsinho um havano de cinco contos, preço antigo de Lisboa. Ele vai ficar deliciado em extravagância. Esticas a oferta, ainda em silêncio.
- Eu não fumo, ó periquito.
Ora glória!
O poder caiu na rua!
- Eu não fumo, ó periquito.
Ora glória!
O poder caiu na rua!
1 comentário:
Vamos então ver o que sucederá entre o "herói" e o "maltrapilho" que espera no seu estabelecimento do passeio da grande cidade...
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