quinta-feira, 31 de julho de 2008
O rapaz dos pássaros
à beira do mar azul.
Deixava escolher as cores e as espécies
e fazia descontos aos banhistas ingleses.
Quando o negócio
chegava a bom porto
entregava uns papeis de almaço
com o nome das aves.
quarta-feira, 30 de julho de 2008
Urgência
junto aos muros de áspera luz,
a evocação dos cereais, a lenta rotação das
alfaias.
Pensava sempre nesse rumor,
quando, ao cair da tarde,
se ouvia claramente o grito da mandrágora.
Vem depressa,
gritaram os melros no ramo seco, ergue
perto e nós a tua morada.
José Agostinho Baptista, Filho Pródigo
El portugués que viaja por México
Veamos. De él son estos versos pertenecientes a um poema titulado Lanzarote: “Eu sei, meu amor, /que podias caminhar sobre a lava/ Nas colinas desta lua jamais um jardim desvenderá/ as tuas rosas/ O céu é cruelmente azul/ A terra é como o teu silêncio, um astro queimado”.
(…) A él le conocí en Lisboa. (…) Fuimos a un bar mexicano de Lisboa y José Agostinho demonstro un más que amplio conocimiento sobre las letras de todas las canciones mexicanas del local. Me habló de xalapa, de Cuernavaca, de Guadalajara, se emociono al evocar Guanajuato, lloró al recordar María Félix y me cito parrafadas enteras de Pedro Páramo.
(…) Escuchamos a Chavela Vargas bebiendo lentamente tequila, me recito de memoria poemas de Octavio Paz y José Gorostiza. Cuando abandone su casa, me regalo un ejemplar de su último libro: Sobre el volcán, un conjunto de relatos sobre la experiencia de haber viajando incansablemente por México.
A la mañana siguiente, me dijo Hermínio Monteiro que el poeta no había estado en su vida em México. Siempre que pienso en este extraño personaje le evoco como si formara parte de esse poema de Octavio Paz que a él tanto le gusta y que dice así: “… donde un hombre encorvado escribe trabajosamente, en camisa, entre pausas furiosas, estos cuantos adioses al borde del precipício”.
Enrique Villa-Matas
Domingo, 17 de Agosto de 1997
Para Acabar Con Los Números Redondos
terça-feira, 29 de julho de 2008
A maravilhosa declaração de Innsbruck
Continuava sentado, de queixo caído, naquele quarto invadido por um húmido crepúsculo. O fogo da lareira tingia-lhe de vermelho as mãos roídas pelos ácidos, marcadas, aqui e além, por ténues cicatrizes de queimaduras; via-se que considerava atentamente esses estranhos prolongamentos da alma, esses grandes instrumentos fritos de carne que nos servem para tomar contacto com tudo.
- Louvado seja eu! – exclamou ele, por fim, com uma espécie de exaltação em que Henrique Maximiliano julgou reconhecer o Zenão inebriado de devaneios mecanicistas partilhados com Colas Gheel. – Sempre me há-de maravilhar o facto de esta carne sustentada pelas suas vértebras, de este tronco ligado à cabeça pelo istmo do pescoço, e com os membros dispostos simetricamente à sua volta, conter, e talvez produzir, um espírito que tira partido dos meus olhos para ver e dos meus gestos para apalpar… Conheço os seus limites e sei que lhes falta tempo para ir mais longe, e força, se porventura pudesse dispor de tempo. Mas existe, e, neste, momento, ele é aquele que É. Bem sei que se ensina, que erra, que por vezes interpreta mal as lições que o mundo lhe ministra, mas sei também que possui o dom de conhecer e não raro rectificar os seus próprios erros. Já percorri grande parte desta bola em que vivemos, estudei o ponto de fusão dos metais e a germinação das plantas, observei os astros e examinei o interior dos corpos. Sou capaz de extrair, deste tição que aqui está, a noção de peso, e destas chamas a noção de calor. Sei que não sei aquilo que não sei, invejo aqueles que venham a saber mais, mas sei que, tal como eu, terão de medir, pesar, deduzir e desconfiar das deduções alcançadas, distinguir o que há de falso no verdadeiro e levar em conta a eterna mistura da verdade e da falsidade. Nunca me agarrei fixamente a uma ideia, por temer a confusão em que, sem ela, poderia vir a cair. Nunca temperei um facto verdadeiro com o molho da mentira, para me facilitar a digestão. Nunca deformei os pontos de vista do adversário para mais facilmente ter razão, nem sequer durante o debate sobre o antimónio, os de Bombast, que nem mesmo assim me ficou grato. Ou talvez sim: surpreendi-me nesse acto, mas sempre me repreendi como se repreende um criado desonesto, confiando apenas na promessa que a mim mesmo me fiz de vir a proceder melhor. Sonhei com os meus sonhos; não considero tudo isto mais do que sonhos. Abstive-me sempre de fazer da verdade um ídolo, preferindo designá-la pelo nome mais humilde de exactidão. Os triunfos e os perigos que acumulei não são aquilo que se pensa: existem outras glórias para além da glória e outras chamas para além das da fogueira. Consegui, praticamente, desafiar as palavras. Hei-de morrer um pouco menos estúpido do que nasci.
YOURCENAR, A Obra ao Negro
Uma conversa em Innsbruck
segunda-feira, 28 de julho de 2008
Le grand chemin
Dicionário Imperfeito (A)
Estética da incompletude
domingo, 27 de julho de 2008
A única conclusão...
sábado, 26 de julho de 2008
as vezes da amizade
Quantas vezes cozinhámos parcas iguarias e lavámos faustas louças!
(carta a José Manuel Fragoso) Ruben A., Páginas I
sexta-feira, 25 de julho de 2008
que será
perde em devaneios de cavalheiro.
Crê que ceifando vamos encontrar
o que esconde a agulha no palheiro.
Puro Vintage IV
O Português
As mais belas palavras
Huhe (chinês) - o doce sussurro que faz o suave dormir
Volougoto (baganda - África) - caótico
Oppholsvaer (norueguês) - a luz do dia depois da chuva
Madala (hausa - África) - graças a Deus
Saudade (português) - ....
saudades
teimando vontade em direcção ao mar
deixo-a antes, mal esquecida, a mágoa,
é tanta, de tanto azul e não t'o poder dar
quinta-feira, 24 de julho de 2008
Anarquias
``Fui operário, trabalhei, vivi uma vida apertada; fui, em resumo, o que a maioria da gente é naquele meio. Não digo que absolutamente passasse fome, mas andei lá perto. De resto, podia tê-la passado, que isso não alterava nada do que se seguiu, ou do que lhe vou expor, nem do que foi a minha vida, nem do que ela é agora.''
``Fui um operário vulgar, em suma; como todos, trabalhava porque tinha que trabalhar, e trabalhava o menos possível. O que eu era, era inteligente. Sempre que podia, lia coisas, discutia coisas, e, como não era tolo, nasceu-me uma grande insatisfação e uma grande revolta contra o meu destino e contra as condições sociais que o faziam assim. Já lhe disse que, em boa verdade, o meu destino podia ter sido pior do que era; mas naquela altura parecia-me a mim que eu era um entre a quem a Sorte tinha feito todas as injustiças juntas, e que se tinha servido das convenções sociais para mas fazer. Isto era aí pelos meus vinte anos - vinte e um o máximo - que foi quando me tornei anarquista.''
Parou um momento. Voltou-se um pouco mais para mim. Continuou, inclinando-se mais um pouco.
- Fui sempre mais ou menos lúcido. Senti-me revoltado. Quis perceber a minha revolta. Tornei-me anarquista consciente e convicto - o anarquista consciente e convicto que hoje sou.
quarta-feira, 23 de julho de 2008
tanto calor
Valia a pena confundir
Este calor, aquele suor
No gesto íntimo medir
O que inventas por amor
Balbúrdias e regateio:
Dois corpos de permeio
E a saudade prematura
De repetir a aventura
Estações
"Desde há cerca de trinta anos, os leitores das Estações formam uma espécie de confraria de iniciados. Partilham um mesmo universo; utilizam a mesma linguagem, as mesmas imagens de referência; conhecem-se e reconhecem-se entre si, um pouco como os leitores de Malcolm Lowry ou de Júlio Cortázar" - da contracapa, na edição portuguesa de 1994 (Publicações Dom Quichote).
Depois de se anunciar com a frase de Georges Schehadé Tanta magia para nada Se não fosse essa lembrança de um outro mundo, começa assim a primeira parte: Ele chegou pelo caminho do desfiladeiro, cerca do décimo-sexto mês do Outono, que por lá chamávamos: a estação podre. Foi a Louana a primeira a vê-lo, e, mais tarde, quando o Conselho se reuniu para deliberar sobre o caso do estranho, ela interveio para reivindicar esse primeiro olhar. Ela tinha aquela cara de criança mongol, risonha, escarlate, que não era da região; tinha entoações estranhas que faziam que se ouvisse sempre com espanto o que ela dizia - Maurice PONS, Estações... Um livro maravilhoso
Ficções
Transposto para a Sétima Arte por Ridley Scott, com o nome de "Blade Runner - Perigo Iminente", o romance conta a história de Rick Deckard (Harrison Ford), um oficial da polícia de S. Francisco e caçador de prémios. O seu trabalho, "retirar" o maior número possível de andróides humanóides, em fuga dos mundos coloniais, não registados nas Companhias que os produzem, para uma Terra devastada pela Guerra Mundial de 1992.
E é precisamente pela demanda de Rick Deckard que nos vamos apercebendo de um dos elementos-chave do cenário cultural em que a trama se passa. Na sua actividade de "assassino licenciado e remunerado", tendo como alvo tais "imitações" da vida humana, Deckard anseia, pelo menos no início de tudo (no fim contenta-se com um batráquio artificial), ganhar dinheiro suficiente para comprar um animal vivo, verdadeiro - o símbolo genuíno de alto estatuto social e meio único para alcançar alguma felicidade num mundo à beira da extinção - sequela natural de um holocausto nuclear ainda a digerir por todos quantos cá ficaram. Deste modo, ao ganhar o prémio pela captura do primeiro dos Nexus-6 (último modelo de andróide) que com ele se vão inevitavelmente cruzando, Rick usa-o para a compra de uma cabra núbia - a digna sucessora do seu carneiro eléctrico que tem partilhado, nos últimos anos, o telhado do prédio onde reside com um poltro Percheron, verdadeiro, propriedade do seu vizinho. Contudo, tal aquisição - altamente dispendiosa de acordo com o catálogo da Sydney que Deckard traz sempre consigo - é logo deitada por terra, literalmente. Rachel Rosen, também uma Nexus-6, ao dar-se conta de que sempre ocupa o último lugar na escala de empatia pessoal do nosso herói, inconformada com isso mesmo, empurra a cabra de Deckard, prédio abaixo, matando-a, claro está.
Ora, foi a pensar nesta história, assim brevemente resumida - tendo acabado, recentemente, de ler o livro - que aqui há dias me deparei com este simpático e sorridente gnomo de cerâmica, no café onde costumo ir, cá na Sertã.
Ao subir as escadas que dão acesso à parte mais recatada do estabelecimento, esta sorridente personagem, lá está, "eléctrica" e dotada de um qualquer sensor de movimento, logo garbosamente assobia, em jeito de piropo, ao cliente que se assoma a uma mesa para tomar uma bica ou beber uma água.
E se o assobio pudesse fazer realmente lembrar um tropical papagaio, verdadeiro, certo seria que tal estado de coisas só traria dores de cabeça ao proprietário do estabelecimento. Senão vejamos: que proprietário de estabelecimento hoteleiro se arriscaria, nos dias que correm, a abrilhantar o seu espaço com um exemplar deste tipo de aves tão astutas? A resposta: nenhum. Na verdade, o mais provável seria a pronta autuação, pelas entidades fiscalizadoras da salubridade e do gosto, de tais prevaricadores das normas higiénicas ditas "vigentes".
Assim, aqui temos este "Gartenzwerg", que não suja, não diz asneiras - outro aspecto a ter em conta, dado que os papagaios gostam de imitar tudo o que ouvem (o que aqui seria sempre um embaraço, dado o uso abundante e corrente do vernáculo) - e sempre avisa sobre a entrada de mais um ou vários convivas, predispostos, com toda a certeza, a "fazer despesa".
Sempre se pode pensar que realmente o futuro, afinal, não podia ter resultado tão mais diferente do que o previsto e imaginado!... Ficções...
segunda-feira, 21 de julho de 2008
Sol
que o que sinto não é verdade
este sol queima quase nada
não passa de ilusão
o que queima realmente é a saudade
e a solidão
Pergunto-me...
domingo, 20 de julho de 2008
sábado, 19 de julho de 2008
I know it's over
Oh Mother, I can feel the soil falling over my head
See, the sea wants to take me
The knife wants to slit me
Do you think you can help me ?
Sad veiled bride, please be happy
Handsome groom, give her room
Loud, loutish lover, treat her kindly
(although she needs you
more than she loves you)
And I know it's over - still I cling
I don't know where else I can go
(Over and over and over and over
Over and over...)
I know it's over
And it never really began
But in my heart it was so real
And you even spoke to me, and said:
"If you're so funny
Then why are you on your own tonight?
And if you're so clever
Then why are you on your own tonight?
If you're so very entertaining
Then why are you on your own tonight?
If you're so very good-looking
Why do you sleep alone tonight?
I know...
Because tonight is just like any other night
That's why you're on your own tonight
With your triumphs and your charms
While they're in each other's arms..."
It's so easy to laugh
It's so easy to hate
It takes strength to be gentle and kind
(Over, over, over, over)
It's so easy to laugh
It's so easy to hate
It takes guts to be gentle and kind
(Over, over)
Love is Natural and Real
But not for you, my love
Not tonight, my love
Love is Natural and Real
But not for such as you and I, my love
Oh Mother, I can feel the soil falling over my head
(...)
Morrissey
O Outro Que Era Eu
calor II
Na espuma branca do mar
Bem fazem
Aos que, feridos na asa
Teimam em voar
Bem agem
A todos um tempo
Que o Sol castiga
Nem brisa de vento
Nem fresca boca, amiga.
sexta-feira, 18 de julho de 2008
quinta-feira, 17 de julho de 2008
Curvas III
Teu, claro, seguia já sem atenção.
Primeiro, falhou-me o cruzamento
Depois, 120 euros mais a inibição.
Não disse o G.N.R., mas pensou:
Nem toda a hora é para imaginar
O dinheirinho, esse logo lá ficou,
E poemas não se fazem a circular!
(ele há dias...)
Verão I
Se o Ocean's ainda estivesse aberto e tivesse uma piscina no terraço, esta seria a banda sonora!
Um Vintage a dar sede de outros Verões, de outros tempos!
quarta-feira, 16 de julho de 2008
Da Ordem ou Interrogações III
"Causídico
Após a leitura atenta de todos estes comentários, apenas me arrisco a dar um testemunho pessoal, porque sempre aprendi a falar apenas daquilo que conheço. Fiz o Estágio de dois anos, com o melhor patrono que poderia ter tido, que me deu trabalho, me inspirou e orientou. Nunca me tratou com paternalismo ou demasiada supervisão, assim que viu a qualidade do meu trabalho - aquela que eu procurava em cada noite de directa, com muito mais prazer do que a estudar para os exames, a preparar, às vezes duas alegações de recurso para processos distintos. Uma das coisas de que mais me orgulho é ainda hoje o meu Ilustre Patrono (agora ex) dizer que pouco ou nada me corrigia, dado o meu zelo e perfeccionismo. Enquanto exerci aquele patrocínio, estatutariamente limitado, que o estágio me impunha por forma a completar os créditos que me levariam a estar apto para exame, dos casos que tive, cinco ao todo (a comarca é densamente povoada de muitos que ficarão agora a olhar para as paredes ou a jogar solitário no portátil), três deles consegui a absolvição para o meu constituinte e dois culminaram na desistência de queixa e em acordo. Eu compreendo que, para muitos, tal caso é uma excepção, não podendo de maneira nenhuma fazer jus para a defesa de uma certa regra diferente daquela que, precisamente, insistem que existe. Contudo, sempre me pergunto: acaso não estarão agora a pôr "a carroça à frente dos bois"? É que é precisamente neste arredamento de quem ainda está a aprender - sem, contudo, ser nenhum garoto da escola primária inconsciente por estádio cognitivo - que se instila a insegurança e se acaba por dar razão ao que, espanto, se começou por dizer. Com uma agravante: um estagiário que faça o exame a uma terça e à segunda ainda é uma sub-species, à quarta já é advogado e é colocado como oficioso na barra - suponhamos. Se passou todo o estágio embrulhado em livros e em consultazinhas, que segurança tem para logo ali, à quarta-feira, poder advogar? Nunca viu nada, nunca soube nada. Há aqui, quer-me parecer, uma ideia um pouco bacoca mas tão típica deste país: O canudo dá tudo! Como se fosse por osmose. É o mesmo que ter alguém que nunca percebeu de arte ou outra coisa qualquer, de repente ser investido em umas quaisquer vestes e ter o milagre da sabedoria, por força do que sempre contemplou. Para as más-defesas haverá sempre a possibilidade de queixa aos Conselhos de Deontologia. E mesmo do lado dos cidadãos, a igual possibilidade de recusarem o advogado que lhes for facultado. A questão é que também todos nós temos de estar informados sobre tais direitos. Perdesse o Senhor Bastonário algum tempo nesse trabalho e talvez não tivesse havido tanta polémica. Por fim uma última interrogação: Se mantivermos arredados os noviços de todas as iniciações, de todos os ensinamentos práticos, que raio de Ordem queremos para o futuro? Acaso pensa alguém que seremos sempre nós a existir e a por, lá está, ordem? É que ninguém é "gerado e não criado". E mesmo o Senhor Bastonário também se fez Advogado, como todos nós. De certo me espantaria se viesse agora dizer que já tinha nascido assim. Se calhar com Toga e tudo. Num país de milagres e aparições..."
Ezra Pound
love;
For long night comes upon you
and a day when no day returns.
Let the gods lay chains upon us
so that no day shall unbind them.
Fool who would set a term to love s madness,
For the sun shall drive with black horses,
earth shall bring wheat from barley,
The flood shall move toward the fountain
Ere love know moderations,
The fish shall swim in dry streams.
No, now while it may be, let not the fruit of life cease.
Dry wreaths drop their petals,
their stalks are woven in baskets,
To-day we take the great breath of lovers,
to-morrow fate shuts us in.
Though you give all your kisses
you give but a few.”
Nor can I shift my pains to other
Hers will I be dead,
If she confers such nights upon me,
long is my life, long in years,
If she give me many,
God am I for the time.
Ezra Pound
Poems 1918-21
terça-feira, 15 de julho de 2008
segunda-feira, 14 de julho de 2008
Ditames
- Disse para ir à merda!
- E tu, que fizeste?
- Eu?... Apanhei o primeiro autocarro…
domingo, 13 de julho de 2008
Curvas II
Confundo a velocidade. Felina:
Perdeste a espuma das marés,
E finges outro jeito de menina.
Calor
pintamos a cara de areia molhada
e sentamo-nos nos degraus da tarde.
A lua espreita, tímida,
e conversamos com as horas da espera.
Quando o Sol partir
havemos de entrelaçar desejos
na candura da noite.
Amanhã abrasaremos de novo,
num sentimento repetido.
E esperamos a noite,
vezes sem tempo.
e. u. m., P. I.
calor
(o calor atormenta)
E perco no desafio
desta página cinzenta.
Nem uma vírgula de frescura
Nem um sorriso de vento;
No bafo desta quentura
Já só sobra um pensamento:
Tu numa praia dourada...
E à volta? - Mesmo nada.
sábado, 12 de julho de 2008
Bunny Ranch
sexta-feira, 11 de julho de 2008
Caminho
Interrogações II
Apenas um desabafo...
quarta-feira, 9 de julho de 2008
rectas
Com dois o mundo é um simples alongamento
Repartimos os desejos, aldrabamos as metas…
E divertimo-nos. Só a esquecer cada momento.
terça-feira, 8 de julho de 2008
curvas
Da cor dos teus olhos. Malandra:
Esse riscar de sílabas perfeitas...
Esse arrepio de bandejar a anca!
segunda-feira, 7 de julho de 2008
Puro Vintage III
Tropeço
Perdido, caído e lacrado da tua ausência
Reflexo trôpego do que deste por pena
E eu castiguei ao tomar por paciência
Há palavras gastas nos cadernos da garagem
Desenhos brancos nus a inventar dois corpos
Gestos lentos a imitar tolas miragens…
Miragens? Ou imagens de dois mortos?
Há lembrança, desculpas em glória
- Só conta o que sobra da memória!
Bolas, acrescento: - Tudo bem:
(com tua desculpa e minha culpa)
Não sobra ao mundo mais ninguém.
AM / e. u. m.
Congresso
Para quem tiver interesse no assunto este é um Congresso Internacional realizado através de uma colaboração entre a Associação Existências, o IREFREA e o IPCDVS da Universidade de Coimbra, que írá ter lugar no Auditório da Reitoria da Universidade de Coimbra, nos dias 7, 8 e 9 do corrente.
Serão matérias em discussão neste encontro: os espaços recreativos; a mobilidade causada pelos cidadãos durante os dias de semana e, especialmente, ao fim-de-semana e a avaliação do impacto que estas actividades têm na vida das cidades, assim como nas questões ligadas aos comportamentos violentos, aos comportamentos sexuais de risco e ao consumo de substâncias, lícitas e ilícitas. Para este encontro estão confirmadas, entre outras, as presenças das seguintes individualidades:
Prof. Doutor Larry Gerstein (Director of Center for Peace and Conflict Studies, Ball State University, Muncie IN, USA)
Dra. Luísa Salgueiro (Deputada da Assembleia da República, Vereadora da Câmara Municipal de Matosinhos)
Thierry Charlois (Projecto "Drogas, Democracia e Cidades")
Dra. Paula Marques (Directora do Departamento de Prevenção do IDT)
Prof. Doutor Meliço-Silvestre (Director do Departamento de doenças Infecciosas dos Hospitais da Universidade de Coimbra)
Dr. Carlos Encarnação (Presidente da Câmara Municipal de Coimbra)
Dra. Alina Santos (Coordenadora do Núcleo "Populações e Saúde", da Agência Piaget para o Desenvolvimento - Vila Nova de Gaia)
Dra. Margalida Ros (IREFREA Espanha)
Prof. Doutor Mark Bellis (Department of Public Health, John Moore University)
Dra. Karen Hughes (Department of Public Health, John Moore University)
No final deste Congresso será assinada a constituição do Observatório das Cidades Recreativas.
Quem quiser que apareça...
domingo, 6 de julho de 2008
Sempre outras como eu
Longe de mim buscam
Outro que mim
O teu braço apontado ao céu
Semelhavas - no desabrochar
As flores o tempo que nos cercava
Não havia portas no teu jardim
Era como estar dentro do que vias
Tudo de ti estava em nós e era transparente
Via-te o vulto voltado à luz
Que o braço erguido apontava
E o tempo que nos cercava
Semelhavas
Que o nosso olhar não via
E de longe em ti buscava
O outro que mim
wwww mmmm
António Dacosta, A Cal dos Muros
António Dacosta
E tu desaparecias.
A Cal dos Muros, Poemas Açorianos
(O António era, antes de mais, um modo de estar no mundo, um jeito de andar, ao mesmo tempo preguiçoso e lesto, uma voz sussurrada que podia oscilar entre a observação mais grave e o mais límpido riso, a coincidência natural entre aquilo que de facto era e aquilo que parecia, que se inscrevia já, como uma imagem que à pele se colava, em cada gesto que fazia, em cada olhar, cada palavra que dizia, naquela economia de viver. António tinha ganho aquilo que é mais raro e mais difícil: um rosto - Bernardo Pinto de Almeida, apresentação d' A Cal dos Muros)
A. M. Lisboa
Continuar aos saltos até ultrapassar a Lua
continuar deitado até se destruir a cama
permanecer de pé até a polícia vir
permanecer sentado até que o pai morra
Arrancar os cabelos e não morrer numa rua solitária
amar continuamente a posição vertical
e continuamente fazer ângulos rectos
Gritar da janela até que a vizinha ponha as mamas de fora
por-se nu em casa até a escultora dar o sexo
fazer gestos no café até espantar a clientela
pregar sustos nas esquinas até que uma velhinha caia
contar histórias obscenas uma noite em família
narrar um crime perfeito a um adolescente loiro
beber um copo de leite e misturar-lhe nitroglicerina
deixar fumar um cigarro só até meio
Abrirem-se covas e esquecerem-se os dias
beber-se por um copo de oiro e sonharem-se Índias.
António Maria Lisboa, Projecto de Sucessão, Ossóptico e Outros Poemas
(a pedido do AM, receoso das iniciais que teimosamente o cansam, e com uma dedicatória especial, igualmente rogada, à dedicação e ao amigo espírito da descomprometida análise)
sábado, 5 de julho de 2008
arrepio há idos anos
Em que a tua passagem me arrepiou.
O que daí é meu? O que será teu…
Não há modo de inventar quem ditou
Resposta? Certo é que os anos incertos se perderam sem ela
Como quem desespera a olhar o infinito duma trôpega janela
Gostava que tu gostasses de pensar o mesmo
Que a tua vida tivesse as mesmas saudades
Que nenhum de nós fosse capaz de recompor
O castigo daquela troca de olhar
Talvez me transforme em castigador
E me convença, amor, que é tudo amor
Sim: só porque é teu
Só porque, na tua boca vermelha, é céu
O que imagino em cada esquina do caminho
Em cada dia que fatigo
Em cada espaço de seguido
Sem sentido.
e. u. m., P. I.
sexta-feira, 4 de julho de 2008
Coimbra
Refeita de esperanças perdidas
Verbo escondido que se escapa
Em língua trocada noutras vidas
Tem um céu cinzento, um céu azul
Uma promessa beijo às madrugadas
No gesto escondido do folho de tule
Da caloira das esperas ensombradas
Coimbra tem tudo isso, e só me resta
Agora saudá-la num gesto de saudade
Dessa que nos segreda no fim da festa:
Tudo perdido… mas ficou a liberdade.
O que recordo
de te lembrar?,
Se o que recordo é uma nuvem
desigual:
a reconstrução dos teus pedaços
no magma dos meus desejos;
mistura de pouca ternura
e de tantos medos...
e. u. m., P.I.
Sequer nas sombras
se não forem a mesma coisa;
um qualquer pedaço de pavor
que se dilata no espaço.
Tal como um olhar
demasiadamente perdido no horizonte
sem te encontrar,
sem te cruzar...
Sequer nas sombras.
e. u. m., P. I.
quinta-feira, 3 de julho de 2008
quarta-feira, 2 de julho de 2008
Ambos no original
Para quem gosta de cinema e está interessado em aprender algumas coisas fundamentais sobre filosofia, este ensaio é uma introdução profunda mas amena a algumas grandes questões éticas e nele desfilam tanto os filósofos clássicos como outros mais modernos, exemplificando-se a reflexão a partir de grandes filmes clássicos.
Escrito por Juan Antonio Rivera (Madrid, 1958) professor catedrático de filosofia na Universidade de Barcelona, obteve em Espanha o Premio Espasa Ensayo 2005 e foi editado em Portugal nos finais de 2006 pela Tenacitas.
Albert Cossery
Ed. Antígona- 1992 Primeiro livro de Cossery em português, conta a história de Gohar, professor universitário que resolve tornar-se mendigo tomado pelo nojo que sente da Universidade e da vida. Teve duas adaptações para o cinema.
Mandriões no Vale Fértil
Ed. Antígona- 1999 Galal o filho mais velho é tido por todos como o mais sábio porque não trabalha, dedica-se a ficar deitado e só levanta para as refeições. Rafik, o do meio renuncia ao casamento com a mulher que ama temendo que o casamento acabe com a tranquilidade que reina em sua vida. Serag, o mais jovem comete a loucura de procurar trabalho.
A Violência e o Escárnio
Ed. Antígona- 1999 Moradores de uma cidade próxima do Oriente, governada por um tirano, resolve contestar a sua tirania e grosseria levando-o ao ridículo.
A Casa da Morte Certa
Ed. Antígona- 2001 Este é o segundo livro de Cossery e foi publicado pela primeira vez em 1942. Para Cossery a ambição desenfreada por possuir e consumir é a causa de todas as desgraças do mundo.
Uma Conjuntura de Saltimbancos
Ed. Antígona- 2001 Agradáveis histórias de um grupo de jovens que buscam diversão e alegria alheios ao padrão que se espera de todos, em uma cidade onde nada acontece.
Os Homens Esquecidos de Deus
Ed. Antígona- 2002 Primeiro livro de Albert Cossery publicado pela primeira vez 1927, no Cairo. Çoletânea de histórias que falam sobre os temas preferidos do autor ao longo de sua obra, o despojamento, o poder, o ódio ao trabalho, a militância.
Uma Ambição no Deserto
Ed. Antígona- 2002 A fim de chamar a atenção para seu país que vive um momento muito difícil de extrema penúria e miséria, o Xeque Ben kadem, Primeiro Ministro resolve colocar resolve colocar em pratica uma idéia mirabolante de inventar atentados à bomba. Para isso tira da prisão Shaat, um jovem aventureiro preso por comercio ilegal de ouro. Shaat,fabrica as bombas que serão detonadas por Mohi filho do Xegue. A situação foge ao controle do Primeiro Ministro e seu filho é uma das vítimas de um atentado. No meio disso tudo um aristocrata inteligente cético e cheio de preguiça assiste a tudo.
Conversas com Corssery
Ed. Antígona- 2002 Registro de uma conversa de Alberty Corssey com Michel Mitrani, onde ele fala de sua vida, suas ideias e seus amigos ao longo da vida.