Agora vende-se a preço de saldos, porque entrou neles antes de tempo, ou o tempo se esqueceu que a história sempre se renova. Escrito por Reina James (cujos avós também morreram na epidemia), é o primeiro romance histórico sobre a última (então) pandemia na Europa. Escreve-se na capa que "se todos os mortos de gripe espanhola segurassem uma vela, a terra, vista do ar, era uma bola de fogo". Mas não é apenas um romance de desgraça ("- Está um homem azul caído na estrada! A princípio não o percebi, mas comecei a ver uma multidão a juntar-se. Por isso saí e fui espreitar. Quando me viram desviam-se. Acontece muito, onde quer que um corpo esteja: as pessoas vêem-me e afastam-se, recuam. O rapaz seguiu-me por entre a multidão. Apontou para o homem caído, meio atravessado sobre o passeio e a estrada. - Veja, está azul! E estava. lábios e orelhas eram de azul-arroxeado, cor de ameixa. a pele do rosto estava manchada e pálida, mas também tingida de azul, como se tivesse sido açoitado por um trapo azul sujo de tinta. teria uns trinta e cinco anos ou perto disso, estava descalço, sem meias nem sapatos, e também não vi nenhum chapéu, nem na cabeça nem perto dela"), mas de poesia ("O poema afectou-me muito. Encontro-me em bosques profundos/Entre dois crepúsculos/O que quer que eu seja ou possa vir a ser/Escrevam à Luz que existe em mim/Eu sou eu e estes são os meus actos/ Eu sei que os caminhos são escuros/ Entre os dois crepúsculos") e de paixão: Henry, um cangalheiro que repara no aumento diário dos seus clientes, é um homem sem mulher, dominado por mulheres e Allen uma mulher sem homem, num mundo de homens. nenhum deles está habituado a apaixonar-se. "Epidemia é um retrato do quotidiano durante uma pandemia - uma gripe para a qual a ciência não tinha resposta. é o retrato absorvente de uma época em que o medo de morrer e o desejo de acreditar na vida se misturam".
Afinal, está tudo na literatura!
nnnnnnnnnn
Epidemia, Um tempo para viver, Reina James, Dom Quixote, 2007
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