2.
Disse-lhe:
o amor eram
palavras substituídas pelo olhar
Depois
escondeu nos bolsos
quer as mãos quer os gestos
E ela agradeceu
quarta-feira, 30 de junho de 2010
Silêncios
5.
Pela liberdade
pelo sentido
cada mão
bateu a palma
p´ra seu lado
6.
E o grito, fundo
só dilacerou o fundo
do dentro
Pela liberdade
pelo sentido
cada mão
bateu a palma
p´ra seu lado
6.
E o grito, fundo
só dilacerou o fundo
do dentro
domingo, 27 de junho de 2010
Venus Victrix, 9.
Um sulco, um só sulco, um latejar,
um lenço de caruma sobre a areia,
um fermentar interno, uma colmeia,
um deslizar de âncora no fundo.
..........................................................
..........................................................
..........................................................
..........................................................
Do Espelho de Vénus de Tiago Vieira
Mário Cláudio
Prefácio de José Carlos Seabra Pereira
Desenhos de Júlio Resende
Arcádia, Babel, 2010
um lenço de caruma sobre a areia,
um fermentar interno, uma colmeia,
um deslizar de âncora no fundo.
..........................................................
..........................................................
..........................................................
..........................................................
Do Espelho de Vénus de Tiago Vieira
Mário Cláudio
Prefácio de José Carlos Seabra Pereira
Desenhos de Júlio Resende
Arcádia, Babel, 2010
segunda-feira, 21 de junho de 2010
Enfermidades do corpo
Alguns fins de tarde são absurdamente estranhos. Especialmente os fins de tarde do início do Inverno.
- As mulheres são como os copos.
- Como os copos?
- Sim, como as bebidas alcoólicas…
- Não percebo o que queres dizer.
- Vê bem; ambos se tomados com moderação aliviam o corpo e o espírito de agruras diversas e têm diversos efeitos positivos. Mas, se tomados de forma excessiva, durante largos períodos de tempo, para além de provocarem uma dependência forte, amolecem a alma e a vontade e provocam enfermidades do corpo.
domingo, 20 de junho de 2010
A propósito da
O eléctrico já chegou e partiu, Ricardo Reis vai sentado nele, sozinho no banco, pagou o seu bilhete de setenta e cinco centavos, com o tempo aprenderá a dizer, Um de sete e meio, e volta a ler a funérea despedida, não pode convencer-se de que seja Fernando Pessoa o destinatário dela, em verdade morto, se considerarmos a unanimidade das notícias, mas por causa das anfibologias gramaticais e léxicas que ele abominaria, tão mal o conheciam para assim lhe falarem ou falarem dele, aproveitando-se da morte, estava de pés e mãos atados, atentemos naquele lírio branco e desfolhado, como rapariga morta de febre tifóide, naquele adjectivo gentil, meu Deus, que lembrança tão bacoca, com perdão da vulgar palavra, quando tinha o orador ali mesmo a morte substantiva que todo o mais deveria dispensar, em especial o resto, tudo tão pouco, e como gentil significa nobre, cavalheiro, garboso, elegante, agradável, cortês, é o que diz o dicionário, lugar de dizer, então a morte será dita nobre, ou cavalheira, ou garbosa, ou elegante, ou agradável, ou cortês, qual destas terá sido a dele, se no leito cristão do Hospital de S. Luís lhe foi permitido escolher, praza aos deuses que tenha sido agradável, com uma morte que o fosse, só se perderia a vida.
O Ano da Morte de Ricardo Reis, SARAMAGO
Europa acidental
Europa acidental.
Europa acidental
Aqui nem mal nem bem.
Aqui nem bem nem mal.
Aqui se alguém não é ninguém
é porque a gente nasce
de um modo ocidental:
Vivem uns bem e outros mal.
E afinal
é natural
(naturalmente)
que haja também
gente que é gente de bem
e gente que é apenas gente.
Europa acidental.
Europa acidental.
(...)
Joaquim Pessoa, Português Suave
Europa acidental
Aqui nem mal nem bem.
Aqui nem bem nem mal.
Aqui se alguém não é ninguém
é porque a gente nasce
de um modo ocidental:
Vivem uns bem e outros mal.
E afinal
é natural
(naturalmente)
que haja também
gente que é gente de bem
e gente que é apenas gente.
Europa acidental.
Europa acidental.
(...)
Joaquim Pessoa, Português Suave
sábado, 19 de junho de 2010
Aos escritores que (só) já não escrevem
O silêncio é ausência de ruído;
ausência de uma música ou de um beijo.
Não há silêncios iguais.
O que escreve a liberdade do
silêncio dos que que já não escrevem?
De uma Nobel mais recente
A felicidade é uma coisa repentina.
(...)
A felicidade da boca quer estar só, é muda e com raízes por dentro. Mas a felicidade da cabeça é sociável, exige a presença dos outros. É uma felicidade que vagueia errante e também corre atrás, coxeando. Dura mais do que aquilo que consegue aguentar. A felicidade da cabeça é fragmentada e de difícil selecção, mitura-se a seu bel-prazer e transforma-se rapidamente de
felicidade clara
em felicidade
escura
apagada
cega
frustrada
clandestina
volúvel
hesitante
impetuosa
impositiva
tremida
desmoronada
renunciada
acumulada
conspirada
burlada
gasta
esboroada
confusa
emboscada
espinhosa
podre
reincidente
atrevida
roubada
desperdiçada
residual
falhada por um fio
Herta Muller, Atemschaukel
Tudo o que eu tenho trago comigo, D. Quixote
sexta-feira, 18 de junho de 2010
sábado, 12 de junho de 2010
A TI
Yo vi una ave
que suave
sus cantares
a la orilla de los mares
entonó,
y voló...
Y a los lejos
los reflejos
de la luna en alta cumbre
que argentando las espumas,
bañaba de lus sus plumas
de tisú...
Y eras...tú!
Y vi un alma
que sin calma
sus amores
cantaba en sus tristes rumores,
y su ser
conmover
a las rocas parecía;
miró la azul lejanía,
tendió su vista anhelante,
suspiró,
y cantando, pobre amante,
prosiguió...
Y era... yo!
Rubén Darío, Nicarágua (1867-1938)
Poemas da adolescencia
O Mar na Poesia da América Latina, Assírio & Alvim
que suave
sus cantares
a la orilla de los mares
entonó,
y voló...
Y a los lejos
los reflejos
de la luna en alta cumbre
que argentando las espumas,
bañaba de lus sus plumas
de tisú...
Y eras...tú!
Y vi un alma
que sin calma
sus amores
cantaba en sus tristes rumores,
y su ser
conmover
a las rocas parecía;
miró la azul lejanía,
tendió su vista anhelante,
suspiró,
y cantando, pobre amante,
prosiguió...
Y era... yo!
Rubén Darío, Nicarágua (1867-1938)
Poemas da adolescencia
O Mar na Poesia da América Latina, Assírio & Alvim
sexta-feira, 11 de junho de 2010
Sobre o Flirt
Adam Phillips é um psicanalista, conferencista e ensaísta. Dizem que vê na psicanálise uma espécie de poesia prática ("uma linguagem com afinidades com outras linguagens literárias, uma disciplina que instiga as pessoas a celebrarem-se"). O livro são dezanove artigos sobre contingência, memória e esquecimento, culpa, perversão, sucesso ou depressão; sobre figuras emblemáticas como Freud, Erich Fromm, Melanie Klein; sobre livros e também escritores, como O Património de Philip Roth, onde analisa a cena de vergonha entre pai e filho, quando aquele, enfermo e doente, passa por uma triste revolta do corpo que suja tudo: "Enquanto relato da morte do pai, Patrimony é o primeiro dos livros de Roth que o seu pai jamais leria. Roth é o menos sentimental, e, portanto, o menos cínico dos escritores, e Patrimony é notável, entre outras coisas, pela complexidade da afeição que ele sente pelo pai. Naquele momento do livro, ele esforça-se por mostrar ao pai, e agora não apenas ao pai, que não é apenas o facto da sua incontinência que é humilhante: é tentar viver neste mundo tão continente".
E sobre a contingência: "Dada a óbvia contingência de grande parte das nossas vidas - não escolhemos, em nenhum sentido significativo, o nosso nascimento, os nossos pais, os nossos corpos, a nossa língua, a nossa cultura, os nossos pensamentos, os nossos sonhos, os nossos desejos, a nossa morte, e assim por diante -, poderia valer a pena considerar., de um ponto de vista psicanalítico, não só as relações que temos com nós mesmos e as nossas relações com objectos, mas também (como o terceiro elemento do par, por assim dizer) a nossa relação com os acidentes. A psicanálise, afinal, começou com Freud a estabelecer nexos entre vida pulsional e o "acidente" do trauma, com notáveis descrições de vidas sendo vividas com desejos não escolhidos em famílias não escolhidas e guerras não escolhidas."
quinta-feira, 10 de junho de 2010
E mais um 10 que passa, neste dorido canto...
Ficareis oferecida
À Fama, que sempre vela,
Frauta de mim tão querida;
Porque, mudando-se a vida,
Se mudam os gostos dela.
Acha a tenra mocidade
Prazeres acomodados,
E logo a maior idade
Já sente por pouquidade
Aqueles gostos passados.
Um gosto que hoje se alcança
Amanhã já o não vejo;
Assim nos traz a mudança
De esperança em esperança,
E de desejo em desejo.
Mas em vida tão escassa
Que esperança será forte?
Fraqueza da humana sorte,
que quanto da vida passa
Está receitando a morte!
CAMÕES (Babel e Sião)
À Fama, que sempre vela,
Frauta de mim tão querida;
Porque, mudando-se a vida,
Se mudam os gostos dela.
Acha a tenra mocidade
Prazeres acomodados,
E logo a maior idade
Já sente por pouquidade
Aqueles gostos passados.
Um gosto que hoje se alcança
Amanhã já o não vejo;
Assim nos traz a mudança
De esperança em esperança,
E de desejo em desejo.
Mas em vida tão escassa
Que esperança será forte?
Fraqueza da humana sorte,
que quanto da vida passa
Está receitando a morte!
CAMÕES (Babel e Sião)
terça-feira, 8 de junho de 2010
sábado, 5 de junho de 2010
sexta-feira, 4 de junho de 2010
quinta-feira, 3 de junho de 2010
terça-feira, 1 de junho de 2010
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