Era verão, havia o muro. Na praça, a única evidência eram os pombos, o ardor da cal. De repente o silêncio sacudiu as crinas, correu para o mar. Pensei: devíamos morrer assim. Assim: explodir no ar.
A fotografia talvez não seja má, passe o elogio. No entanto, o que é mesmo maravilhosa é a Vila de Nordeste, virada directamente ao nascer de cada dia, fantástica.
"acorda com as mãos em concha a defender a sombra onde fez casa e permanece sentado. os dias passam na sua claridade e ele, imóvel, doente de palavras, não as suporta, não servem para nada. imóvel, não quer mais sentir-se ferido, ameaçado. dorme e acorda dessa inactividade. espera. e expectante crê que um dia a luz há-de encher o quarto. não se consegue levantar, não consegue senão a consciência desse instante vago, olhos fixos no soalho ou rente às paredes da casa, atento às sombras a quem, horror, sorri. assim o encontram dias mais tarde. como se estivesse a rezar. ele, cuja metafísica era saber que as palavras não são suficientes para nos tornar mais tristes".
8 comentários:
A última fronteira?
"Aceita o universo
Como to deram os deuses.
Se os deuses te quisessem dar outro
Ter-to-iam dado.
Se há outras matérias e outros mundos -
Haja"
Alberto Caeiro, Poesia
"Queria de ti um pa´s de bondade e de bruma
queria de ti o mar de uma rosa de espuma"...
M. Cesariny, Manual de Prestidigitação.
Era verão, havia o muro.
Na praça, a única evidência
eram os pombos, o ardor
da cal. De repente
o silêncio sacudiu as crinas,
correu para o mar.
Pensei: devíamos morrer assim.
Assim: explodir no ar.
PROCURA DA POESIA
Não faças versos sobre acontecimentos.
Não há criação nem morte perante a poesia.
Diante dela, a vida é um sol estático,
Não aquece nem ilumina.
Carlos Drummond de Andrade
A fotografia talvez não seja má, passe o elogio. No entanto, o que é mesmo maravilhosa é a Vila de Nordeste, virada directamente ao nascer de cada dia, fantástica.
FELICIDADE
"acorda com as mãos em concha
a defender a sombra onde fez casa
e permanece sentado. os dias passam
na sua claridade e ele, imóvel,
doente de palavras, não as suporta, não servem para nada. imóvel,
não quer mais sentir-se ferido,
ameaçado. dorme e acorda
dessa inactividade. espera.
e expectante crê que um dia
a luz há-de encher o quarto.
não se consegue levantar, não
consegue senão a consciência
desse instante vago, olhos fixos
no soalho ou rente às paredes
da casa, atento às sombras a quem,
horror, sorri. assim o encontram
dias mais tarde. como se estivesse
a rezar. ele, cuja metafísica
era saber que as palavras não são
suficientes para nos tornar mais tristes".
Carlos Bessa, Em partes iguais.
E tu Nordeste, será que vão dizer não seres que és;
Ficaria a teus pés,
castigado pela ousadia
porque em tanto dia
me mostraste o rumo.
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