quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

sou. não sou?

meu castigo é branquear os rios
de vermelho sangue turvos
de dar voz aos surdos
de dar ouvido aos mudos
escravo de impróprios desafios

sou de resto o que resta da perdição
do mundo, o nem presta é
a sobra de uma canção
por trautear. nem sei se sou
espelho da vista do rosto
luz fugidia, sol-posto
amarelo de criança em balão
cinzento d'esperança. tufão
que arrase o mundo velho
em noite de sol intenso. calor profundo.

não penso. não sou. não vou.
fico encostado ao infinito
e no silêncio do grito
não falo, não calo:
devolvo o último som do medo.

nem sei se parto. só
estou farto
que m' iluminem a revolta.

anda ainda alguém à solta?

(e.u.m.)

5 comentários:

Anónimo disse...

è apenas para vestir de palavras a foto de biaxo?

AugustoMaio disse...

gosto imenso da foto; mesmo assim, nua.

Mar Revolto disse...

Após análise, concluo que nem as pedras da calçada é capaz de fazer chorar! Que triste sina a sua!
Será que o seu cinzento de esperança anuncia piores dias!?

eu mesmo disse...

Noto uma certa censura, ou então, mais magnânime, talvez apenas uma cautela médica, o anúncio de uma necessidade de tratamento. Bem-haja.
De todo o modo, nenhuma poesia é espelho, é só mesmo, mormente no caso, um poema: bom ou mau por si mesmo e não pela mão - emprestada - que o escreve.

Petra Maré disse...

Todos estamos presos a alguma coisa. Talvez, não os loucos.
Gostei do poema.
Ao Mar Revolto recomendo a história do Bambi. Há lá uma fala da mãe para o coelhindo Tambor que lhe vem a calhar...