Desde a infância que o teu olhar era em mim um glaciar desconcertante de luz.
E quando te vi pela primeira vez, trinta anos depois, quis recuperar por inteiro todas as memorias sonhadas por defeito.
Deslizaria nos teus lábios mais que dedos em marfim,
e no teu peito via nuvens de cristal onde antes só pensara Sol.
Juntei a eternidade no exíguo espaço por onde mãos tímidas aveludavam os fios de seara dos teus cabelos.
E quando voltei a respirar o mundo derrubou-se no meu gesto.
3 comentários:
Este é difícil...tentei compreender as emoções que estão nos dois últimos parágrfos e não consegui.
Mas é bonito.
Podia ser assim (!): a história de uma imagem sonhada, que, muitos anos depois, parece realidade, mas esta, no momento de ver, é ainda "maior" que o sonho. Nesse instante mágico, o tempo perde sentido e a eternidade pode ser um gesto, um nada, o espaço - sem espaço - entre os cabelos louros. Mas é "preciso" voltar a respirar o mundo, talvez voltar à realidade, e derruba-se o gesto (a eternidade - a luz do momento - desfalece).
Não faz sentido escrever um poema e interpretá-lo. Por isso peço desculpa por esta ousadia. Talvez não seja nada assim...
Obrigada. Não tem que pedir desculpa - partilha não é nem pode nunca ser ousadia.
A. de cima
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